quarta-feira, 26 de setembro de 2012

ARTE PARA " VIRAR A MESA "



...há no ar, respira-se a repressão cultural neste país: quem
pretender criar uma cultura de exportação no dizer de Haroldo de
Campos, única maneira de engolir, deglutir o que nos é bombardeado de
fora e devolver em criação válida como coisas nossas, neutralizando
assim o colonialismo cultural a que nos querem permanentemente
submeter , está fadado a ser negado, seja pela indiferença, seja pela
sabotagem mais suja, seja pela reação violenta, vestida esta de
direita, a lá Corção, ou de certo tipo de esquerda(ortodoxa ou
equivocada?), que se acaba identificando também com essa direita em
determinado tipo de ação, principalmente na cultural(...) Quero chamar
de pensamento de vanguarda, não o que busca a inovação pela inovação,
na gratuidade criativa, na redundância do artista sobre si mesmo, mas
no que procura realmente virar a mesa com o que nela está posto, e
aqui, já se vê, terá que se dar de modo violento, pela condição tão
intelectualmente pobre em que nos encontramos, pela indiferença geral,
pelo conformismo intelectual, pela gratuidade nas posições, pela
conhecida falta de caráter dominante da nossa estrutura social.
(...) A partir do Concretismo e do Neoconcretismo, não " ismos "
limitados no tempo e no espaço, mas verdadeiras fontes de um novo modo
de " ver" e "sentir"
entre nós, é que as coisas foram retomadas em larga escala(...) a
criação de novas estruturas, proporcionaram o terreno para uma posição
crítica universal, profundamente revolucionária, ao campo das artes,
do conhecimento, do comportamento. Hoje podemos dizer que essa questão
de " cultura de exportação " é uma realidade revolucionária , talvez a
mais de todas; é a consciência de que a cultura e seus produtos, por
um método crítico-criativo poderá desmistificar toda tentativa de
colonialismo cultural universalista, inegavelmente um instrumento de
repressão: no mundo de hoje isto é estruturalmente impossível: há
necessidade da antropofagia e o tal ato de " virar a mesa " nada mais
é do que a própria criação, por impulso, isolados ou em grupo, dessa
cultura (...)



Hélio Oiticica, 1968

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

DO TEXTO " O SURREALISMO E A PINTURA "



O olho existe em estado selvagem. As maravilhas da terra a trinta
metros de altura, as maravilhas do mar a trinta metros de profundidade
têm apenas por testemunho o olho indomesticável que, quanto ás cores,
conduz ao arco-íris. O olho que preside ás trocas convencionais dos
sinais que exige, parece, a navegação do espírito. Mas, quem tabulará
a escala da visão? Há o que já vi inúmeras vezes, e o que os outros
disseram igualmente ver , aquilo que creio poder reconhecer, tanto faz
que me importe ou não, por exemplo, a fachada da Ópera de Paris ou bem
um cavalo, ou mesmo o horizonte; há o que só vi muito raramente e nem
sempre o escolhi esquecer, ou não o esquecer, conforme o caso; há o
que lindo ao ver nunca ouso olhar, que é tudo que amo(além do que em
sua presença não vejo mais o resto); há o que os outros viram, dizem
ter visto, e que por sugestionamento conseguem ou não me fazer ver; há
também o que vejo diferentemente do que os outros vêem, e ainda o que
começo a ver que não é visível. E não é tudo(...)Desta maneira me é
impossível considerar um quadro de outro modo que como sendo uma
janela, na qual, meu primeiro cuidado é saber sobre o que ela dá, ou,
dito de outra forma, se, donde estou, " a vista é linda " pois, o que
mais amo é o que se estende diante de mim a perder de vista.


André Breton, 1928.

O Suprematismo



Malevich, 1915.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

A UTILIZAÇÃO SUBVERSIVA DA CULTURA



É impossível existir uma pintura ou uma música situacionista. O que
pode ocorrer é uma utilização situacionista destes meios. Numa acepção
mais básica, o detournement no interior das antigas esferas culturais
constitui um método de propaganda, testemunhando o desgaste e a perda
de importância destas esferas.


Documento da Internacional Situacionista, 1962