Tudo isso não indica outra coisa senão que: a vontade de construir superou a vontade de expressar, ou de se expressar. O poema, impessoal, passa a ter deliberada função coletiva, pois que o canto é que faz cantar, como diz Fernando Pessoa, e não apenas a vontade catártica de cantar ou de se expressar através do canto, o que já é interpretação. Um operário que trabalha uma peça ao torno não escreve nela o seu nome ou a sua revolta. A lucidez racional da máquina lhe ensina a perceber a irracionalidade básica das relações de produção capitalistas: constrói edifícios com vidro rayban e sabe que nunca irá morar neles; constrói super luxuosos aviões e sabe que nunca poderá voar neles. E sabe também que só poderá acabar com as injustiças sociais através de ideias e ações claras e conjugadas.
Décio Pignatari, 1959.
Nenhum comentário:
Postar um comentário