domingo, 21 de dezembro de 2014

Descanso do guerreiro(voltaremos em janeiro de 2015)

2014 foi para o nosso blog mais um ano de militância. Trata-se de todo um empenho baseado na crença de que a arte participa ativamente da construção de outra realidade política, de uma nova cultura que se opõe ao sistema capitalista que rege as relações humanas. Para alguns isto pode até soar quixotesco, mas o fato é que estamos na praça desde 2011 e estamos longe de bater em retirada. Nosso foco de guerrilha cultural é pequeno, mas a exemplo de uma série de outras iniciativas espalhadas por este país, cumpre com o seu papel de contradizer e contestar a língua morta da sociedade burguesa. Neste sentido publicar artigos, manifestos e vídeos corresponde a um conjunto de inquietações intelectuais que visam refletir sobre a oposição artística na era contemporânea. No nosso entender é exatamente este o papel da imprensa cultural de esquerda. 
 Como é de praxe, iremos tirar uns dias de folga para recarregar as baterias e assim dar prosseguimento ao nosso combate no ano que vem. Voltaremos com o nosso periódico em janeiro: 2015 promete ser um ano de luta. Insistiremos no fato de que a própria luta pelo socialismo depende também de uma militância específica, voltada para o ativismo cultural independente. Aguardem!


                                                                                    Conselho Editorial Lanterna 

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

A guerrilha cineclubista está em Campinas:

A mobilização em torno de um manifesto lançado por cinéfilos de Campinas, coloca em questão a urgência de recursos para o fortalecimento de uma sala pública de cinema no MIS(museu da Imagem e do Som), localizado no Palácio dos Azulejos. A luta é para que o cineclubismo não se perca: é o cineclube que garante o debate estético e a necessidade de um autentico pensamento cinematográfico. Em Campinas, aonde cinéfilos se recuperam do fechamento do Cine Topázio, o MIS representa o foco de todas as esperanças para que a vida cinematográfica não morra na cidade.
  Este movimento é imprescindível para a própria vida cultural de Campinas. O MIS é um espaço aonde funcionam duas salas de exibição, nas quais o público é quem faz a programação. Para nós do Lanterna, por exemplo, o MIS é vital, pois sem este espaço não realizaríamos em Campinas exibições de filmes  que exprimem nossas indagações estéticas e políticas: os ciclos Revisão Crítica do Cinema Novo e O que é Cinema Político?, não seriam possíveis sem este espaço. Mas como vem sendo frisado pelos cinéfilos, as salas do MIS necessitam de verbas. Por hora a vida cinematográfica está sendo possível graças ao empenho militante de cinéfilos que se organizam na base da autogestão. A própria sala Glauber Rocha, que defendemos em outras ocasiões neste blog, depende de verbas para sua viabilização. Tudo indica que no início do ano que vem estão previstas mudanças para melhorar o espaço. Aguardemos e continuemos nossa agitação cultural em prol deste espaço.
 Estejam certos de que Campinas é um polo guerrilheiro para o cineclubismo.


                                                                                     Conselho Editorial Lanterna   

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Marxismo e criação artística:

Definitivamente é preciso reagir contra o conservadorismo que instalou-se na vida cultural. A filosofia política do marxismo e sua contribuição ímpar para a reflexão estética, não visa criar ou instituir um modelo artístico. O materialismo dialético oferece um método de compreensão histórica dos fenômenos estéticos e uma fundamentação política para que o artista olhe criticamente para o seu próprio tempo. Não existem portanto " fórmulas marxistas " para a arte mas uma posição política revolucionária que pode influenciar a arte. Esta distinção é importante, pois ela nos ajuda a compreender que não existe uma estética marxista mas uma contribuição filosófica do marxismo para a criação de diferentes manifestações artísticas.
 Assumir o ponto de vista do comunismo é uma tarefa árdua, sobretudo num momento em que os tentáculos do imperialismo sufocam as formas de resistência política e  intelectuais a mando da burguesia brasileira querem fazer chacotas do socialismo. É hora de vociferarmos contra o conservadorismo e a cultura é um terreno aonde isto pode ser feito com toda energia e criatividade.


                                                                                                      Os Independentes

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

O futuro cultural de Cuba:

O mundo está atônito diante da reaproximação dos EUA com Cuba. O que chamam de " abertura " naturalmente significa a inserção do capital na ilha e o enfraquecimento ideológico do socialismo. Se a Revolução de 1959 expulsou o imperialismo de Cuba e arrebentou com a ditadura de Fugêncio Batista, estas conquistas históricas encontram-se ameaçadas. Mas sejamos críticos: o isolamento de Cuba é fruto de um modelo de socialismo nacionalista, e que portanto a pressão imperialista caracterizada pelo embargo econômico tende a aumentar. Do ponto de vista político e cultural a guerra de guerrilhas, trouxe resultados extraordinários: basta pensar na utopia de um cinema latino americano nos anos sessenta, gerador de uma nova cultura revolucionária. A tática foquista da guerrilha estendeu-se para o campo estético, sendo a arte um foco que resiste contra a cultura dominante. As últimas notícias prejudicam esta hipótese cultural? Definitivamente não: o que está em crise é um modelo burocrático e nacionalista de socialismo.
Devemos  assimilar as contribuições culturais e políticas da Revolução(como as lições de Che) e ao mesmo tempo compreender os seus erros: a liberdade artística e sexual por exemplo, não são inimigas mas necessidades da própria revolução socialista. A burocracia cubana errou muito do ponto de vista revolucionário. Portanto não nos abalemos diante dos últimos acontecimentos: não é a tentativa de criação de uma cultura socialista que está em crise. O que está em crise são os métodos burocráticos que impedem o próprio avanço político e cultural do proletariado rumo ao socialismo. Para sabermos mais sobre o futuro de uma cultura socialista em Cuba, estejamos atentos aos próximos dias.


                                                                                                          Lenito

O trabalhador enquanto protagonista do romance brasileiro:

Estando a história do romance inserida na própria História, a primeira inevitavelmente posiciona-se diretamente ou indiretamente  sobre os conflitos de classe. Partido da afirmação certeira de Marx, para quem a a luta de classes é o motor da História, a literatura exprime de um jeito ou de outro uma opção de classe. Naturalmente que a posição em prol dos trabalhadores, requer sensibilidade para conseguir traduzir no plano do texto o universo cultural e os problemas econômicos decorrentes de uma determinada organização social. Esquece-se frequentemente que a literatura brasileira possui um amplo legado de contestação política.
 A literatura é no Brasil de hoje uma área que recebe pouca atenção, seja no ensino ou na imprensa. Se é verdade que existem bons professores/pesquisadores que atuam nas mais diferentes redes de ensino e se também é fato que existem alguns periódicos que procuram valorizar a produção literária, não se pode negar que na sociedade funcional a literatura é desprezada. Existem razões políticas para isso: vários dos principais romancistas e poetas da literatura moderna e contemporânea brasileira foram escritores de esquerda. Tá na cara que a literatura brasileira não pode salvar-se sozinha diante de uma cultura que a despreza. Portanto, a saída para o escritor brasileiro, a exemplo da classe trabalhadora, é engajar-se na causa do comunismo. Mais uma vez o trabalhador brasileiro deve ser o protagonista da ação, seja no romance ou na própria luta política.

                                                                                            José Ferroso

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Arte de esquerda e cultura de massa:

Definitivamente a arte capaz de exprimir os interesses históricos do proletariado, não pode cair nas ciladas do hermetismo e do populismo. O desafio está em comunicar-se modernamente mas sem recair em uma estética desconectada da realidade cultural das massas. Para " elevar o nível das massas " como queria Maiakóvski, devemos buscar uma linguagem que não seja nem palatável e nem restrita a um público elitizado e portanto familiarizado com inovações artísticas.  Vencer a falsa dicotomia entre radicalidade estética e gosto popular, requer que enfrentemos a questão da cultura de massa.
 Não podemos utilizar superficialmente padrões estéticos convencionais da indústria cultural e forçar a barra inserindo uma mensagem política revolucionária. Obviamente que precisamos combater a dominação capitalista inclusive no plano da percepção. Entretanto, é impossível subestimar a produção cultural vinculada aos poderosos conglomerados econômicos que apresentam-se(impõem-se) através dos meios de comunicação de massa. Um filme ou um seriado de super herói por exemplo, possui um efeito de comunicação direta com o público. Se a forma e o conteúdo são geralmente reacionários, devemos considerar as razões que levam a bem sucedida introjeção destas estéticas comerciais na população. Investigar estes fenômenos é um primeiro passo para que a chamada " arte de esquerda " não fique restrita aos guetos intelectuais da classe média de esquerda, mas alcance os trabalhadores.


                                                                                           Marta Dinamite

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Cinema de poesia:

Não se combate o quadro de alienação do cinema comercial somente com ideias políticas. Se o realismo é importante na elaboração de situações em que as imagens captam os problemas do capitalismo, existem outros discursos cinematográficos capazes de desbravar e não domesticar o olhar. Não é nenhuma novidade afirmar que existe uma relação eletiva da montagem cinematográfica com a poesia. Mas tudo indica que a conversão do filme em um poema audiovisual, é algo cada vez mais estranho para um público guiado pelo lixão comercial; verdadeiro deposito de tiroteios banais e risadas cavalares. Quando um cineasta decide guiar-se pela imaginação, pelas imagens recalcadas pela educação burguesa, ele pode devolver a este mesmo público uma experiência cultural verdadeiramente perigosa e altamente libertária.
 O surrealismo já deu inúmeras demonstrações históricas da sua vigência subversiva no plano do cinema. O filme enquanto produto direto do desejo, do sonho proibido e da revolta contra a classe dominante. Luis Buñuel é inquestionavelmente o autor cinematográfico que melhor condensa uma filmografia nascida da imaginação selvagem e do constante questionamento da moral estabelecida. Para este cineasta espanhol, que no final dos anos vinte representou um reforço da pesada no time do movimento surrealista, a imagem significa a violação de todos os tabus. Nem é preciso dizer o perigo que Buñuel representa para o espectador atual, cuja " formação " cinematográfica não ultrapassa a miserável mentalidade comercial em que o " maior clássico " do cinema encontra-se num ridículo blockbuster dos anos oitenta(rs). 
 Desenterrar filmes de poesia e empenhar-se na criação de novos, significa dar livre passagem para o sonho, para o delírio que não foge mas combate os valores burgueses. A História do cinema está por ser reescrita. 


                                                                                   Os Independentes  

domingo, 14 de dezembro de 2014

A memória teatral e musical enquanto resistência política:

Para os lacaios da classe dominante, não basta marginalizar as ideias revolucionárias. O que eles querem é sepultar as manifestações políticas e culturais que enfrentaram períodos de repressão na História do nosso país. Sendo assim, existe uma orquestração de informações cujo grande objetivo é criminalizar os militantes de esquerda; especialmente durante o período da ditadura militar. Mas enquanto um punhado de pequenos burgueses histéricos pedem por um novo golpe de Estado, temos o dever de cultivar as formas de resistência contra o autoritarismo de ontem e de hoje. O teatro e a música popular no Brasil, são expressões privilegiadas disso. 
 Existem inúmeros livros, CD´s e DVD´s que captam através de documentos e análises históricas, o inestimável valor da nossa produção teatral e musical que fez questão de se opor ao regime militar e sua brutalidade expressa na censura, nas prisões, torturas e assassinatos. Livros atuais como o recentemente lançado Com Séculos nos Olhos- Teatro Musical e Político no Brasil dos anos 1960 e 1970(o livro saiu pela editora Perspectiva), de Fernando Marques, são assim demonstrações valiosas que flagram a coragem e criatividade de artistas que cantavam pela libertação do povo brasileiro. Se hoje alguns cantam, escrevem e interpretam a favor da burguesia, outros já cantaram pela liberdade. Colocar em foco pessoas como Augusto Boal e Nara Leão, significa enfrentar os atuais assassinos da memória.


                                                                                         Geraldo Vermelhão 

Antiarte não é questão formal mas política!

Dentre as redundâncias que alguns críticos e historiadores da arte emitem, encontramos aquelas em que o fenômeno da antiarte é julgado por critérios estéticos. Para muitos a antiarte que nasceu da rebelião Dadá do início do século passado, teria se esgotado enquanto " vanguarda ", pois a arte contemporânea não possui mais nenhuma amarra estética. Mas além de não ter nada a ver com vanguarda, na medida em que o próprio Dadá recusou a condição de escola artística, a antiarte questiona a própria instituição da arte e logo a organização social que esta expressa. Portanto, antiarte não é uma oposição formal mas um gesto político que atinge a cultura ocidental e por tabela os valores e tradições que regem a civilização ocidental. 
 Várias expressões históricas de antiarte tornam-se evidentemente prisioneiras do seu tempo. Porém, a antiarte é uma constância que possui pelo menos um século. Esta rebelião não é simplesmente estética: ela é uma reivindicação anárquica que repudia a cultura burguesa.


                                                                                               Marta Dinamite 

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

A influência de Brecht no teatro brasileiro:

Até o mais reacionário dos críticos teatrais sabe que seria inconcebível, pensarmos o teatro brasileiro, sem a presença fecunda das ideias de Bertolt Brecht  Do Teatro de Arena ao Teatro Oficina e chegando ao pessoal da Cia. do Latão, a estética brechtiana é um dado recorrente. Que o diga Fernando Peixoto(este cara faz falta...) que nos atualizou nas lições do teatro dialético. A prova de que Brecht é insuperável na construção de um moderno teatro político, encontra-se nas atuais reflexões históricas e na proliferação de novos grupos teatrais; tudo isto acentua cada vez mais o peso decisivo do teatrólogo alemão em nossos palcos. 
 Temos no Brasil uma tradição teatral altamente politizada: Augusto Boal, Vianninha, Ruggero Jacobbi e vários outros. Inquestionavelmente Brecht representa um importante reforço para os nossos dramaturgos e teatrólogos avançarem no campo de um teatro comprometido com a transformação social. Isto é evidente na vanguarda teatral dos anos sessenta e hoje com os grupos teatrais engajados do século XXI.


                                                                                              Lenito 

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Artistas e povo devem se libertar dos carrascos:

A importância histórica de revelar os crimes políticos cometidos pelo Estado durante a ditadura militar, atinge de perto artistas, e muito especialmente artistas de esquerda. Se existe uma direita violenta ganhando espaço na sociedade brasileira atual, trabalhadores e militantes de esquerda precisam reagir nos campos político e cultural. É parte desta reação compreender a denunciar os frutos podres legados pelo golpe de 64. Nenhum artista pode ficar indiferente diante da estupidez, da brutalidade e da censura durante o período da ditadura. Até porque, como afirmou Brecht ao referir-se aos crimes do nazismo, se não estudarmos o passado, ele volta.
 Devemos combater os carrascos do povo, os carrascos da cultura e da arte: ontem e hoje.


                                                                                   Conselho Editorial Lanterna

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Arte e socialismo na China:

Existem muitas dificuldades para o pesquisador interessado em compreender as relações entre arte e socialismo na China. Estas dificuldades passam pelo difícil acesso ao legado artístico contemporâneo da China e por uma bibliografia orquestrada por jornalistas, críticos e historiadores que na maioria das vezes emitem julgamentos viciados, maniqueístas e declaradamente anticomunistas(o que prejudica a reflexão estética sob o ponto de vista marxista). Penso que o estudo sobre a " arte socialista " chinesa não é algo que interesse tão somente aos maoistas e defensores do realismo socialista(se é que é possível defender o realismo socialista hoje em dia). As correntes do marxismo, de um modo geral, podem beneficiar-se de análises cujo objetivo não é a propaganda ideológica por meio da pesquisa(como os intelectuais burgueses fazem) mas a crítica e o entendimento da criação artística na China dos últimos 65 anos. 
 Apesar de termos acesso a alguns cartazes, algumas pinturas e alguns poemas chineses, produzidos sobretudo durante a polêmica Revolução cultural dos anos sessenta, ainda  falta muito material. No caso do cinema por exemplo, isto torna-se mais evidente: se hoje em dia dispomos de caixas de DVD`s sobre o cinema soviético, o cinema revolucionário chinês é algo praticamente desconhecido, que não foi devidamente discutido e estudado pela esquerda brasileira. Mas qual seria a relevância estética de toda esta produção artística? Antes cairmos no mérito do processo criativo e da problemática questão envolvendo o culto realizado em torno de Mao Tsé Tung , devemos levar em conta que perante todas as contradições do socialismo chinês erguido em 1949, a questão cultural esteve diretamente ou indiretamente presente. A separação entre trabalho intelectual e trabalho material que foi questionada pelo maoismo, traz um espinhoso terreno que os marxistas precisam levar em conta para prosseguirmos nos debates.

                                                                                     Geraldo Vermelhão/José Ferroso 

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

A busca por um teatro socialista:

Para atingirmos um método de representação teatral que exprima o objetivo histórico do socialismo, devemos esmiuçar tanto as experiências teatrais ocorridas no extinto bloco socialista quanto refletirmos sobre os avanços estéticos e políticos do teatro revolucionário ocidental. O primeiro caso é no mínimo difícil, sobretudo pela escassez de informações históricas que são ainda hoje negligenciadas pela opinião pública internacional conduzida pelos capitalistas. Para o segundo caso, deparamo-nos com outro problema: o esvaziamento político das conquistas cênicas contemporâneas e a crescente predominação de tendências estéticas conservadoras.
 Afirmar que toda a produção teatral e artística em geral dos países que atravessaram revoluções socialistas, limita-se ao realismo socialismo, é uma generalização grosseira. Tanto na ex União Soviética quanto no leste europeu, na China, em Cuba e outras regiões, existe uma rica produção que por maiores que sejam as suas contradições ideológicas e formais, são negações da arte massificada e alienante verificada no mundo capitalista. Ao mesmo tempo em que nos esforçamos nesta pesquisa histórica, que encontra vários obstáculos documentais, observamos hoje que autores como Brecht e Piscator(e no caso brasileiro em particular autores como Vianinha e Augusto Boal), são combatidos por tendências irracionalistas/pós modernas que nada acrescentam para o espectador que precisa compreender a realidade social. A coisa toda agrava-se ainda mais com o fortalecimento do teatro comercial, o qual retira o campo de reflexão política proporcionado pelo teatro. 
 Estejamos atentos e preparados para lutarmos por um teatro socialista hoje.

  
                                                                                          José Ferroso   

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Cinema enquanto janela para o horizonte social:

Qual pode ser a função do cineasta num país atravessado pela miséria? Para muitos cineastas formados em uma perspectiva política conservadora, o filme deve ser apenas um produto rentável, que diverte sem compromisso. É claro que o cinema passa pela diversão, mas isto não subtrai a necessidade orgânica de um olhar revolucionário sobre a realidade brasileira. O filme é uma forma de denúncia em que a miséria não deve inspirar piedade, mas estimular no espectador o desejo de transformação política. 
 É ultrajante que as telas(de um modo geral) apresentem filmes em que muitos casos ocorre o retrocesso estético e político. É preciso retomar a linha política legada pelo movimento do Cinema Novo, se quisermos olhar criticamente e com originalidade artística para o Brasil.  Filmar exige responsabilidade política sobre o objeto filmado. 

                                                                                         Geraldo Vermelhão

A consciência de classe passa pela experiência estética:

Não se pode insistir na consciência de classe como consequência mecânica acerca do problema econômico. Compreender a organização da economia no sistema capitalista, envolve um processo de apreensão política em que a exposição do problema social(decorrente da exploração econômica) não deve ser encarada apenas objetivamente mas subjetivamente. A dimensão subjetiva, que permite clareza interior para a ação política que é exterior, passa portanto pelas imagens que o trabalhador possui acerca de si e do mundo do qual ele é parte.
 Devemos trabalhar pela destruição das imagens reacionárias e pela construção de imagens revolucionárias. Enriquecer a subjetividade do trabalhador na direção da organização política de classe, é a principal função cultural de hoje: para frear a onda direitista no país necessitamos de experiências estéticas capazes de fortalecer a consciência de classe.


                                                                                                    Lenito   

sábado, 6 de dezembro de 2014

Literatura proletária nos EUA:

É muito recorrente entre alguns comunistas brasileiros, especialmente entre o pessoal das antigas(formado numa concepção nacionalista de cultura) julgar toda a arte norte americana como sendo " imperialista ". É evidente que a maior potência econômica e militar do capitalismo, exporte exaustivamente imagens e discursos que expressam o seu poder político sobre os países capitalistas pobres. Porém, seria de uma grande burrice desconsiderar a contribuição revolucionária de várias das manifestações culturais norte americanas. Tratando-se especificamente da literatura, encontramos especialmente nos anos 30 uma produção engajada, de esquerda, que teve talvez no escritor Michael Gold seu exemplo mais combativo.
 Se a cultura dominante dos EUA expressa uma violenta burguesia racista, em cidades como Nova York existem exemplos históricos de crítica e oposição radical. É no bairro do Greenwich Village que gente como John Reed e Michael Gold estabeleceram importantes contribuições para o pensamento de esquerda; seja através do jornalismo político, da crítica literária, bem como da produção teatral e da criação de uma literatura proletária. Michael Gold  é um autor que deve ser lido intensamente por escritores brasileiros. Em obras como Judeus Sem Dinheiro, de 1930, Gold expõe com maestria a pobreza nos guetos. Neste romance em particular , o autor desmente o ultrajante discurso do antissemitismo ao mostrar que existem sim judeus proletários.
 Observando o caso de Gold(que inclusive foi amigo de Jorge Amado, nome exponencial na literatura de esquerda feita no Brasil), e de vários outros intelectuais norte americanos, é possível constatar que nem todos fecham com Tio Sam.


                                                                                                    Lúcia Gravas    

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

O avanço na música brasileira:

Para a garotada esperta, é uma piada privar a música brasileira das influências internacionais.Chegamos a um momento culturalmente positivo, em que a contestação social por meio da música popular não respeita qualquer espécie de fronteira nacional. Mas misturar não implica em despolitizar: na mais completa ausência de separações estéticas, é preciso cultivar a força revolucionária(ou ao menos transgressora) da cultura brasileira. 
O som universal reivindicado pelos tropicalistas no final dos anos sessenta, não era hibridismo culturalista, mas uma reação estética/política ao descompasso da MPB convencional em relação ao avalanche internacional da cultura jovem(que até então era progressista). O resultado da ousadia tropicalista está numa produção musical que não fica atrás daquilo que havia de mais avançado na música internacional. A prova disso pode ser sentida no álbum duplo Gilberto Gil e Gal Costa: Live in London(1971); uma pérola musical que foi lançada no início do semestre. Gil e Gal(assim como Caetano, os Mutantes e Tom Zé) revelaram no plano internacional uma atitude de vanguarda, libertando nossa música de traumas coloniais. Mas feitas estas conquistas estéticas, em qual direção deve-se seguir? 
É verdade, muita coisa boa rolou(e rola) na música brasileira nas últimas quatro décadas. Porém, parece que a verdade opressora do mercado aceitou todas as estéticas, enquanto que a esquerda perdeu o fôlego no campo musical. Se a atitude tropicalista foi um avanço diante do nacionalismo do samba(diga-se de passagem: o samba é revolucionário, mas os stalinistas o aparelharam no século passado...), a esquerda avançou pouco nas discussões musicais. É preciso de alguma maneira retomar o fio da meada. 


                                                                                                 Tupinik

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

A trincheira artística dos nossos dias:

Como vem sendo destacado pela grande imprensa, boa parte das obras da trigésima primeira Bienal de São Paulo(que termina no próximo dia 7/12), serão lembradas pelo seu caráter de contestação política. Destaque especial é dado aos trabalhos da dupla de artistas formada pelo britânico John Barker e pela austríaca Ines Doujak. Ambos mostram em suas obras que a dimensão subversiva da arte contemporânea não se separa da própria radicalidade política. Sob diversos suportes a imagem para esta dupla de artistas torna-se nitroglicerina: o assunto político envolvendo líderes e acontecimentos polêmicos da era contemporânea, recebe um tratamento estético direto, frontal, sem meias palavras.  Trata-se de um ultimato dado ao relativismo oco que rasteja de modo reacionário sob o pensamento estético pós-moderno. São as relações bombásticas entre arte e política que explodem no rosto do espectador através de obras como Haute Couture 04 Transport  Velvet 1954.   
 A dupla Doujak e Barker é presença definitiva na trincheira artística dos dias que correm. O fato de seus trabalhos serem debatidos no Brasil da atualidade, é da maior importância: diante de um cenário político reacionário, em que neoconservadores dizem para os militantes de esquerda " irem para Cuba "(rs) , esta concepção de arte torna-se um foco de resistência. A própria biografia de Barker, que participou da luta armada na Inglaterra no início dos anos setenta com o grupo Angry Brigade, e hoje é um dos artistas politicamente mais contestadores, desafia os reacionários de plantão. Salve a arte de brigada!


                                                                                       Marta Dinamite   

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

A desconstrução da linguagem cinematográfica é um ato político revolucionário:

Jean Luc Godard chamou a atenção dos comunistas franceses em 1967 , quando afirmou que a esquerda possui uma formação cinematográfica conservadora. Esta observação ocorrida no ano em que o cineasta francês lançou o provocativo filme A Chinesa, revela-se ainda extremamente pertinente. Não adianta nada possuir uma formação política progressista e uma formação cinematográfica reacionária. Esta contradição recorrente na educação do militante de esquerda, gera um grande descompasso ideológico na interpretação da imagem e logo na própria interpretação da realidade política. Ainda mais quando no atual momento histórico, a plasticidade imperialista dos filmes hollywoodianos e do cinema comercial brasileiro, acaba por reforçar as ilusões diante das cenas. 
 Um filme nunca é revolucionário quando o cineasta não se interroga sobre os elementos técnicos, gramaticais e estéticos que compreendem a linguagem cinematográfica. O anestesiamento diante de uma situação fictícia representada na cena de um filme, já deu provas quanto aos fins políticos que ele serve: a ilusão de que personagens e situações são " reais ", (ainda que o tema possa ser fantasioso) faz com que o espectador encontre-se passivo diante da orquestração do pensamento do cineasta; no contexto comercial o diretor fica oculto, quietinho, negligenciando que a sua maneira de representar fatos obedece a uma determinada ideologia política(ainda que ele não faça menor ideia de qual seja a sua). 
 As experiências audiovisuais mais inovadoras de ontem e de hoje, precisam desafiar/provocar o olhar do espectador que devora porcarias com os olhos. Filmar e exibir filmes são atos de militância tão urgentes quanto panfletar e participar de reuniões ou assembleias. 


                                                                                          Os Independentes  

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

O exemplo do Proletkult:

O fato da luta de classes permear a cultura, leva-nos a concluir que uma arte capaz de exprimir e condensar os interesses políticos do proletariado deva surgir do próprio proletariado. Sim, hoje a situação histórica da classe operária não é a mesma de cem anos atrás: o capitalismo de serviços enquanto modelo que articula-se com outras atividades econômicas exploradoras, tais como aquelas encontradas na  indústria, na construção civil e nas áreas rurais, confunde a cabeça dos trabalhadores. Seduzidos por falsos discursos de prosperidade, os trabalhadores acabam pela fragmentação do espaço social do trabalho, não se reconhecendo muitas vezes como parte de uma classe(e sabemos que é a classe trabalhadora que pode abolir o trabalho alienado e toda servidão capitalista). Estes problemas devem empurrar  a vanguarda dos trabalhadores para o estudo e o cultivo das lições políticas e culturais encontradas na História do movimento operário. Além disso, os partidos e movimentos sociais de esquerda precisam estimular a criação cultural combativa entre os trabalhadores; isto ajuda a consolidar a consciência de classe. A experiência soviética, que ainda hoje é a principal escola política do marxismo, revela iniciativas formidáveis como o Proletkult.
 Criado em novembro de 1917 e liderado por Bogdanov, o Proletkult(movimento de cultura proletária) expressou no plano da cultura a própria Revolução de outubro. Enquanto centro da produção artística soviética, o Proletkult revelou a necessidade dos trabalhadores fazerem de filmes, cartazes, peças de teatro e outras manifestações, o coração por onde iria pulsar uma nova cultura: a cultura criada pela classe operária. Erros e críticas marcam os turbulentos anos do Proletkult(Lenin e Trotski foram críticos ferrenhos de uma concepção histórica em que o proletariado cria a sua própria cultura; sendo que ambos os líderes fixavam suas preocupações num longo processo educativo por onde faria-se nascer uma nova cultura). Deixando estas polêmicas históricas de lado(e defendendo aqui a legitimidade política em torno de uma arte proletária), creio que o Proletkult apresenta registros importantes, presentes por exemplo nos trabalhos iniciais de gente como Meyerhold e Eisenstein. Estes registros precisam de alguma maneira ligarem-se ao contexto cultural do proletariado de hoje. Respeitando as especificidades históricas do Proletkult, devemos ter em mente que ele pode ser um fermento na criação artística dos trabalhadores de hoje.


                                                                                                José Ferroso 

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

A criação artística na sociedade de classes:

Para aqueles que não acreditam em fatos mas em interpretações " individuais " da realidade, a arte é quase um exercício luxuoso, um capricho dentro do conhecimento humano. Sem compromisso e desenraizada da realidade material, a obra de arte seria um espectro individualista que se manifesta segundo risíveis pretextos metafísicos. Ora, o marxismo incomoda este delírio reacionário pela averiguação concreta dos fatos: vivemos na sociedade de classes; alguns podem usar a arte para se esconder de si mesmos e dos outros homens(ainda que ocorra a " comunicação ", rs, entre eles a partir da obra de arte). 
 Ao representar o mundo de acordo com seus pensamentos/sensações o artista apresenta uma percepção incompleta se não considerar a divisão social do trabalho. As ideias vagas devem ser respondidas com imagens que exprimam o que existe, na sociedade dos homens e não no distante ego celeste. Compreender a luta de classes significa preparar as imagens da libertação e não do escapismo.


                                                                               Geraldo Vermelhão

Arte e os fatos sociais:

Leitores que leem orelhas de livros não sabem, mas a expressão " estetizar a vida " possui um sentido que pode ser em grande medida reacionário. Um sentido conservador é obtido a partir de uma imposição esteticista: crer que a realidade deva ser moldada pela arte(ainda que numa proposta aparentemente libertária) é um grande risco político. Com isto quero dizer que se alguns acreditam que a realidade deva se basear em princípios artísticos, trata-se de legitimar aberrações políticas como o fascismo; afinal, não eram os nazistas que defendiam um projeto político fundado sob a irracionalidade da estética? É preciso compreender de forma correta a maneira como a arte pode agir politicamente.
 A arte não é  um reflexo e nem uma entidade autônoma. Podemos medir a sua dimensão ideológica tendo como base a maneira como a realidade está contida na linguagem artística. Não se trata de submeter a arte aos parâmetros da política, mas entender que a experiência artística possui  relações diretas com os fatos sociais. Deixar-se tragar pela experiência estética, num surto de irracionalidade, é a atitude que o artista comunista não pode ter: o artista comunista faz do seu olhar político, baseado na sua leitura objetiva da realidade, expressão revolucionária.

                                                                                 José Ferroso

A literatura realista para Engels :

Geralmente quando o escritor opta pela classe operária, o seu trabalho corre o risco de ser facilmente confundido com o de um propagandista de ideias políticas. Para o marxismo não é bem esta a contribuição política que a literatura pode oferecer. A crítica literária marxista exige evidentemente que o escritor apresente uma visão revolucionária, capaz de fortalecer e instruir o leitor trabalhador acerca da realidade social. Entretanto, a literatura possui seu próprio nível de realidade, sendo as leis internas da obra de arte os pressupostos básicos para que o trabalho do escritor contribua com a transformação política. Engels foi bastante claro em relação a isso em seus artigos e cartas.
   Engels estabeleceu análises contundentes sobre o realismo na literatura do século XIX. Em seus diálogos com escritores e intelectuais, como a escritora inglesa Margaret Harkness, o comunista alemão frisou que o realismo deve manifestar-se no plano da obra e não enquanto um recurso artificial que visa simplesmente ilustrar a posição política do escritor. Evidentemente que o romance de tese é de grande importância política, desde que a ideologia política não suprima a forma do romance, acabando assim por deturpar a obra de arte. Este é sem dúvida um pressuposto fundamental a ser considerado ainda hoje pelo escritor engajado e pela crítica literária.

                                                                                Lúcia Gravas