terça-feira, 30 de setembro de 2014

O que considerar na política cultural de esquerda:

O microscópico incentivo destinado para a produção cultural no Brasil, não envolve apenas um problema de gastos mas de prioridade política. Evidentemente que num país aonde problemas estruturais e dramas sociais tornam-se de fato as maiores prioridades, a cultura surge na pauta dos partidos enquanto uma questão longínqua, digna de fim da fila. Porém, a produção cultural compreende esforços criativos que são prioritários para avançarmos na direção política do socialismo. Como perceber na política cultural dos partidos de esquerda, as propostas que de fato enxergam longe na criação de uma cultura que não seja produto de alienação mas do fortalecimento da consciência da classe trabalhadora? 
 A diversidade cultural brasileira desenhada por disparidades regionais, revela diferentes necessidades para contextos específicos. Uma política cultural de esquerda não pode homogeneizar a cultura mas considerar sua pluralidade expressa nos mais diferenciados universos sociais. Mas, ao mesmo tempo, seria um equívoco político descartar que em meio a toda esta diversidade existe o crivo de classe, ou seja determinadas manifestações artísticas expressam não apenas universos culturais mas perspectivas de classe. Uma política cultural de esquerda não deve se confundir com as propostas da direita: a cultura não se limita a um conjunto de atividades em que pensa-se somente no retorno econômico. Se junto ao incentivo estatal também existe o incentivo privado(o qual expressa o poder de mando dos capitalistas), ao mesmo tempo existe nos partidos de esquerda uma concepção ideológica sobre a produção cultural. 
 Do ponto de vista da esquerda trata-se de garantir infraestrutura para manifestações que contribuam para a educação e a instrução popular. Trata-se assim de priorizar projetos que podem contribuir de fato para elevarmos a consciência de classe. Dentro do audiovisual, da música, do teatro e de tantas outras áreas que tendem cada vez mais a se misturarem na elaboração de sínteses artísticas, devem ser priorizados aqueles projetos artísticos que possuem algo a dizer para o povo brasileiro.

                                                                                       
                                                                                         Geraldo Vermelhão   

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Reuniões para ouvir música:

Se as reuniões políticas ocupam boa parte da vida do militante político de esquerda, outras reuniões menos pragmáticas, também são necessárias. As organizações de esquerda sensíveis ao debate cultural, reconhecem a necessidade de nos encontrarmos, dentre outras coisas, para ouvir música. Este ato prazeroso, presente na vida da juventude, está longe de ser algo apolítico ou mesmo gratuito. São contextos em que a sensibilidade aflorada pelas melodias solidificam a ideologia socialista.
  O período de eleições é uma correria total para militantes; pautas, debates, organização do material de agitação e propaganda, etc. Nos intervalos destas atividades, recomendo que se ouça boa música, especialmente aquela que expressa a revolta, o improviso sonoro e estimula discussões das mais variadas naturezas: estética, sexo, luta de classes, racismo, drogas, aborto, etc. 
 Reuniões musicais possibilitam recuperar uma dimensão cultural que vem sendo prejudicado pelo individualismo.Com a maioria das pessoas isoladas em seus fones de ouvido, ouvindo " suas próprias músicas ", o caráter do encontro e do bate papo vem sendo desvinculado da experiência musical. Mesmo em shows, a cultura reacionária de classe média dita a indiferença diante do outro, do cara que está do seu lado durante a apresentação de músicos. Reuniões musicais, que podem ocorrer em bares, apartamentos, casas e ao ar livre, enriquecem nossa subjetividade e contribuem para refletirmos sobre as relações progressistas entre música e política. Rock, jazz, samba, rap... Enfim, chega aí e vamos sentir a música!

                                                                                           Tupinik 

domingo, 28 de setembro de 2014

As relações libertárias entre Arte e Marxismo:

As relações entre arte e marxismo, precisam sair do lugar comum. Com isto quero dizer que a participação da criação artística, no processo de luta contra a sociedade capitalista, não é tão óbvia como muitos militantes supõem. Sem dúvida que perante as relações sociais estabelecidas, a arte possui uma função política, de contestação da ordem. No entanto, este papel político da arte só pode ser pensado a partir do campo estético: é pela lógica específica da arte, enquanto produto de uma necessidade interior, que ela responde politicamente contra o mundo regido pelo capital. Esta constatação que pressupõe o artista militante e o espaço para o debate estético nas organizações de esquerda,  geralmente é desprezada(quando não reprimida) diante do imediatismo, do mecanicismo e de generalizações ideologizantes. 
 É inevitável que o tratamento da arte segundo a ótica marxista, não deixe de repousar sobre o mesmo horizonte teórico de onde nasce a análise das outras esferas da vida social : o fenômeno artístico está condicionado pelas relações de produção determinadas pela divisão social do trabalho e pela visão de mundo que as classes sociais apresentam. Posto desta forma, a arte enquanto dimensão da superestrutura, trabalha para o fortalecimento da classe explorada e contribui para a luta política que levará ao fim da sociedade de classes. Pois bem, mesmo considerando estas inquestionáveis  premissas históricas, tudo indica que poucos militantes e artistas de esquerda compreendem a maneira particular da arte agir neste processo social. Se a arte não está fora do trabalho social, isto não implica em uma esquematização que leva a um tipo de rigidez que imobiliza a pesquisa artística: o universo da subjetividade e a sua interferência na realidade política, não está reduzido a uma relação mecânica do material com o imaterial. A experiência estética revolucionária não é mera correia de transmissão da ação política do partido revolucionário, mas uma força libertária que opõem-se á cultura da classe dominante. A oposição artística consiste em criar uma outra realidade, que nega pela dinâmica da forma os valores estabelecidos. A arte não se submete a um comando político externo que visa transformar em imagens os problemas sociais combatidos pelos partidos de esquerda. De fato, o que existe é um grande constrangimento intelectual entre aqueles que não compreendem a contribuição política revolucionária daquilo que não trata objetivamente dos fatos econômicos. 
 A maneira como a arte age sobre a realidade pode(e deve) abarcar enquanto assunto as desigualdades sociais; mas não como consequência ideológica imediata e sim enquanto filtro que, pela imaginação, gera as imagens conflitantes. Como frisou Marcuse, estas atuam pelo fortalecimento de uma nova subjetividade, de uma sensibilidade rebelde. Mas não aceitando aqui totalmente o ponto de vista do filósofo alemão(o qual desconsidera o papel histórico do proletariado), esta nova sensibilidade é construida por movimentos artísticos contestadores identificados com os interesses históricos da classe trabalhadora. Entretanto, a militância artística atua, como defendiam Trotski e Breton, de forma independente perante as organizações políticas de esquerda. Trata-se assim de um amplo movimento complementar entre política partidária, movimentos sociais e movimentos artísticos: todos estes ocupam espaços que reivindicam, em suas dinâmicas particulares, o fim do capitalismo. Atentos aqui à dinâmica plural dos movimentos artísticos, estes desafiam a moral e o gosto da classe dominante. Neste sentido a forma artística participa de um todo que nega ou entra em choque com a realidade dada. É a imaginação criadora que gera as obras de arte que não se reconciliam com o modo de produção capitalista. Esteticamente isto contempla um grande leque de manifestações e tendências que perfilam pela História contemporânea: de Diego Rivera a Bansky, de Frida Kahlo aos grafiteiros mais oníricos da atualidade. É a militância socialista que poderá impedir que a obra destes e de outros artistas seja neutralizada pela voracidade do capitalismo. 
  Ativando as forças da rebelião num campo em que eleições presidenciais ou disputas sindicais não ocupam, a arte consciente da sua missão histórica, atua paralelamente pela emancipação humana. É sob esta evidência que devemos mobilizar os jovens artistas e não reprimir, adiar ou subordinar sua criatividade ao dogmatismo que empobrece o pensamento marxista.


                                                                                  Afonso Machado


sexta-feira, 26 de setembro de 2014

A busca por um pensamento cinematográfico:

Tratado como batata ou cebola, o filme é um objeto produzido para o mercado, sem que se considere suas reais implicações políticas. Estas, partes integrantes da realidade nacional, estão descartadas quando o cinema é subordinado á mesquinhez comercial. No máximo valorizam-se aspectos estilísticos de determinados  cineastas, geralmente portadores de " qualidades " artísticas particulares quanto á fotografia, o tema, á direção de atores, o ritmo de montagem, etc. Isto é pouco: o cinema como afirmou Glauber " é a expressão mais radical da política ", sendo o seu papel insubstituível para se pensar os problemas e os desafios do Brasil.
  Devemos superar a divisão cinematográfica que tanto agrada ao sistema: comercial versus obra de arte. Não se trata de opor blockbuster ao filme cult, já que ambos alimentam economicamente o capitalismo(sem contar que muitos críticos, carentes de qualquer critério ideológico ou minimamente ético,  transformam o blockbuster de ontem no cult de hoje...). O que precisamos no atual estágio de desenvolvimento do cinema brasileiro, é de um pensamento cinematográfico capaz de aglutinar entre autores um projeto de transformação cultural/política. Alex Viany, Nelson Pereira dos Santos, Glauber Rocha... Estes nomes são para a História do cinema brasileiro antecedentes que contribuem efetivamente para um programa estético, fundado sobre a necessidade de uma cinematografia mais combativa e menos evasiva. O que carecemos hoje é de um autentico pensamento cinematográfico.


                                                                                         Geraldo Vermelhão

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Teatro Dialético contra o ilusionismo eleitoreiro:

Diante de uma propaganda partidária o que menos conta é o distanciamento crítico. Nas propagandas, pausa,  reflexão e entendimento são aspectos reprimidos por um ilusionismo que separa ética de estética. Pois bem, em tempo de eleições é preciso cercarmo-nos de métodos artísticos que forneçam pelo anti-ilusionismo, a crítica dos procedimentos de manipulação política. O legado teatral de Brecht está aí pra isso.
 Na estética de Bertolt Brecht, o importante é romper com os aspectos aristotélicos do teatro. Entretanto, as lições desta dramaturgia, cada vez mais contundente numa sociedade pautada por relações alienadas, não envolvem apenas uma concepção teatral diante de muitas outras. Trata-se de um compromisso ideológico progressista que parte do teatro para uma análise dos aspectos essenciais da vida social. Em Brecht o palco é uma tribuna e não um show de efeitos visuais apelativos que levam ao irracionalismo. Diferentemente de certas manifestações teatrais irracionais, cujo resultado é o mais completo e improdutivo histerismo intelectual, Brecht faz da arte um ensinamento que ajuda os homens a compreenderem o funcionamento do mundo em que eles estão situados.
 A crítica de Brecht, que resulta no teatro dialético, está longe de ser maleta: o prazer, expresso no riso e no canto, é valorizado pela inserção do gosto popular num movimento dialético entre situações que colocam a cabeça do espectador para funcionar. Ora, isto é o oposto das propagandas políticas partidárias e de todo arsenal da cultura de massa que geralmente impedem a análise e a reflexão sobre o que está sendo representado. A contribuição da arte, em especial do teatro, para o debate político passa necessariamente pelo avanço estético representado por Brecht. Se os despolitizados  de sempre e os patéticos reacionários vivem tentando inutilmente dizer que " Brecht é ultrapassado ", é porque o autor alemão ainda responde com envergadura aos problemas essenciais do teatro e da vida política.


                                                                                        José Ferroso

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

A dimensão literária:

É compreensível que o militante de esquerda cerque-se de uma metodologia científica, tal como o marxismo oferece, para interpretar a realidade política. Tudo isto é muito útil para a orientação da prática militante e da reflexão teórica. Mas a ficção teria algo a dizer para este militante? Sendo a ficção, especificamente em sua dimensão literária, um campo de invenção, seria ela inimiga da reflexão "objetiva" sobre os fatos históricos? Suponha-se que o militante aprecie a literatura enquanto trampolim para o exame das realidades sociais, então a criação literária seria mero atalho, ou percurso invertido, para o que as ciências humanas já fazem?
 A literatura não é muleta mas uma área em que o problema político surge de maneira distinta a da ciência. A prosa ou o poema criam uma dimensão que tende a se chocar com a própria realidade, ainda que a intenção do escritor seja a mais realista possível. O objeto literário não é a realidade, mas a representação dela. Esta condição traz um poder de intervenção sobre o real, no qual a sensibilidade do leitor é modificada pelo contraste entre o real e a ficção. Ou seja, a literatura não é uma desculpa estilística para batermos papo sobre política. A literatura é um gesto político no qual o escritor dirige-se a um leitor educado em uma determinada sociedade. Se este escritor possui consciência de classe ou se exprime pela ficção um protesto contra as determinações de um dado modo de produção, então estamos falando de um revolucionário.


                                                                                   Lúcia Gravas 

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Ditadura e rumos da cultura engajada:

Haveria ligações entre a atual geração de militantes que fazem das câmeras digitais e das redes sociais, armas para difundir uma cultura de contestação, com os dilemas estéticos e políticos dos tempos da ditadura militar? Refletir sobre as consequências culturais trazidas pelo golpe de 64, é um esforço permanente. Exemplo disso seria o debate ocorrido dias atrás na USP intitulado " o golpe de 1964 e a cultura brasileira ". O evento que contou com importantes intérpretes marxistas da cultura como Roberto Shwarz e Alfredo Bosi, levantou lembranças e discussões sobre as relações entre a produção cultural brasileira e a  repressão militar.
 Das preocupações pedagógicas da arte popular e didática do pré golpe, passando pelas crises estéticas que culminariam no tropicalismo no final dos anos sessenta, existe um complexo legado que se datado em vários sentidos, ainda é referência(sobretudo estética) para os artistas e militantes de hoje. Mas num mundo em que uma multiplicidade de discursos, inclusive aqueles de ordem conservadora, procuram embaralhar o papel político a ser desempenhado pelos intelectuais e pelos artistas, como pensar na continuidade de uma crítica cultural que responda aos grandes impasses políticos e sociais dos nossos dias? A juventude contestadora de hoje precisa encaminhar-se para a compreensão do processo político na História contemporânea do Brasil, inclusive no âmbito cultural. Tomar consciência deste processo significa reatar com as lacunas do passado. Isto evita tanto a amnésia cultural quanto a tietagem diante dos artistas consagrados daquela época. O objetivo destas reflexões históricas visa articular as lutas políticas de hoje com uma nova crítica cultural de esquerda.

                                                                                                   Lenito 

domingo, 21 de setembro de 2014

Música: nacionalismo e internacionalismo

Uma falsa dicotomia condicionou a crítica musical de viés marxista no Brasil. A valorização das raízes de nossa música popular, culminaria em uma compreensão nacionalista dos fenômenos culturais; o que por sua vez estabelece uma suposta associação com o pensamento de esquerda. Do outro lado existiria " o estrangeiro ", a música importada que representaria necessariamente o gosto e os valores imperialistas, em em especial norte americanos. Difundir e analisar a música brasileira na perspectiva do marxismo, representa um ganho formidável na compreensão da cultura enquanto dimensão construida na sociedade de classes. Mas seria o marxismo sinonimo de nacionalismo nas artes? O materialismo dialético não guarda nenhuma relação com o nacionalismo: este é antes uma compreensão burguesa da política e da cultura, fundada sob o mito do Estado Nação durante o século XIX. Opondo-se a isso, a metodologia marxista ao observar o conjunto dos fenômenos sociais, baseia-se no internacionalismo: é o movimento combinado entre as esferas nacional e  internacional que possibilita a ação política revolucionária. Esta ação agrega um juízo e uma orientação estética que desconhece fronteiras culturais. Quer dizer, valorizar e defender os aspectos progressistas da arte nacional não implica em isolamento diante da música internacional.
 De fato, o imperialismo norte americano sufoca os espaços da música popular brasileira: somos obrigados a ouvir uma grande quantidade de lixo importado. Porém, é ignorância  supor que toda música americana seja necessariamente alienação: a música de protesto, ou simplesmente canções bem feitas(mesmo sem intenções políticas), não são patrimônios exclusivos do Brasil. Para que a crítica marxista possa se desenvolver é preciso não associa-la necessariamente a um nacionalismo esquerdista, cuja origem está no stalinismo cultural. Valorizar o samba em suas qualidades subversivas, não significa enquadra-lo na flauta zdanovista: aquele romantismo de baixo calão, no qual tudo que emana " do povo " é necessariamente "revolucionário". Se nem todas as manifestações musicais do proletariado rimam com socialismo, em contrapartida nem toda música que surge na classe média seria um produto alienante: a opção política de classe em sua forma artística, não é uma simples peça de encaixe nos limites culturais de uma classe. Samba, forró, bossa nova e rock em suas diferenças estéticas e de origem social, podem associar-se com um projeto revolucionário que ultrapassa o crivo de classe: estes podem ser partes de uma cultura revolucionária que não visa, como diria Trotski, ser expressão de uma classe mas sim de um projeto político que visa acabar com a própria sociedade de classes.  
  A deformação marxista trazida pelo stalinismo, trouxe grandes prejuízos para a cultura e a crítica musical. Tão isto é verdade que o contato de jovens rockeiros com a análise " marxista nacionalista " , os fazem pensar que para o comunismo samba é arte e rock é lixo. Este mal entendido precisa ser definitivamente superado.Seja no campo musical ou político, o marxismo não é nacionalista.  


                                                                                          Tupinik 

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A forma universal:

A percepção do indivíduo massificado pode ser contraposta pelas formas desinteressadas. Enquanto as estéticas publicitárias dão ordens num fascismo invisível e cotidiano, as formas abstratas na pintura, na escultura e nas instalações cumprem enquanto esforços vanguardistas de outrora, uma tentativa de reeducação hoje. 
 Quando as linhas de um desenho forem entendidas enquanto possibilidades rumo ao infinito, a mediocridade capitalista será desafiada. Da tela ao espaço físico, as formas geométricas arrebentam com as fronteiras nacionais numa visão comum, comunista, do homem. Uma arte que pretende contribuir com a transformação política, não pode deixar de levar em conta este ponto de vista. Não é a única perspectiva estética dos artistas socialistas: claro, existem várias outras correntes importantes da arte moderna. Mas quando todos os esforços políticos de esquerda recaem sobre o figurativismo primário, o abstracionismo é no mínimo uma provocação.

                                                                             Os Independentes

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

As letras e as massas:

Muita gente se atropela na hora de estabelecer as relações entre literatura e política. Isto todo mundo sabe...  Mas atropelamento maior encontramos quando militantes sectários tentam colocar na cabeça das massas princípios políticos revolucionários. Aí vale tudo, inclusive negligenciar a própria literatura e prol de panfletinhos chatos de dar dó...
 Penso que perante as eleições é preciso chamar a atenção das massas para a política não de forma apelativa , mas dentro do esclarecimento ideológico. É aí que a literatura entra de sola: poemas, contos e romances são expressões poderosas que não são impositivas. O escritor não diz simplesmente " vote em fulano ". O escritor aciona a imaginação em suas possibilidades libertárias, denunciando pela dimensão sensível da palavra escrita o que existe de sujo e mal lavado na realidade política brasileira. A literatura revolucionária ajuda a fortalecer dentro das massas o que as forças reacionárias impedem: a consciência de classe.


                                                                                   Marta Dinamite

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Intervenção urbana e contestação social:

Nem ateliê, nem museu. A obra de arte se reinventa: sob a intervenção urbana, um grafite, um adesivo ou uma gravura não correm o risco de serem leiloados junto ás pinturas milionárias que movem o mercado de arte. Alguns podem até se submeter a isso, mas as lições da intervenção artística em espaços públicos anunciam uma importante cultura de natureza anticapitalista.
  Dentro das tendências artísticas que caminham para o estranhamento e a crítica social, o importante não é o gênio individual. Embora existam diferenças estilísticas que conferem individualidade a artistas(Bansky, Pejac, Bambi, etc) , o que realmente importa é contrastar(anonimamente ou não) com a estética publicitária que converte todas as expressões humanas em pura alienação. Os trabalhadores recebem estímulos visuais altamente libertários quando se deparam com a arte que toma as cidades de assalto: estranhando, rindo ou até se irritando, passantes podem entregar-se á imaginação criadora. Perante os capitalistas, estas experiências são ameaçadoras: elas arrancam os cadeados do olhar.

                                                                                        Os Independentes

terça-feira, 16 de setembro de 2014

A construção coletiva e a estética do capital:

Á luz dos conflitos entre militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto e a polícia na cidade de São Paulo, levanta-se um antigo problema urbano. Perante o espaço organizado de acordo com a propriedade privada, as contradições humanas enquanto produtos da exclusão social, apontam para a necessidade de uma transformação da vida urbana. As grandes cidades brasileiras precisam não apenas reinventar o espaço, mas distribuir e reestruturar o problema da habitação. Não sou arquiteto, mas mesmo não estando totalmente autorizado para tratar do assunto, percebo que esta é uma questão em que a prioridade humana/social impõem-se  contra a organização capitalista do espaço: esta é uma questão a um só tempo política, estética, econômica e ambiental.
 Para a cidade ser o espaço da harmonia, do encontro, a polis aonde ocorre a participação popular e as trocas culturais, devemos enfrentar os interesses comerciais. A cidade é hoje o espaço da especulação financeira, do poder midiático que através de discursos impositivos prolifera os seus signos. Tais signos fundados na cultura de massa, geram uma espécie de estetização reacionária da vida: mercadorias adquirem novas roupagens através de todo auxílio das modernas técnicas publicitárias. Homens e imagens comerciais se misturam em formas alienantes. Enquanto a miséria aumenta o capital financeiro perpassa a carne e os sentidos de uma população educada para o consumismo. Não é por acaso que a violência urbana e o individualismo propagado pelo sistema, instituem  uma vivência limitada no espaço; ao mesmo tempo a estética da dominação, que oculta os problemas sociais, não consegue conter as contradições que  explodem nas ruas. 
 Os movimentos sociais e as correntes políticas que atuam sobre estes problemas urbanos, não podem a meu ver, descartar a dimensão cultural, especificamente estética, que existe nesta questão: ao reivindicar moradia reivindica-se também a necessidade de uma outra arquitetura, de um espaço público que não expresse a alienação. Dos projetos de Tátlin e outros construtivistas russos até os debates situacionistas da conjuntura de 1968, encontramos importantes reflexões estéticas necessárias para o avanço político da questão. Uma nova cidade nascerá a partir dos esforços culturais e políticos na direção do socialismo.


                                                                                             Lenito 
 


segunda-feira, 15 de setembro de 2014

O cinema que não é parque de diversões:

Não restam dúvidas de que a linguagem cinematográfica só pode salvar-se no Brasil de hoje, através de uma reordenação do audiovisual e de suas correspondências literárias e teatrais. Portanto as soluções visuais não estão no cinema pasteurizado de brasileiros que olham o país com os óculos do imperialismo: nada de zumbis que metaforizam um modo de produção que apodrece, nem de super heróis tão velhos quanto os cowboys ou então a conversão dos imperativos do cinema numa extensão dos direitos do consumidor. A TV também não pode ajudar com mais de 90% do lixo da indústria cultural norte americana sufocando os costumes de uma terra que já possui maioridade cultural.
 No lugar  dos figurões da História, dos heróis " eleitos " para proteger(e dominar), dos profissionais bem sucedidos e das adolescentes apavoradas com monstros e psicopatas,  devemos colocar em prática a pesquisa visual, o improviso e os assuntos tabus. Um cineasta que pode realmente se comunicar com o seu povo, deve compreender as paisagens, a língua e os costumes deste povo. Ele não pode ficar nos altares das instituições badaladas, isolado nos shoppings, mas deve saber entrar no boteco, ouvir uma história e com  criticidade/sensibilidade saber traduzir isto em linguagem cinematográfica.É assim que os elementos visuais, verbais e cênicos podem assumir uma forma que exige a transformação da realidade. Cinema não é janelinha com as estrelas, mas uma janela para a História.

                                                                                                José Ferroso

domingo, 14 de setembro de 2014

O underground enquanto antítese:

A chamada cultura underground que encontra suas formas nos desdobramentos musicais do punk rock e nos princípios políticos de algumas ramificações anarquistas, é uma das características básicas de setores juvenis contrários á ordem capitalista. É comum encontramos nos centros das cidades, especialmente durante a noite, jovens que trajam roupas de coro, cabelos verdes ou com penteados moicanos, máscaras e camisetas que denunciam e hostilizam o fascismo. Se é comum observarmos um tipo de jornalismo cultural reacionário no qual o underground seria encarado apenas enquanto uma passagem para o mainstream, este tipo de argumento é derrubado por bandas e artistas que fazem do underground uma interessante oposição á indústria cultural. No lastro das manifestações de rua do ano passado, esta simbologia underground é uma das coisas mais importantes perante as tentativas de homogeneização da vida cultural e de controle político. Ninguém duvide que esta garotada que se expressa de forma agressiva na dança, no visual e na música  seja opositora sincera da sociedade estabelecida. Porém, devemos refletir(com o intuito de colaborar com estas manifestações artísticas) sobre os seus limites políticos.
  A produção cultural underground funciona enquanto negação da cultura dominante. Seus participantes quando orientados por correntes libertárias, opõem-se com energia contra o racismo, o machismo, a homofobia e a marginalização da juventude periférica.  Qual o espaço cultural ocupado por estes rebeldes? Entre shows de rock, reuniões, protestos e conflitos com fascistas, " os membros " do undergound batalham por cenas independentes. Paralelamente, a cultura consumida e os hábitos da classe trabalhadora brasileira continuam os mesmos. Podemos pensar este problema através de exemplos corriqueiros. Quando rola um show de rock underground, nas proximidades do local encontramos operários num boteco, completamente indiferentes quanto ao barulho dos " garotos "; expressando preocupações e interpretando a realidade de maneira distinta do underground. Seria isto simplesmente um  abismo cultural, fruto da diversidade? Em uma madrugada qualquer, punks e fascistas se enfrentam numa briga de rua. No mesmo horário boa parte do proletariado está dormindo para ser explorado na manhã seguinte. Aonde estaria o problema de tudo isso? Sem dúvida que esta não é uma questão estética: a música e as demais formas de expressão artística do chamado underground, são inquestionavelmente contestadoras; os marxistas deveriam prestar atenção nelas. Mas como ampliar o poder comunicativo destas manifestações? Será que esta é a vontade dos artistas do underground? Até que ponto o underground se conforma em ser apenas o outro lado da moeda? 
 É preciso superar uma mentalidade tribal que impede de olharmos a realidade através do critério de classe, o único que pode viabilizar mudanças políticas e culturais. Não se trata de opor-se apenas aos grupos conservadores, de chocar os papais e as mamães e de se preocupar com grupinhos fascistas(estes por hora, não interessam á burguesia como ocorrera nos anos vinte e trinta). É preciso alavancar as formas de oposição artística e cultural para que elas sejam parte da cultura dos trabalhadores. Não dá para nos contentarmos com a margem concedida pela classe dominante. Não dá para ficar no plano da antítese.


                                                                                                Tupinik 

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

PT: estética e luta de classes

No quadro das disputas eleitorais, surge uma propaganda que vem sendo alvo de discussões políticas e estéticas. Na última terça feira(9/09) foi ao ar uma propaganda do PT na qual banqueiros distribuem sorrisos num acordo, enquanto a comida desaparece da mesa de uma família proletária. Este jogo imagético produzido pela equipe da campanha petista, que pode remeter até Eisenstein, gera polêmica exatamente por visualizar a luta de classes. A propaganda no entanto possui uma intenção política pontual: criticar a proposta do PSB para dar autonomia ao Banco Central. Embora o governo de Dilma tenha beneficiado e muito os banqueiros, esta propaganda vem gerando acaloradas discussões entre a esquerda e a direita. Antes de incorrermos sobre o debate estético que a propaganda do PT levanta, gostaríamos mais uma vez de esclarecer o leitor quanto a nossa posição política: nosso periódico, desde o seu nascimento em 2011, nunca vinculou-se á nenhuma organização política em particular. Entendido que este é um pressuposto para nossa independência política diante do debate cultural de esquerda, nosso blog contempla o horizonte de militantes socialistas, comunistas e libertários das mais variadas origens partidárias ou agremiações; o que incluí o próprio PT, notadamente as correntes que situam-se á esquerda do partido. 
  As polêmicas em torno da propaganda petista contrastam com as características estéticas das propagandas produzidas durante a comemoração dos dez anos do governo federal: o audiovisual e a arte gráfica(o cartaz especificamente) traduziam literalmente a estética do realismo socialista. Lula e Dilma expostos enquanto líderes populares não deixam de remeter ao culto á personalidade, característica máxima do zdanovismo. Na propaganda da última terça, não encontramos o stalinismo cultural mas cenas embasadas na dialética marxista. Entretanto, sem querer equiparar em valor cultural/ideológico a propaganda atual aos modelos estéticos revolucionários, não podemos deixar de notar o efeito perturbador que ela vem causando nos últimos dias, junto aos setores da burguesia brasileira. Sem colocar em questão a política econômica encabeçada pela ala majoritária do PT, o fato é que os trabalhadores tiveram diante dos seus olhos uma experiência estética que diferencia a classe dominante da classe operária. Mesmo que isto remeta aos jogos políticos particulares da atual conjuntura eleitoral, é preciso considerar que os recursos visuais que delimitam os interesses opostos de engravatados e operários, contribuí para o debate estético.


                                                                                       Os Independentes 

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Poesia e Política:

Existe uma infinidade de poetas no Brasil de hoje. Muitos são ousados, outros açucarados e alguns picaretas. Do canto de rua ás rimas populares, das heranças concretistas e surrealistas, o fato é que existe uma salada de versos, já que a poesia não se move mais dentro de tendências estéticas definidas. Até aqui nenhuma novidade. Mas e quando o poeta se aventura pela política, e esta é uma tentação(e para muitos um dever participativo) diante das eleições que se aproximam, qual seria a resolução disso no plano do poema? 
 É desproporcional quando algum poeta tenta bancar o Castro Alves hoje: no audiovisual por exemplo, notamos uma capacidade de síntese imagética das contradições políticas maior do que o poema tradicional; tanto é que uma peça publicitária de um partido de esquerda, pode receber numa boa a influência do cinema soviético, e assim cumprir um importante valor comunicativo. Situação distinta é a do poeta, cujo alcance é menor em relação á cultura visual. Isto quer dizer que a poesia teria perdido a sua relevância enquanto elemento que atua na realidade política? De jeito nenhum, mas acontece que o potencial político do poema é de outra natureza: ele exige uma movimentação verbal que não se separa da atitude do poeta. Sendo assim aquele que declama ou circula seus versos pelo papel, pelo ar ou pelas telas, pode cumprir pelas palavras colocadas em liberdade, uma missão das mais progressistas: a negação da realidade estabelecida pelo poema que ultrapassa o racionalismo e a vida prática, revela ao outro não uma informação política objetiva, mas um caótico universo interior em que o coração mela com a cor do desejo a palidez das mesquinharias partidárias. Não nego que o poeta possa discorrer sobre a realidade política. Mas ele o faz a partir do inconsciente, do espaço mental de onde o político profissional raramente consegue chegar


                                                                           Marta Dinamite 
 

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

A imagem que toca o real :

Referindo-nos sobre o papel da arte contemporânea, já defendemos em outra ocasião que a imagem precisa participar da realidade, no sentido dela ser parte integrante de um conjunto de ações transformadoras. No entanto, pessoas que adoram respostas evasivas, diriam que " a realidade não existe ", sendo a própria arte mero produto de uma apreensão individual da realidade. Neste sentido, quando olhamos na rua uma criança faminta, alguns poderiam em sua " maneira individual de perceber o real " alegar que aquilo é uma simples " escolha cultural dos pais " daquela criança. A negligência intelectual que serve aos interesses da classe dominante não para por aí, sendo que podemos nos valer de outros tantos exemplos: a imagem de um homem sendo torturado nos tempos da ditadura, exprime a repressão política ou simplesmente " o prazer de ser torturado "? Em nossa opinião este tipo complacência, de relativismo, acarreta em despolitização generalizada, sendo necessário combatermos todo este papo furado.
 A arte em si não é a realidade: ela é uma representação, a criação de uma espécie de realidade paralela, que guarda relações consciente ou inconscientes com uma determinada forma de organização social. Estas relações revelam a maneira como o artista olha, como ele participa da elaboração de um tipo de consciência a partir da experiência sensível. Se a realidade " não existe ", então os homens e as coisas estariam " soltos no espaço ", como peças que nunca encontram o todo, sendo a própria obra de uma arte um objeto que dispensa a presença do " outro ", já que a compreensão do real é tão unicamente " uma relação individual ". Se a individualidade existe é porque também somos tocados pelo " outro ", pelo que eles sente, experimenta e(como) vive. O esforço comunicativo da arte não é reflexo da realidade mas uma intervenção sobre ela: é a reivindicação de uma outra realidade, aquela do desejo e consequentemente do protesto contra um mundo que reprime e nega(pela exploração e pela alienação) o próprio homem. Felizmente os artistas mais avançados, inclusive aqueles que estão organizados em coletivos, sabem que a luta da arte é a luta por uma outra realidade.


                                                                                     Os Independentes 

terça-feira, 9 de setembro de 2014

O porão de Bob Dylan:

Quando Bob Dylan sofreu o famoso acidente de motocicleta em julho de 1966, era como se uma das principais divisões da contracultura tivesse batido em retirada. A reclusão de Dylan no entanto passou a alimentar a imaginação musical dos fãs de rock do planeta: o que o compositor estaria fazendo? Abre-se portanto um mítico período da vida de Bob Dylan, no qual o cara literalmente ia até o porão com a sua banda gravar. Tais gravações deverão chegar até nós em 4 novembro: serão lançados seis CD´s contendo 138 músicas gravadas durante a reclusão do músico no final dos anos sessenta.
  Se parte destas gravações já estão por aí há décadas em inúmeros bootlegs, este lançamento parece ser um apanhado mais sistemático da produção de um artista que até pouco tempo antes do acidente, havia revolucionado a música popular. De mito folk que ajudou a reativar a canção de protesto, Dylan sacou a partir de 1965 a amplitude estética e comunicativa do rock: enfrentando a fúria de puristas, Bob Dylan meteu a guitarra elétrica em sua música e deu continuidade ás críticas sociais, ao mesmo tempo em que sofisticava suas composições com letras influenciadas pela literatura beat e em certa medida pelo surrealismo. Se o acidente de 1966 interrompeu uma fase de ouro traduzida nos três álbuns seminais Bringing  It All Back Home(1965), Highway 61 Revisited(1965) e Blonde on Blonde(1966), torna-se no mínimo intrigante sabermos mais sobre o tipo de som que Dylan faria no seu porão.


                                                                                                   Tupinik

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Literatura Periférica e Literatura Proletária:

De uns quinze anos pra cá, não podemos deixar de constatar que o movimento literário mais importante do Brasil é a  literatura periférica. Classificada também como literatura marginal, numa apreensão distinta daquela utilizada nos anos setenta, este movimento renovou a estrutura do romance, do conto e do poema inserindo a expressão literária no mesmo caldo contestador da cultura hip hop, da arte de rua. A violência e a miséria enquanto elementos centrais do cotidiano das periferias do país, não geram o objeto literário de fora, mas sim de dentro das próprias comunidades: aqui o romancista ou o poeta é o morador que converte a linguagem e os símbolos periféricos em matéria literária. Trata-se de uma contribuição inestimável para a literatura brasileira, como nos mostram as obras de Ferréz, Sérgio Vaz, Allan da Rosa e de tantos outros escritores. O significado subversivo disso tudo é extraordinário, pois a literatura enquanto propriedade da classe dominante é redefinida pelo olhar, pela sensibilidade da classe oprimida. Entretanto, a condição da literatura periférica faz com que ela seja automaticamente literatura proletária?
 O avanço da literatura periférica é um fato cultural altamente positivo do ponto de vista do proletariado: nas escolas aumenta o interesse de muitos jovens pela palavra escrita, de modo que professores engajados, projetos envolvendo secretárias de cultura e os próprios escritores periféricos, se fazem presentes enquanto forças progressistas através de palestras, debates e saraus. Ou seja, a literatura periférica cumpre um papel muito importante na educação de jovens da classe trabalhadora. Mas para compreendermos a dimensão ideológica destes registros literários das periferias, não basta olharmos de onde e do que eles falam, mas como a consciência de classe se manifesta neles. Diga-se de passagem, que enquanto literatura esta produção não carece de justificativa: ela existe, é válida e fecunda do ponto de vista estético e social. Porém, o potencial político da literatura pode ser muito maior do que apenas denúncia ou protesto. 
 O texto literário produzido pela classe trabalhadora, não pode ser como querem culturalistas e muitos acadêmicos, expressões de uma outra galáxia cultural, que existe em função de " particularidades culturais ". Tão isto é conversa fiada que os escritores periféricos sabem que os problemas que brotam de seus textos são essencialmente econômicos e sociais. Portanto, o avanço político da literatura periférica depende da sua afirmação enquanto literatura proletária: expressão cultural de classe, produto literário que exprime a consciência dos trabalhadores em luta contra a classe dominante. Esta literatura, se quiser efetivamente contribuir com a juventude proletária, deve cada vez mais se politizar, revelando no plano específico da criação artística que as periferias existem porque existe a burguesia brasileira. Creio que o marxismo pode contribuir decisivamente para o desenvolvimento e o fortalecimento da literatura periférica.


                                                                                    Geraldo Vermelhão

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

A reconstituição cinematográfica da Revolução francesa:

Estabelecendo a transição entre a Idade Moderna e a Idade Contemporânea, a Revolução francesa de 1789 foi um furacão político que redefiniu a vida social na França e no mundo. Influenciando diretamente a produção cultural, este evento histórico atingiu a pintura, a literatura, o teatro e a música. Se esta última foi a protagonista das grandes mutuações políticas trazidas pela revolução, sobretudo com o hino marcial da Marselhesa, o cinema, nascido praticamente um século depois, também não deixaria de tematizar a Queda da Bastilha. Dentre os principais filmes que realizam a reconstituição da Revolução francesa encontramos o longa A Marselhesa, de Jean Renoir. O filme de 1938 será exibido por nós na noite do próximo sábado no MIS de Campinas, enquanto atração do ciclo O que é Cinema Político?.
 O filme de Renoir é um marco na História do cinema político, tanto pelo seu tema revolucionário quanto pelo seu processo de produção. Financiado pelo governo de frente popular encabeçado por Leon Blum, A Marselhesa trata da luta do povo contra a opressão e a tirania num momento em que Hitler e sua escória ameaçavam a Europa(a cidade de Paris seria ocupada pelos nazistas em 1940). Deste modo encontramos uma interessante associação histórica: no filme, a luta de um grupo de revolucionários de Marselha contra as tropas prussianas a serviço da monarquia absolutista, relaciona-se, enquanto assunto cinematográfico, com o perigo que o nazismo representava para a soberania nacional francesa. Trata-se assim de um filme que realiza a educação política popular: este é um dos papeis fundamentais da arte, tal como dissera Robespierre referindo-se ao teatro durante os tempos do jacobinismo. 
 Inserido na escola cinematográfica do realismo poético, Jean Renoir cumpre com este filme a função progressista que o cinema tem na formação da consciência política dos povos. Antes que meus queridos amigos trotskistas deste blog, comecem a me encher o saco porque elogio aqui um filme que é expressão cultural da frente popular, gostaria de insistir no fato desta pelicula representar um cinema claro, acessível, engajado e de grande força comunicativa com o proletariado. 


                                                                                           José Ferroso  

FILME: A Marselhesa

DIREÇÃO: Jean Renoir

ANO: 1938

DIA: 6 de setembro

HORÁRIO: 19:30

LOCAL DE EXIBIÇÃO: Museu da Imagem e do Som de Campinas

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

A vez dos Coletivos de Artistas:

O atual momento cultural vive a emergência de coletivos de artistas. Não se trata mais de grupos de vanguarda, como foi recorrente durante boa parte do século passado. Baseados nas práticas da arte de rua, diversos artistas partem para um tipo de enfrentamento no qual não se busca mais romper ou apresentar plataformas estéticas, mas sim as estratégias de linguagem mais contundentes para se estabelecer a sabotagem cultural.
 Enquanto tática os coletivos, que vem ganhando força nas últimas três décadas, não apostam em novidades, pois como Marx diria quem é avido por " novidades " é a burguesia. Suportes inusitados, diferentes materiais, recorrendo inclusive ao uso de engenhocas digitais, compõem um painel expressivo altamente variado e que não se preocupa em ser " novo ": é uma sensibilidade que vai, por exemplo, da antiarte á pop. O que de fato pode tornar ainda mais significativa a emergência de manifestações aonde o corpo e as coisas do mundo são armas estéticas, é o fato destes artistas serem essencialmente manifestantes. Sendo assim observamos uma redefinição do sentido atribuído á palavra artista: não é mais o indivíduo excepcionalmente " talentoso " ou " genial " mas um cara comum, e que portanto é entendido enquanto trabalhador e logo como ativista ou militante.
 Se este papo já estava encubado lá nos anos sessenta, foi preciso quase meio século para que este artista multimídia, engajado e portanto interessado em manifestar-se publicamente contra os valores estabelecidos, ganhasse força: em meio á tantas formas de alienação e porcariada estética, destacam-se criadores que não desejam ser celebridade mas sim  indivíduos que participam conscientemente da luta anticapitalista. Logicamente que nem todos os coletivos são portadores de ideologias revolucionárias, sendo que em muitos deles faz ninhada reflexões um tanto relativistas, para não dizer ocas e na direção comprometedora do individualismo pequeno burguês. Mas ainda assim, é neste cenário cultural em que os coletivos ganham força, que a arte exerce sua missão política contestadora.


                                                                                 Lenito  

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

O ator é um combatente:

O ator que queremos não é uma curiosidade de vitrine. Não é animador da burguesia e nem coloca o seu corpo emprestado para servir aos baixos interesses do comércio. Esteja o ator no palco, no filme, na televisão (ou simplesmente na vida, agindo e se manifestando pelas ruas) ele precisa agarrar o espectador: seja para acorda-lo, interroga-lo ou simplesmente faze-lo gritar diante de um mundo revoltante.
  Aquele que interpreta, exatamente porque sabe que todos nós atuamos a partir de papeis pré- estabelecidos, propõe uma reflexão social. O personagem é um rascunho de nós mesmos, em que o ator não procura apenas " dar vida ", mas situa-lo frente a um conjunto de problemas e valores. Será que a maioria dos atores brasileiros apresentam a consciência exata da sua potencialidade política? Não faço patrulha ideológica para aqueles que atuam no contexto comercial, porque como todos os trabalhadores o ator precisa pagar as contas. Mas faço um apelo: sendo a vaidade uma arma do capital, o ator não pode ser a sua encarnação mais barata. Ao ator cabe agir sobre a realidade, interferindo sobre a consciência da população. O ator que não se interessa por política ou é atropelado ou usam ele para atropelar o cérebro do proletariado. Os intérpretes de um personagem são autores e extensões de quais ideias? Para os atores que compreendem o funcionamento da sociedade vigente, se faz necessário converter o seu trabalho em ação cultural transformadora. Fora disso existem apenas celebridades.

                                                                                         Marta Dinamite 

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Literatura é risco e não enfeite:

Quem escreve se arrisca. E com isto quero dizer que o poeta ou romancista aventura-se ao revelar a sua visão política através da exteriorização do seu universo interior. Se este universo nasce na realidade material pré-existente, então escrever é posicionar-se diante das convenções e do funcionamento da sociedade.Ou seja, o escritor se arrisca diante de uma realidade intolerável, expondo pela força do verbo as fragilidades e os problemas sociais. 
 Escrever é um ato de protesto contra a civilização capitalista, que de tão podre precisa cair do pé da História e ceder espaço para uma vida coletivizada, de onde nascerá uma nova cultura. Nada de letras usadas como bibelô ou bordado de literatos para agradar leitores conformados com suas existências. O mundo de hoje pede escritores capazes de converter a palavra escrita em instrumento revolucionário.


                                                                                               Lúcia Gravas 

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Bienal: uma arte violenta toma o Brasil de assalto

Há uma semana o nosso companheiro de redação Lenito, disse que tinha grandes expectativas de encontrar na trigésima primeira edição da Bienal de Artes de São Paulo, artistas combativos, promotores de obras contestadoras. Lenito pode ficar descansado, pois tudo indica que esta edição da Bienal assinala um caráter provocador e de contestação política. Pelo que tem sido divulgado, o evento que abre para o público no próximo sábado, reúne artistas e coletivos comprometidos em expressar com liberdade total as grandes questões que convulsionam o Brasil e o mundo HOJE. 
 Religião, sexualidade, guerra, aborto, sistema carcerário brasileiro e o confronto de militantes com a polícia, são assuntos que recebem um tratamento artístico transgressor e fazem da arte do momento não um espelho, mas como diria Maiakóvski, um martelo contra o conservadorismo estético, político e moral. Mesmo antes do pavilhão ser aberto á população, polêmicas tomam conta desta que promete ser uma das edições mais emblemáticas da História da Bienal. Diante dos ataques do exército israelense na faixa de Gaza, mais da metade dos artistas que participam do evento redigiram um manifesto pedindo que a fundação da Bienal devolva o patrocínio que recebeu de Israel. Além desta dramática questão geopolítica surgir, outras polêmicas se materializam através de obras profundamente instigantes: num momento em que assistimos a situação desumana nas cadeias brasileiras(como aponta a revolta de presidiários em Cascavel) o artista Éder Oliveira pintou os rostos de detentos da região de Belém nas paredes da Bienal. Enquanto que os temas da exclusão e das injustiças sociais se fazem presentes, a questão religiosa também ganha força nesta edição da Bienal, seja com o polêmico filme " Inferno " da artista israelense Yael Bartana, seja com as ações do coletivo argentino Etcétera . Se a primeira simula um ataque ao templo de Salomão, pertencente á Igreja Evangélica em São Paulo, o pessoal do Etcétera pede em carta enviada ao Vaticano a abolição do inferno enquanto dimensão teológica. A questão sexual, de gênero para sermos mais exatos, também surge no trabalho de outros artistas: o aborto e a mudança de sexo envolvendo ícones bíblicos, dão o tom da ousadia(e do consequente debate). 
  Por fim, artistas das periferias da capital paulistana e militantes de movimentos sociais como o pessoal do coletivo Comboio, mostram que na arte dos nossos dias a questão da luta de classes é um fator decisivo. Aliás, o desenho de um manifestante enfrentando a polícia com um coquetel Molotov deixa claro que " arte pela arte " não faz(e nem nunca fez) o menor sentido de ser.


                                                                                Os Independentes 

A pintura capaz de se comunicar:

Do abstracionismo, passando pela picaretagem Pop e chegando ao nada vezes nada de inúmeras instalações ou do olhar culturalista reacionário, a arte contemporânea " ousou " muito, chocou críticos burgueses, alimentou o mercado e raríssimas vezes se comunicou com o povo. Se uma obra de arte é responsável por " chocar ", isto é aparentemente positivo exatamente por fazer destemperar senhoras da alta sociedade. Mas por outro lado, o que choca vende, sendo as " virtudes comerciais " do escândalo algo muito esperado pelo mercado. Já que o capital não tem estética definida, ele se apropria de várias. Então, quais imagens tornam-se politicamente possíveis diante de tantos cacarecos e tanta porcaria visual? Sem querer fossilizar a forma, creio que o figurativismo é o que ainda pode tornar a pintura viva e revolucionária entre os trabalhadores: este é o público necessário e não especialistas ou artistas acadêmicos. 
 Di Cavalcanti, por exemplo, nunca abriu mão de retratar modernamente o povo brasileiro. Para um espectador proletário, que não quer fazer a sua sensibilidade se decompor junto ás picaretagens pós modernas, a pintura de Di e outros antigos modernistas, tem muito a dizer. Carnaval, pescadores, samba, violões, cenas noturnas em bairros populares e mulheres senuais possibilitam a identificação com o espectador. Acho isto muito mais relevante do que triângulos, quadrados, cabines, mutilações e objetos que se confundem com o que vemos em casa ou no supermercado. 
 Perante as eleições, a pintura popular e revolucionária pode pouco com as imagens sofisticadíssimas das propagandas. Entretanto, elas podem ser parte de um processo estético educativo para que os trabalhadores, fragmentados no capitalismo de serviços, tomem consciência de classe.


                                                                                             Lúcia Gravas    

Aquele que escreve sobre a revolta:

Quando opta-se por expor através da palavra escrita as relações humanas, o escritor revela em suas escolhas estéticas uma posição ética. Inseparável de sua própria posição política, sua visão acerca dos conflitos pode ser apaziguadora, nostálgica, evasiva ou revoltada. É dentro deste último aspecto, o da revolta diante das instituições e da organização social como um todo, que as mais diversas situações que um texto abarca apontam para mudanças. Não importa se estamos a falar de situações " pessoais " ou da esfera pública: na ficção literária a costura dos personagens é o movimento que flagra em todas as suas dimensões as próprias determinações da História.O mesmo vale para a poesia.
 Já fui recriminado inúmeras vezes por valorizar em literatura somente aquelas obras que falam de seres em conflito com um tipo de ordem social. Mas diferentemente do que muitos supoem, não sou contra o relato pessoal, contra a apresentação " desinteressada " dos diferentes universos culturais ou das memórias da infância. Penso que tudo isto envolve importantes materiais para a narrativa ou para o poema. Entretanto, o que não posso admitir é que estes assuntos sejam utilizados para isolar a obra literária das graves questões sociais. Tanto faz se o autor opta por falar a linguagem do inconsciente ou se decide mergulhar nas suas lembranças pessoais. A sua escrita vem de algum lugar, pois ela está(como diria Sartre) em situação. Pode-se fugir como um coelho das responsabilidades políticas e se entorpecer no próprio " eu "; mas se o " eu é um outro ", como afirmara Rimbaud,   que ideia podemos ter do humano? Alguém entregue as mais ordinárias convenções sociais? Um indivíduo que usa a escrita apenas para urinar e demarcar seu território pessoal? Um animador do mercado editorial que escreve sobre o que agrada a predatória burguesia brasileira? Não importa o tema, o escritor que não se revolta é complacente com a ordem capitalista.


                                                                                                    Lenito