domingo, 27 de maio de 2018

Boletim Lanterna. Ano 08. Edição 110


 Para os lutadores da cultura em particular, o momento continua a ser de disputa ideológica. As ideias políticas conservadoras do momento precisam ser combatidas por ideias progressistas, por manifestações artísticas libertárias que nascem das condições reais, concretas da classe trabalhadora. 
Para nós o conhecimento histórico abrange um material estético e político que, diante da possibilidade de ser relido, deve ser estudado e apropriado pelos trabalhadores. Portanto, diante das notícias e manifestações conservadoras, nós informamos o passado portador de energias contestadoras, damos notícias acerca de imagens/ideias necessárias para orientar a luta emancipadora dos nossos dias. Ainda que a maré não esteja pra peixe, lutar com as armas da crítica é o dever dos artistas e dos intelectuais. 
 Uma nova cultura, apoiada em tradições culturais revolucionárias, irá nascer a partir de uma perspectiva política anticapitalista. 

domingo, 20 de maio de 2018

Boletim Lanterna. Ano 08. Edição 109

A defesa da arte revolucionária não se fundamenta em questões de gosto ou em preferências estéticas. As profundas implicações políticas da arte que participa do mundo real, estão embasadas em uma concepção científica da história: o materialismo histórico dialético apresenta um entendimento revolucionário da história, cuja força motriz é a luta de classes.
 Neste sentido acreditamos que a arte, uma atividade livre e que não pode ser manipulada, é um poderoso meio de expressão para que os trabalhadores tomem consciência da saga entre opressores e oprimidos ao longo dos tempos. A atividade artística não é para nós algo especializado, reservada a uma meia dúzia de iluminados. Não existe tema preestabelecido ou forma artística imposta a priori. O que defendemos é que não existe saída artística fora da luta política: a emancipação política do trabalhador é a emancipação de toda a cultura, é o fim da alienação, é o despertar da personalidade humana nas massas. Para chegarmos a este objetivo histórico, a arte deve participar da luta libertadora.
  Em termos de narrativa, o que pode compreender por exemplo a literatura e o cinema, acreditamos que manifestações artísticas podem fazer com que o povo enxergue o movimento da história, deixando claro que é o proletário dos nossos dias o personagem principal que poderá colocar um ponto final na sociedade de classes. Quem escreve, pinta, filma, canta e atua pode pela imaginação artística estabelecer estratégias para representar a luta de classes.  É como se o trabalhador, após sua longa jornada de trabalho, se sentasse cansado no botequim e conseguisse visualizar os personagens oprimidos do passado, aproximando-se deles. Seria mais ou menos o seguinte:

 Operário sentando no bar olhando despreocupadamente uma praça. Entra no bar um camponês, um escravo do mundo antigo, um plebeu, um servo, um artesão, um indígena e um escravo dos tempos da colonização e do império, e mais alguns operários de diferentes gerações. Todos eles aglutinam-se em torno da mesa do operário e passam a perguntar:

 - Como é? Quando é que você vai acabar com todo este sofrimento? Quando é que você vai se levantar e lutar por uma sociedade justa, sem classes, sem exploração? O futuro da humanidade está em suas mãos!  

As possibilidades estéticas para representar esta cena poética são inúmeras!


domingo, 13 de maio de 2018

Boletim Lanterna. Ano 08. Edição 108

Falar dos 50 ANOS DO MAIO DE 68, não tem nada a ver com comemorações nostálgicas aos moldes burgueses. Nós buscamos as imagens revolucionárias do passado para colocar em fogo alto a luta de hoje em dia. A exemplo do que realizamos no ano passado, quando discutimos os 100 anos da Revolução russa de 1917, o que interessa é fixarmos as experiências estéticas do passado que condensam  as lutas sociais. No caso do Maio de 68 existe uma qualidade artística contestadora que até hoje converte-se em referência nos planos da poesia, da canção, do cinema político, do teatro político e das manifestações artísticas que se misturam com a vida, que desarrumam o arrumado. 
 Na França, no Brasil nos EUA e em muitos outros países, movimentos culturais de juventude recusaram não apenas a moral e os valores dominantes, mas todo edifício econômico e político da civilização capitalista. No meio de toda aquela maluquice, em que se faziam ouvir muitas ideologias, resplandecia  o desejo revolucionário. Deu certo? Funcionou? Pois é, se muito daquilo que em termos estéticos foi rebeldia em 68 tornou-se, décadas mais tarde, produtos culturais assimilados e neutralizados pela ordem capitalista, o fato é que a arte revolucionária de 50 atrás deve ser estudada e aproveitada no que ela conserva de libertário, de contestador.
 Ao longo de 1968, nota-se uma presença artística muito especial nos conflitos de rua, nos meios de comunicação,  nos porões contraculturais, nas trincheiras das guerrilhas simbólicas. Saber reler tudo isso significa por em discussão o que foi e o que pode ser arte revolucionária; quer dizer, não se pode cair numa atitude de cópia que no fundo só serve como paródia histórica. O pulo do gato está em reler as imagens do passado dentro das novas necessidades históricas, dentro das novas determinações da realidade. Eis o desafio! 


domingo, 6 de maio de 2018

Boletim Lanterna. Ano 08. Edição 107

Apresentamos Poesia, Trincheira e bananeira , uma criação coletiva.

" AVISO:
Pessoas de esquerda precisam estar atentas ao atravessar este portão. Por estas bandas existem leis intolerantes, gente besta e assassinos da memória. Cuidado! 
O jovem operário coçou a barba pensativo... Ele decide atravessar o portão e procurou armar-se com os versos mais suculentos e politizados que tinha para espantar a fome e o medo. Não, ele não teria medo: era valente, já estava vacinado contra gente medíocre, devoradora de inteligências e amantes de tiranos. Ele tinha sua consciência acesa,  o corpo preparado contra mosquitos e reacionários. Sim, ele estava pronto para andar com passos decididos,  falar sobre o impossível e declamar as palavras aladas que podem anunciar rojões, gozos de amantes, cerveja, greve eterna, pipoca, onças fora da jaula e delicadas tempestades de flores e labaredas.
 O operário andou, andou e andou... Era uma mata com cara de deserto. Era uma floresta com cheiro de cimento. Era uma fazenda eletrônica! Era uma fábrica rural! Era um shopping com máscara de bosque. Não importava! Em qualquer cenário o operário carrega no bolso e no peito os versos que abrem picada na trilha da luta de classes. Ele se depara com uma bananeira...De lá de dentro ele escuta um barulho: tinha alguém carregando uma arma. Sim, alguém estava engatilhando uma arma e o poeta trabalhador seria o alvo! Ele não se intimidou: decidiu fazer ali mesmo uma trincheira de versos. 
 Será que o poeta trabalhador levou chumbo? Dizem que ele está lá até hoje, com um sorriso de luta nos lábios. Ele espera que outros poetas atravessem o portão. "