sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Informação subterrânea e antiarte:

Diferentemente daqueles que acreditaram na lorota do " gênio " em arte, militantes de coletivos culturais acercam-se cada vez mais de informações revolucionárias. Para aqueles que desejam participar da luta política e não ficar nos pedestais de papel, o que interessa são as estratégias poéticas que não estabelecem o culto da forma mas a libertação da expressão em toda sua vigência política transformadora.
  Para quem tem fome de informação, é comum observar verdadeiros hiatos na História da militância da antiarte. A coisa toda não ficou no Dadá: depois da Segunda Guerra Mundial, nos deparamos com inúmeros movimentos que dão um mapa legal daquilo que perturba a cultura oficial. Cobra, Letrismo, Fluxus, Provos e situacioniastas estão apenas entre os mais evidentes(e ainda pouco estudados no Brasil). O legal nestas informações subterrâneas, é encontrar ativistas que fizeram da intervenção urbana o princípio de uma moderna luta contra o status quo. Guy Debord pode até ter caído na lábia de alguns estudiosos acadêmicos. Porém, quem compreendeu de fato como combater a sociedade do espetáculo, sabe que o lugar das ideias de Debord é no front de batalha cultural/política.


                                                                                            Marta Dinamite 

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

A narrativa na sociedade alienada:

O empobrecimento da experiência a que refere-se Walter Benjamin, é um dado que não cessa de crescer na sociedade contemporânea. Interessados em estratégias culturais capazes de enriquecerem a subjetividade, ao mesmo tempo em que estas acionam para um questionamento político profundo do capitalismo, devemos sempre refletir sobre o potencial de intervenção contido no texto literário. Ainda que a literatura aparentemente surja enfraquecida dentro da cultura audiovisual, sua carga política é o que nos ajuda no trabalho diário para armar a consciência do proletariado. É inclusive a própria narrativa literária um elemento capaz de oferecer sustentação expressiva para outras formas de arte, como o cinema e o teatro.
 Quando capital pretende isolar os trabalhadores na rotina encerrada sobre a alienação no espaço do trabalho e do lazer(ou seja, o próprio o lazer é cada vez mais subordinado aos apelos ideológicos contidos na cultura mercantilizada), o texto literário não deve aparecer como refúgio ou gesto formalista. Optar pela difusão de obras literárias que interferem sobre a sensibilidade da classe operária, significa colaborar com o fortalecimento político desta classe. A narrativa no plano do romance por exemplo, é o que ajuda na leitura da própria realidade: diante da fragmentação da consciência, a narrativa auxilia na reflexão sobre um mundo fragmentado pelo capitalismo.


                                                                                                          Lúcia Gravas

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

A condição do artista operário:

O artista revolucionário é um trabalhador e um trabalhador deve ser um artista revolucionário. As condições de existência do trabalho do artista que não se sujeita ao poder do capital, são hoje em dia mais difíceis do que antes. Uma das razões para isso é que mesmo entre artistas e intelectuais que se dizem marxistas, encontramos exemplos detestáveis: é comum observarmos comunistas " bem sucedidos " na academia e no trabalho. Gente de classe média que incorporou valores hierárquicos, adoram tagarelar sobre seus conhecimentos quanto ao problema da exploração econômica. Todo este conhecimento oculta uma verdadeira gana para se obter poder e prestígio pessoal. Nada mais estranho ao marxismo do que isso.
  O artista operário deve lutar contra uma sociedade baseada em títulos acadêmicos,  aparências e elogios subornáveis. A atividade estética empenhada no combate ao universo burguês, revela sua verdade na constância, bravura e na maioria das vezes no anonimato. Criar as imagens que prenunciam a destruição do modo de produção capitalista, é uma atividade consagrada aqueles que dispensam todas as facilidades e paparicos da sociedade estabelecida.


                                                                                                        Lenito 

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Em breve: Ciclo de Cinema Soviético

Afim de contribuir com a construção de uma sala pública de cinema na cidade de Campinas, nós do Lanterna apresentamos o nosso próximo ciclo mensal de filmes no MIS(Museu da Imagem e do Som). O ciclo Cinema Soviético, que terá o seu início em março, conta com a exibição de filmes pouco discutidos de cineastas russos; cabendo destacar Pudovkin, Vertov e Eisenstein. 
Cientes de que a cultura do cineclubismo proporciona a formação cinematográfica da população, a escolha dos  filmes soviéticos consiste na disseminação de experiências que estabelecem a articulação intencional entre cinema e política. A própria linguagem do cinema ocorre dentro da construção cultural da União Soviética. Apresentar um pouco do cinema produzido num país que assistiu a Revolução russa de 1917 , ou seja o acontecimento político que revelou a tomada do poder pelo proletariado, significa esmiuçar as polêmicas políticas flagradas pelo debate estético. Neste sentido, a História do cinema soviético será vista em momentos distintos, como aquele que contempla a ligação orgânica da arte cinematográfica com os movimentos de vanguarda(em especial com o construtivismo russo) e o da posterior contra-revolução stalinista expressa nos filmes do realismo socialista.  Aguardem!



                                                                             Conselho Editorial Lanterna 

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Liberdade, Luta e Rock:

Abrir a cuca e alargar o horizonte político, é uma predisposição ideológica que passa pela questão da arte. Infelizmente na História do movimento estudantil brasileiro, encontramos exemplos de limitações e simplificações políticas que por não responderem concretamente aos problemas da realidade, acabam tendo uma visão tapada da criação artística. Mas, felizmente, o contrário também ocorre: historicamente correntes políticas e tendências estudantis fizeram da produção cultural um polo revolucionário, que torna-se embrião da vanguarda política. Nos anos setenta em especial, os caras da LIBELU(Liberdade e Luta) devolveram consistência ao pensamento marxista e amplitude para o debate estético.
 No âmbito da música, os trotskistas da LIBELU mostraram para a esquerda nacionalista que o rock não é " conversa do imperialismo ", mas uma postura musical que contesta até a medula os fundamentos morais da sociedade burguesa. Falando a língua de boa parte da juventude dos anos setenta, a LIBELU representa nas discussões políticas e artísticas da época, um salto da direção do internacionalismo revolucionário. As mudanças comportamentais trazidas pela contracultura via rock ´n´ roll , não foram vistas pelo trotskismo como um bicho papão reacionário, mas sim como um reforço bacana para a militância comunista. 


                                                                                                   Tupinik 

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

O fluxo da arte bolchevique:

Pollock em questão:

Jackson Pollock, uma das presenças mais vivas e polêmicas da pintura norte americana do pós guerra, trouxe importantes lições libertárias. Antes dos seus quadros servirem para decorar escritórios, Pollock ensinava que pintar envolve um processo de exteriorização altamente espontâneo. Porém, vem sendo apontada uma descoberta na Itália, que pode modificar o entendimento técnico que fazemos deste que é principal expoente do expressionismo abstrato. Analisando a obra de Pollock, especialistas revelam que em telas como Alchemy , de 1947, o pintor planejava seu trabalho: a composição não estaria desligada de formas figurativas.
 Até que ponto estas evidências " retiram " o campo de liberdade da action painting em Pollock? Não importa, ninguém pode negar que o artista é junto com o sax de Charilie Parker e a escrita de Jack Kerouac, um expoente da moderna cultura norte americana. Para um pintor revolucionário o legado da action painting ajuda na valorização de uma arte cujo resultado plástico final não topa com o racionalismo burguês.


                                                                                          Os Independentes

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Arte enquanto memória dos oprimidos:

Se a História das civilizações pode ser contada através da arte, não podemos deixar de pensar na sua própria dimensão ideológica. É lá no motor da luta de classes que os componentes estéticos adquirem relevância. É claro que o fenômeno artístico não pode ser reduzido a mera ideologia: as profundas necessidades humanas de expressão, dão voz aos mais diferenciados impulsos criativos(a tal da sublimação apresentada por Freud). Entretanto, aqueles que querem despolitizar a arte hoje pretendem fazer o mesmo em toda História da arte.
  As civilizações da antiguidade oriental e ocidental, a sociedade da Europa feudal, da idade moderna e finalmente da era contemporânea, ergueram suas culturas com base na divisão social do trabalho. Esta evidência revelada pela análise marxista, tende  a observar a arte dentro da organização social do trabalho. A pergunta que não quer calar é, enquanto as classes dominantes constituíram suas ideologias no campo da arte(que inclusive fornece no plano da imagem as contradições econômicas e políticas das civilizações), estando a experiência artística durante séculos inseparável do ritual religioso, como ela pode tornar-se também expressão das camadas exploradas da população? Para quem for realizar a pesquisa histórica da arte, é preciso levantar este imperativo ético na avaliação das forças estéticas. É a memória dos oprimidos de ontem e de hoje que a crítica marxista busca(para  o incômodo para os críticos reacionários).


                                                                                          Geraldo Vermelhão 

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Maiakóvski na veia:

O sacerdócio subversivo do poeta não é liga-se apenas ao material literário. Escrever é um processo de exteriorização que em autores como Maiakóvski , consiste no ato de lapidar o verbo. A poderosas imagens que emanam da escrita deste que o mais notável poeta soviético, não se conformam com o papel: elas cumprem uma trajetória altamente criativa, visitando cartazes, peças teatrais, discursos inflamados, filmes e chegam até mesmo em campanhas de conscientização contra doenças como o tifo. 
 Maiakóvski não é destes poetas tomados de inspiração vazia e que recaem nas armadilhas metafísicas da emoção poética. Para este poeta-militante, é preciso que o verso seja útil nas mãos do proletariado. Poesia em Maiakóvski não é coisa de bicho que mora nas nuvens, mas de bicho que faz da nuvem uma experiência concreta, que embeleza e eleva a consciência dos trabalhadores. Com tantos poetinhas individualistas, a altura de Maiakóvski deve inspirar os poetas revolucionários a chegarem até o teto da Revolução política.


                                                                                                Os Independentes 

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

A rebeldia de Jean Genet:

Em tempos de bom mocismo, de artistas que acreditam que para serem artistas é preciso estar na academia, é sempre bom recordarmos Jean Genet. Este rebelde ameaça qualquer noção de regra ou hierarquia social. Um periódico destinado a debater as implicações revolucionárias da arte, não pode desconsiderar artistas que como Genet, infiltraram-se no campo da moral do exército inimigo, para abate-lo: é a moral burguesa que Genet atacou na sua obra, sobretudo teatral. Aliás sua dramaturgia é de grande atualidade. Em São Paulo por exemplo, o grupo Tapa está encenando a peça As Criadas , e em março irá montar Splendids.
 Rebelde e homossexual numa França intolerante, Jean Genet " foi mais um " Rimbaud que desafiou as convenções artísticas e sociais. Se Jean Cocteau ficou impressionado com o atrevimento artístico de Genet, foi Jean Paul Sartre quem o apadrinhou e o defendeu de ataques conservadores. Jean Genet traz contribuições valiosíssimas para a arte de contestação social.


                                                                                             Marta Dinamite

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Leiam Mário Pedrosa:

Uma boa maneira de se combater ao histerismo nacionalista que alguns setores da esquerda brasileira insistem em sustentar, encontra-se nas reflexões estéticas do crítico e militante Mário Pedrosa. Não é apenas nos âmbitos das artes plásticas e da arquitetura que o legado de Pedrosa nos ajuda: é na teoria estética revolucionária de um modo geral. 
Vanguardas e Revolução são noções que os admiradores do lobo guará, da vitória régia e das antas tentam dissociar há um tempão. Embora também nos sentimos maravilhados com a natureza tropical do Brasil, não podemos utiliza-la para nos esconder da História. Tanto o proletariado quanto a arte moderna(e contemporânea) são fenômenos internacionais. É através deles que assumimos uma posição revolucionária na política e na cultura. A forma artística internacional que não topa a lenga lenga do nacionalismo, foi o principal objeto de análise de Pedrosa. Leiam tudo!


                                                                                                Os Independentes 

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Show Opinião: teatro, canção e protesto

Há exatos 50 anos a cantora Maria Bethânia trouxe uma tremenda energia para o Show Opinião. A canção Carcará, de João do Vale, está entre os registros legados pelo grupo Opinião. Teatro político e música popular eram os ingredientes desta iniciativa que pode ser considerada dentro da cultura, a primeira resposta contra o golpe de 1964. Sob o comando do teatrólogo Augusto Boal, Opinião reuniu uma soma de forças artísticas que opunham-se claramente ao autoritarismo da ditadura militar. Era o Teatro de Arena e os remanescentes do Centro Popular de Cultura(fechado pelo regime militar) que desafiavam a censura, deixando claro que ter opinião naquele momento implicava em denunciar as desigualdades sociais e ao mesmo tempo estar contra a ditadura.
 Passadas cinco décadas, o legado do Opinião é visto aos olhos de hoje como uma manifestação típica da cultura engajada e nacionalista do Brasil dos anos sessenta. O desenvolvimento revolucionário da arte no Brasil, acabaria por questionar os limites estéticos do nacionalismo esquerdista. Mas ainda assim, manter viva a memória do Show Opinião é cultivar na História deste país, um momento que ainda pode inspirar em energia e coragem a arte de esquerda.


                                                                                                 Lenito

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Rock: a verdadeira contribuição dos Stones

Acaba de chegar nas livrarias mais uma biografia sobre o rockeiro inglês Mick Jagger. Assinado pelo norte americano Christopher Andersen, Mick Jagger: A Vida Louca e Selvagem de Jagger(o livro saiu pela Alfaguara), apresenta os escândalos e a vida de um artista que confunde-se com a própria ruptura comportamental que a contracultura trouxe para os anos sessenta e setenta. Estas informações do livro são importantes, já que a música dos Rolling Stones não se separa das transgressões que marcaram a vida artística e política daqueles anos. Mas além destas questões, o que a trajetória dos Stones pode significar para um militante de esquerda deste início de século XXI? A resposta está no legado musical que durante a fase de ouro da banda, não se separa das formas de rebelião dos movimentos culturais de juventude.
  Antes de pintar o champagne e mais importante do que os excessos pessoais, o legado musical(e logo político) dos Rolling Stones é o que precisa estar em foco quando a trajetória da banda ou dos seus membros individuais é abordada.  Portanto a verdadeira contribuição histórica dos Stones está na criação do rock enquanto linguagem universal da revolta contra o status quo. Se com o tempo isto tornou-se incompatível com a conta bancária milionária da banda, isto não apaga a profunda identificação que a juventude proletária inglesa e de outros países tiveram com um conjunto de rock cujas atitudes desafiadoras e pesquisas musicais, estavam longe de compactuar com " gracinhas " do pop da época. Isto pode ser comprovado com alguns dos álbuns clássicos da banda, como Aftermath(1966), Beggar´s Banquet(1968) e Stick Fingers(1971). Para o militante de esquerda em particular, a importância musical dos Stones em um determinado momento histórico, é mais útil do que meros acontecimentos de ordem pessoal.


                                                                                                      Tupinik

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Cinema, sexo e transgressão:

Uma grande quantidade de consumidores que não se questionam sobre as relações entre sexo e organização social, aguardam ansiosamente pela estreia do filme Cinquenta Tons de Cinza, de Sam Taylor Johnson. Adaptação do livro de E.L James, realizada sob todo o esquema hollywoodiano, estreia amanhã no Brasil. Apesar das restrições morais que organizações religiosas estão fazendo em relação ao longa, é possível suspeitar do pequeno alcance que esta pimenta toda possui. Não estou opinando sobre o filme, já que ainda não assisti. Porém, pelo que se tem divulgado trata-se de mais um produto cultural que tem por tema a sexualidade mas que está longe de transgredir os tabus da sociedade burguesa. Um filme não é subversivo por tematizar e exibir cenas de cunho sexual. O sistema já aprendeu a colocar na coleira as mais diferentes formas de depravação, quando estas não ameaçam a ordem capitalista. A profanação dos valores burgueses através do sexo despudorado, ainda é uma experiência que no plano do cinema pode ser reservada a nomes como o cineasta surrealista Luis Buñuel. 
 Se alguém deseja saber quando o sexo torna-se um fenômeno socialmente perturbador no plano da arte, deve então dar uma informada sobre o que rolou em 1930 durante a estreia do filme A Idade de Ouro, de Luis Buñuel e Salvador Dali. Durante sua estreia num cinema em Paris, a sala foi destruida por grupos de extrema direita.  Neste longa que foi recentemente exibido pelo canal Futura, e que ficou durante décadas proibido na Europa, notamos o desejo sexual enquanto força que se rebela contra a moral burguesa: nunca as instituições dominante foram tão brutalmente atacadas no cinema. Um casal insurge-se contra as barreiras sociais para vivenciar um amor desvairado, carnal, incontrolável, que para existir precisa negar violentamente todas as convenções religiosas e sociais. É pois o delírio enquanto manifestação subversiva do desejo que pode conferir ao cinema (e ao próprio sexo) um estatuto de subversão social.


                                                                                              Marta Dinamite

Porque o socialismo científico necessita da arte:

A teoria do socialismo científico arquitetada por Marx e Engels, representa mais que um salto qualitativo na História do pensamento socialista: é uma concepção filosófica da História em que não basta interpretar mas sim agir/transformar politicamente a realidade. Esta concepção no entanto , apesar de possuir uma metodologia científica, necessita da experiência artística para concretizar os seus objetivos políticos. Com isto quero dizer que se a organização social do trabalho é o ponto de partida para compreendermos as sociedades humanas, o próprio trabalho enquanto extensão do corpo do homem, possui um caráter estético: os sentidos construidos historicamente no trabalho, não se separam da formação da consciência de classe. Portanto no âmbito das ideologias existentes na sociedade de classes, a arte pode ser utilizada enquanto verdadeiro processo desobstrutivo da alienação social.    
Hoje alguns marxistas apresentam reservas quanto ao termo socialismo científico. Para eles esta seria uma expressão que condiz com uma certa influência cientificista no pensamento comunista do século XIX. Apesar destas polêmicas, faço questão de sustentar esta expressão para que possamos diferenciar a abordagem marxista das outras concepções do socialismo. Mas se o método científico aplicado no estudo da História, filosofia, sociologia e outras áreas possibilita a crítica social, qual seria o papel reservado ao trabalho artístico? Compreender a mundo em que vivemos não é apenas um processo analítico mas sensível. A arte não nega o socialismo científico, mas integra-se a ele nas ações que visam mobilizar os sentidos para a luta política. Aliás, a arte requer o próprio reconhecimento científico do marxismo, como comprovam por exemplo Eisenstein e Brecht.



                                                                                      Geraldo Vermelhão

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

O poeta enquanto militante:

Sempre quando falamos aqui em poesia, trata-se de uma concepção que ultrapassa a mera categoria do poema e logo da própria literatura. Ser poeta implica num estado de espírito enraizado na própria atitude poética: flanar e perceber as realidades ocultas nas paisagens e nos mais variados objetos, revelam uma posição que quando não enfrenta abertamente ao menos contrasta com a mentalidade capitalista reinante. Quer dizer, o reino da mercadoria e suas normas alienante apresentam formas repressivas, portanto inimigas da experiência poética em seu sentido mais profundo.
 O poeta é um inimigo " natural " do capitalismo. Deixar-se tragar pelo sonho e pelas visões interiores geram choques comportamentais e reprovações de ordem moral: aos olhos burgueses não são atitudes produtivas mas experiências que não geram lucro; e inclusive contradizem as imagens apelativas/manipuladoras do sistema. Diante disso tudo, pode o poeta estar indiferente quanto ao poder político? Pode ele abrir mão de olhar, refletir e agir no plano político? Política e poesia são os elementos que nos possibilitam lutar contra a sociedade burguesa. Evidentemente que os instrumentos do poeta não são os mesmos utilizados pelo militante revolucionário. Mas cabe salientar que o poeta não é um bicho aéreo e portanto alheio aos problemas sociais. Os poetas devem compreender o poder político que possuem: a poesia é uma força fundamental que inspira e transforma nossa sensibilidade, ameaçando por completo o Estado capitalista.


                                                                                            Os Independentes   

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Tinhorão e as supostas fronteiras da música:

A reedição do clássico Música Popular: Do Gramofone ao Rádio e TV, de José Ramos Tinhorão, merece não apenas nossa atenção, mas uma reflexão sobre a dinâmica história da música popular no Brasil. O livro que foi publicado em 1981, e agora reeditado pela Editora 34, é um trabalho mais do que pioneiro: é uma análise histórica que reconstitui as relações entre a música popular brasileira com a própria formação dos meios de comunicação de massa no Brasil. O fato é que Tinhorão além de impor-se como crítico musical orientado por uma concepção específica do marxismo, lega trabalhos de fôlego que fazem do autor um dos historiadores mais competentes da música popular no Brasil. Porém... não é novidade que a concepção estética de Tinhorão, formada dentro do nacionalismo de esquerda, carece em nossa opinião de percepção histórica na análise da contribuição progressista da moderna música feita no Brasil.
 Mesmo entre aqueles que assim como Tinhorão eram nos anos sessenta guiados pela ideia de uma arte " nacional e popular ", encontramos polêmicas: é conhecido o debate que Tinhorão travou com o pessoal do Show Opinião em 1965, acusando seus integrantes de realizarem " uma apropriação de classe média " da música popular. Aliás, é sob este raciocínio que procura estabelecer fronteiras de classe e de nacionalidade que levaram o crítico e historiador a esculhambar o que de mais avançado ocorreu na música brasileira(da Bossa Nova ao Tropicalismo). 
 É claro que a música possui uma origem de classe, mas isto não faz automaticamente com que seu significado político seja necessariamente reacionário ou revolucionário. É verdade que a indústria cultural apropriou-se historicamente(e criminosamente) da música de origem proletária, como seria o caso do samba. Entretanto, alguns compositores e intérpretes de classe média em sua origem social, fizeram uma leitura revolucionária da canção popular, que desafiou e atacou os valores da classe dominante. É esta mesma predisposição musical enraizada na contestação cultural, que trouxe o uso político da guitarra elétrica na canção brasileira, ampliando seu significado estético numa sincronia internacional a partir do fim dos anos sessenta(Gil e Caetano que o digam).
  Evidentemente que temos informações importantíssimas nos trabalhos de Tinhorão: seus estudos estão entre o que de mais pertinente existe na crítica musical realizada no Brasil. Mas, ao mesmo tempo, não podemos tomar suas reflexões como sendo a única interpretação marxista da música popular brasileira. Críticos como Tinhorão fazem falta num momento em que a imprensa torna-se cada vez mais reacionária. Porém, devemos mostrar que a análise marxista precisa valorizar as transformações musicais progressistas e questionar as limitações do nacionalismo.


                                                                                                    Tupinik

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Cineclube Catavento completa três anos:

O Cineclube Catavento, um dos coletivos mais atuantes da cidade de Campinas, está completando três anos. Sendo uma realização do coletivo Moinho em parceria com outros coletivos culturais de Campinas, o Catavento vem exercendo um importante papel na vida cinematográfica da cidade. Em suas atividades no espaço público do Museu da Imagem e do Som de Campinas, o Catavento participa da criação de um contexto de difusão do audiovisual, que se opõe radicalmente ao comercialismo que tanto empobrece a experiência com o cinema.
   2015 também promete ser um ano de intensa atuação do grupo. Segundo seus organizadores em release divulgado na internet: " (...)Neste ano de 2015, o Cineclube Catavento inicia o ano já com uma programação mensal até o mês de junho com obras sobre políticas públicas e privadas, educação não-formal, temáticas indígena, cotidiano urbano, a questão do aborto na sociedade , entre outros. " Após esta mostra que se realiza no MIS de Campinas, o grupo irá durante o segundo semestre, continuar realizando a curadoria de filmes nacionais e/ou independentes em sessões mensais; além de atuar diretamente sobre a organização colaborativa do V SEDA- Semana do Audiovisual Campinas. Cabe enfatizar que o V SEDA, como o próprio pessoal do Catavento salienta, é uma semana voltada para " formações, debates, exibições, projeções, produções, ocupação dos espaços públicos, entre outras atividades que ocupam e debatem a cidade de Campinas ". Um brinde ao Catavento!


                                                                                Conselho Editorial Lanterna 

A questão do Teatro Operário:

Um erro básico do idealismo teatral, é colocar pequenos burgueses para representar personagens proletários. Se existe uma lição fundamental dentro do teatro que se quer participante da vida política e das grande questões sociais, é  a de que precisamos formar atores, diretores, dramaturgos e teatrólogos de origem proletária. Isto pode até soar " proletarizante demais ", mas não é: se o teatro que desejamos é uma reflexão sobre a realidade na sociedade de classes, ele só pode adquirir relevância política quando artistas trabalhadores se comunicam (pela força expressiva nascida de sua vivência de classe) com um público de trabalhadores.
 É muito frequente encontrarmos na História do teatro político brasileiro, a representação cênica da luta operária feita por e para classe média. De fato muitas destas iniciativas são honestas em sua intenção de colaborar com a interpretação crítica da realidade. Mas isto não basta: sendo o proletariado protagonista de suas lutas políticas, ele também deve ser protagonista nas suas criações artísticas. É dever das organizações políticas de esquerda, introduzir a classe operária brasileira nas lições teatrais de gente como Piscator. 


                                                                                                  Lenito 

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

O proletariado também necessita de imagens:

A representação visual da classe trabalhadora, não baseia-se apenas em seus problemas, mas em suas lutas políticas(que procuram resolver tais problemas). Os perigos do paternalismo na arte que representa o movimento operário, são eliminados quando o espírito de combatividade e resistência é enfocado pelo artista. Mas por que esta insistência quanto ao apelo visual contido na luta proletária? A resposta passa pelo fato dos trabalhadores necessitarem de imagens, para que eles não apenas se reconheçam enquanto classe, mas enquanto parte pulsante de um movimento que além de político também deve se concretizar cada vez mais no plano da cultura.
 Pinturas, gravuras, fotos e outras linguagens são tão urgentes quanto boletins, jornais e assembleias. Tal urgência baseia-se no fato da classe operária precisar diferenciar-se das imagens alienantes da máquina capitalista, que procuram ocultar a luta de classes e promover a terrível ficção em que todos são apenas " consumidores". O proletariado necessita de imagens combativas.


                                                                                                  José Ferroso 

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Romance e realidade social:

Ainda que a origem cultural do romance não se separe do caldo burguês, este gênero possui demonstrações históricas de ser uma arma nas mãos da classe trabalhadora. O romance por assim dizer social, cujo pleno florescimento deu-se na literatura brasileira durante anos trinta(e está longe de ter chegado em seus momentos derradeiros), oferece um campo de informações que faz a ficção interferir na própria realidade histórica. Escrever um romance pode ter as mais distintas motivações. No caso do ficcionista social, tais motivações são conscientemente políticas.
 A palavra escrita consegue de fato intervir na realidade social, quando o escritor estrutura uma narrativa em que os fatos sociais são apreendidos no próprio plano literário. Desta maneira a ficção faz dos personagens postos em diferentes situações, a ilustração das fraturas da sociedade de classes. O leitor não filia-se a um autor ou estilo literário, mas a uma ideia política potencializada pelo autor que desenvolve o seu estilo. Que se leia o verdadeiro romance social: aquele capaz de fazer o leitor acordar!


                                                                                        Lúcia Gravas

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Em defesa do porão:

Se existe uma prática musical que não pode se perder, é aquela que diz respeito aos garotos que escutam rock nos pequenos espaços. Como já disse em outras ocasiões, não acredito que o underground seja um atalho para se chegar ao mainstream. O underground permite um tipo de experiência social em que música e público são partes orgânicas da mesma realidade artística. De que se trata esta realidade em termos políticos? A liberação dos bichos interiores no palco não é exorcismo pessoal, mas uma manifestação cultural que aponta para o ódio contra a opressão da sociedade burguesa. Afinal de contas, se o modo de produção capitalista atendesse a todos os indivíduos, por que o punk rock, por exemplo, é tão alto, agressivo e urgente? 
  Para que a música não se plastifique totalmente, o espaço simbólico do porão garante o velho espírito de revolta que é renovado por  bandas jovens. Saiamos em defesa do underground não enquanto espaço encerrado em si mesmo, mas enquanto prática que garante a existência da oposição ao sistema estabelecido.


                                                                                                     Tupinik

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

A violência da arte brasileira:

Faltam três meses para a abertura de uma mostra sobre arquitetura latino americana no Moma, em Nova York. Mais uma vez, iremos nos deparar com olhar dos gringos sobre o que de mais avançado existe nas experiências estéticas brasileiras dos últimos anos: exemplo disso seriam os importantíssimos projetos da arquiteta Lina Bo Bardi, que foi celebrada internacionalmente em seu centenário durante o ano passado. Pois bem, como será que a crítica de arte norte americana e europeia entendem a nossa modernização artística? Levando em conta que esta crítica a exemplo do que também ocorre no Brasil, cerca-se de critérios mercadológicos e de um olhar que tende a menosprezar a arte latino americana diante da possibilidade desta reafirmar de modo revolucionário sua cultura, a despolitização via exotismo poderá ser um caminho. Tratando-se da arte brasileira em especial, precisamos de uma vez por todas acabar com exotismos e paternalismos não apenas para reafirmar nossa identidade cultural, mas para localizar o caráter político que reage contra a dominação econômica e política do imperialismo.
   Não nego que existam artistas e críticos avançados nos países capitalistas ricos. Porém, se somos constantemente invadidos pela cultura imperialista e isto soa como " natural ", a oposição artística é no mínimo uma exigência histórica. Como frisaram Oswald de Andrade e Glauber Rocha(provavelmente os estetas cuja contribuição revolucionária é mais do que atual) não se deve buscar nem a cópia e nem o reconhecimento do observador estrangeiro. É pela violência estética que fazemos os colonizadores de hoje compreenderem o quanto somos originais e como nossos interesses políticos são opostos. Não precisamos que ninguém diga como é e como deveria ser a nossa arte. Se existe algo que os norte americanos deveriam conhecer é a nossa energia revolucionária.


                                                                                             Geraldo Vermelhão

As lições Situacionistas:

Definitivamente a sociedade do espetáculo, cujo funcionamento e formas de dominação foram brilhantemente analisadas por Guy Debord em seu livro homônimo, não brinca em serviço: uma incansável capacidade de neutralização e esvaziamento da mensagem política subversiva, faz do capitalismo um adversário que não é mole não. Porém, é no jogo político que o próprio movimento dialético da História vislumbra, que encontramos a possibilidade de atacar simbolicamente. Neste sentido as lições situacionistas  representam táticas de contestação que ainda podem alimentar coletivos de militantes.
 A arrogância situacionista e sua maneira exagerada de menosprezar a atividade artística, precisa ser evidentemente questionada. Entre 1957 e 1968 os situacionistas esculhambavam os " velhos surrealistas " e defendiam que a época dos relatos artísticos havia acabado. A própria experiência política subversiva exigiria a supressão da arte e dos relatos poéticos para a sua " realização concreta ". Se estas afirmações não suprimiram a necessidade histórica da arte, ao menos contribuem para uma aplicação revolucionária do signo, deixando de lado contemplações vazias e as relações alienantes com a obra de arte. A própria noção de intervenção urbana, presente entre coletivos brasileiros, sobretudo após as revoltas de junho de 2013, mostra o quanto podemos aprender com os " velhos situacionistas ": apropriar-se da cultura de massa e subverter seus símbolos que exprimem o poder do capital, reinventar a experiência social no espaço alienado e realizar vídeos que combatem no plano da comunicação a mídia burguesa. Os situacionistas ainda não foram atropelados pela História.


                                                                                                  Os Independentes

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Alex Viany e o marxismo no cinema brasileiro:

Não é a primeira vez que falo da contribuição decisiva que o cineasta, crítico e historiador Alex Viany deu ao cinema brasileiro.Além de atualizar a crítica do país em relação ao estrondo estético do Neo Realismo italiano, Viany inseriu no Brasil do pós-guerra o marxismo enquanto método que também responde aos problemas da sétima arte. Ao chamar nossa atenção para a criação de uma estética cinematográfica brasileira, capaz de reagir plasticamente/politicamente contra o imperialismo expresso no domínio mercadológico e cultural de Hollywood, Alex Viany trilhou um pensamento que culminaria, por exemplo, no movimento do Cinema Novo. Eu já disse isso em outras oportunidades? Sim, e não me canso de dizer por uma única razão: é  um tremendo absurdo dispormos de poucos estudos e não termos quase nenhum acesso aos filmes de Viany. Tenho certeza que o futuro do pensamento cinematográfico brasileiro passa pelas reflexões de Alex Viany.


                                                                                                         Lenito