sexta-feira, 29 de agosto de 2014

A arte deve combater a divisão social do trabalho:

Criticando a visão do " indivíduo excepcional " defendida pelo anarco-individualista Max Stirner, Karl Marx denuncia  o que oculta a expressão " talento artístico ": (...) " A concentração exclusiva do talento artístico em determinados indivíduos e sua supressão correlata entre a massa do povo é uma consequência da divisão do trabalho(...). Na sociedade comunista não há pintores, mas, no máximo, pessoas que, entre outras coisas, também pintam "(...). É possível imaginarmos o efeito perturbador que a afirmação de Marx pode ter entre muitos artistas provenientes da pequena burguesia. Afinal de contas, para justificar suas existências domesticadas, estes precisam defender o mito do " artista genial ". Marginalizados ou aceitos, estes artistas fazem funcionar a roda de todas as vaidades que alimenta prêmios, bajulações, enfim toda hierarquização que determina quem são os mais " talentosos ". Se por hora o artista está no " underground ", isto é admitido pelo sistema que algum dia poderá torna-lo aceito e consequentemente converter sua obra em moeda de troca.
 Como se não bastasse o fato  da arte contemporânea atravessar uma crise que se arrasta por décadas, as instituições comprometidas com o capital valorizam os patéticos super homens da arte: num mundo regido pela competição, o individualismo é uma força parasitária que deve levar o artista " ao topo ", " ao sucesso ". Estes valores envaidecem e portanto impedem a compreensão da divisão social do trabalho. Aliás todo este reacionário espírito de " estéticas empreendedoras " (rs rs) faz com que deixemos de analisar que a arte, assim como qualquer outro ramo da produção humana, é trabalho e conequentemente aceita ou desafia a sua organização. 
 Na batalha cultural que deve contribuir para a construção da consciência política dos trabalhadores, precisamos desmistificar " os artistas geniais " e ajudar a promover o artista militante e logo comprometido em dissociar obra de arte de mercadoria. 

                                                                             Geraldo Vermelhão/José Ferroso 

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

A linguagem cinematográfica que carrega as imagens da libertação:

Diante das imagens impositivas que o sistema nos enfia goela abaixo, muitos se esquecem de que o cinema pode ser outra coisa. Ser instrumento de poesia e  rito de reflexão política são qualidades da sétima arte, num sentido que pode ser mais desafiador do que se possa supor. Se o capitalismo domestica nosso aparelho perceptivo, sobretudo através do apelo audiovisual, o contraponto disto é a estética que rompe os pressupostos gramaticais destas imagens cadeados: o filme pode ser a reivindicação de uma sociedade que ainda não existe.
 Diferentemente de olhar pelo buraco da fechadura para espiar covardemente o que desejamos, o cinema revolucionário precisa sonhar com o fim de todos os pecados fictícios. É este cinema que também olha criticamente a condição humana em suas determinações históricas, negando o apaziguamento das contradições sociais; ou seja, um cinema potencialmente libertador é aquele que não oculta mas revela os mecanismos concretos da vida humana. Mas por hora sãos poucos os espíritos livres que assumem este tipo de responsabilidade política sobre o ato de fazer cinema. Acho tragicômico estas pessoas aficionadas pela mesmice dos macetes hollywoodianos e pela pobre linguagem da TV refém do imperialismo norte americano. Como é possível que exista tanta gente que enfeita e pole com carinho suas próprias correntes? Perante esta meleca cultural o jeito é insistir e produzir um cinema que acredita no homem: filmes que falem de seres humanos que não aceitam as formas modernas de escravidão da sociedade burguesa.


                                                                               Marta Dinamite

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Rock, Socialismo e Imperialismo:

Um amigo muito querido, falou-me sobre algo que eu desconhecia por completo: durante o final da década de cinquenta na União Soviética, os jovens driblavam a censura do Estado copiando em chapas de raio-X discos de rock. Fiquei surpreso, pois mal supunha que no mesmo momento em que o rock `n ` roll desafiava a moral burguesa nos EUA, a juventude do bloco socialista também estava muito curiosa sobre este dinamite musical. Tá, eu sabia que os discos de rock chegavam com muito atraso na ex- URSS, que a censura era implacável, que as autoridades soviéticas consideravam Elvis Presley pirado e os Beatles mal exemplo para os adolescentes e que um show do Pink Floyd foi a trilha sonora para o enterro do bloco " socialista ". É curioso como o rock perturbou as duas grandes potências nos tempos da guerra fria. Se constatamos historicamente que o rock foi duplamente considerado fora da lei durante a esquizofrenia cultural daquele período, então o debate musical assume uma dimensão bem mais aprofundada. 
 A classe dominante adora utilizar o rock como exemplo de  "democracia " nos países capitalistas. De fato o controle burocrático sobre a cultura , fez da política cultural  da extinta URSS um acumulo de bobagens. Tudo indica que o movimento dialético da cultura impediu que o gosto cristalizado das autoridades fizesse morada nos ouvidos dos adolescentes russos; naturalmente a garotada desejava uma música capaz de traduzir  suas inquietações.  E olha que existe uma História do rock russo... Mariana Reis num artigo muito bacana publicado na Gazeta Russa, faz um belíssimo panorama do assunto, expondo importantes bandas soviéticas( http://br.rbth.com/).
   Diante da propaganda capitalista que faz uso do rock, devemos tomar o devido cuidado para não sermos corneteiros do capital: se o " socialismo real " temia as expressões culturais do ocidente, em contrapartida não é verdadeiro que o rock seja o coroamento da economia de mercado e do conformismo político.É muito comum que modelos socialistas nacionalistas temam o que vem de fora: cantos, penteados, instrumentos e atitudes podem ser utilizados pelo imperialismo para demarcar terreno e corroer os hábitos da classe trabalhadora. Porém, no caso do rock, o indisfarçável tom de protesto e ataque aos valores estabelecidos, não o coloca enquanto aliado do imperialismo, mas sim enquanto antítese da ordem capitalista. Tão isto é verdade que durante a guerra fria as ditaduras latino americanas desconfiavam que o rock era um fermento de desagregação dos costumes e das tradições, o que facilitaria a emergência da revolução proletária(já mencionei esta questão em outro artigo, quando cito que no Brasil de 1974 a ditadura proibiu os Rolling Stones de tocarem). Paralelamente é verdade que muitos rockeiros foram e são politicamente ambíguos, quando não reacionários: é só olhar atualmente o chamado rock neo conservador. Em contrapartida, outros rockeiros não deixam de acenar para o inconformismo político, numa perspectiva próxima da esquerda.
 Hoje em dia, quando o capital saqueia o globo sem que existam muitas resistências, fica difícil analisar o quanto o rock ainda pode ser politicamente perigoso. Entretanto, existe uma evidência que acena para um norte: para a maioria dos jovens militantes de esquerda, a sonoridade identificada á revolta contra a classe dominante passa principalmente pelas estruturas musicais do rock. Dentro das organizações de esquerda, que devem realizar dentre outras coisas o debate musical, a construção de uma nova política cultural socialista, faz com que o rock esteja necessariamente presente. 


                                                                                                Tupinik 

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Abaixo o gênio! Salve o artista coletivo:

A criação artística tende cada vez mais a se tornar um evento coletivo. Esta seria uma das contradições fundamentais da cultura atual dentro do modo de produção capitalista. Por mais que sejam criados prêmios, babações de ovo e puxa saquismos envolvendo " as grandes celebridades do mundo das artes " , tudo levar a crer que diante das novas realidades técnicas(sobretudo digitais) as potencialidades expressivas dos trabalhadores podem culminar em importantes manifestações artísticas(revelando inclusive grandes avanços sob o ponto de vista político, de classe). Mas antes que os artistas ególatras iniciem seus protestos cuja causa maior é o umbigo, as formas de coletivização da arte não suprimem a individualidade: ao contrário, a consciência individual e as particularidades de quem cria(estilo, unidade expressiva) tendem a não entrar em conflito com o coletivo, pois acabam por ultrapassar a mera condição de mercadoria. Isto em potencial, pois as artimanhas do capital não podem ser subestimadas...
 As inclinações históricas para o artista coletivo encontram enormes barreiras de ordem ideológica. Da criação de vídeos á arte de rua( especialmente fotomontagens, desenhos e pinturas enquanto intervenções urbanas) nota-se uma grande produção cultural que como tudo aquilo que ameaça o controle econômico da classe dominante, tende a sofrer cooptações pelas grandes instituições. Bem, para que esta produção de fato vingue e contribua para a solidificação de práticas culturais anticapitalistas, necessitamos de um empenho político de conscientização do chamado artista de rua.Se as organizações de esquerda desejam combater a ideologia dominante, é importante conceber o espaço do partido e do sindicato enquanto contextos para a interação artística: tão importante quanto entregar panfletos e difundir programas políticos é fazer com o que os trabalhadores criem, produzam arte. É hora de enterrarmos os gênios e incorporar seu legado numa arte nova e coletivizada.


                                                                                José Ferroso

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Bienais e a arte que age sobre o que existe:

De 1951 pra cá, a Bienal de Artes de São Paulo é a grande porta de entrada para compreendermos as principais mutações estéticas e as principais inquietações na arte contemporânea. Estamos ás vésperas da trigésima primeira edição da Bienal, cujo título é Como Falar de Coisas que não existem. O evento que irá ocorrer entre 6 de setembro e 7 de dezembro, será uma grande oportunidade para obtermos um panorama sobre a produção artística dos nossos dias. De nossa parte, continuaremos a insistir no fato de que a arte é uma dimensão fundamental da luta política para a emancipação humana. Minhas expectativas se concentram no fato de poder encontrar este caráter transformador pelo menos em parte das instalações, pinturas, fotos e esculturas do evento.
 O tema da Bienal 2014 pode atrair sob o ponto de vista filosófico: criar sobre o que ainda não existe; fazendo crer que aquilo que " ainda não é " pode ser criado. Esta reflexão é fecunda, mas creio que é preciso sobretudo criar sobre o que existe, e neste sentido refiro-me a um mundo feito de miséria econômica e de alienação. Parece-me que o essencial na arte do nosso tempo não deve ser a fragmentação passiva que aguarda novos paradigmas. Os paradigmas já existem e devemos assim agir sobre a realidade. Portanto, a tão referida pós-modernidade não passa de uma radicalização da modernidade, pois os problemas essenciais que esta última levanta não só não foram resolvidos como estão presentes sob uma nova roupagem histórica. Com toda certeza, estes problemas concretos da realidade social devem ser percebidos pelos artistas mais sensíveis que irão expor na Bienal. Este é o caso do artista indiano Prabhakar Pachpute: nome evidente nesta edição do evento(o cartaz da Bienal 2014 possui a sua assinatura), sua obra aborda as condições de vida dos operários que trabalham no subterrâneo das minas. Comprometido com os problemas dos trabalhadores, Pachpute é  sem dúvida o modelo de artista que pode contribuir efetivamente com a arte contemporânea.


                                                                                             Lenito

sábado, 23 de agosto de 2014

É preciso lembrar os crimes do Estado Novo contra escritores e artistas:

Estão rolando homenagens por demais carinhosas ao presidente Getúlio Vargas. Porém, pensando nos tempos sombrios do Estado Novo(1937-45), fica difícil não nos lembrarmo-nos também da censura, das perseguições e das prisões de inúmeros militantes comunistas, inclusive escritores e artistas. Mesmo antes de Vargas ter dado(mais um) golpe em fins de 1937, a barra já estava pesada para vários escritores que procuravam fazer da literatura um instrumento de reflexão social e oposição política(em 1936 muitos começaram a ir em cana). Patrícia Galvão, Jorge Amado, Rachel de Queiroz e Graciliano Ramos estão entre os nomes mais conhecidos que foram vítimas da intolerância política de Vargas.
 Se é para fazer homenagens, nós do Lanterna preferimos homenagear artistas e intelectuais que tiveram coragem de revelar um país marcado de cabo a rabo pelas desigualdades: camponeses famintos, retirantes e operários em luta contra o capital. Não era isto que aparecia nas patéticas propagandas do DIP. Como poderíamos então ser condescendentes com o nacionalismo e o autoritarismo da Era Vargas? Como esquecer as prisões e a tortura contra aqueles que lutavam por uma sociedade igualitária?  Nosso brinde vai para os artistas revolucionários e todos os militantes que não tiveram medo de expor a verdade social acerca de um país feito de profundas contradições.


                                                                                Conselho Editorial Lanterna 

Livro comprova que a geração beat ainda é o grande barato:

Na contramão da vidinha literária brasileira, acadêmica e regada a chazinho com biscoitos, o legado da beat generation cumpre um papel seminal entre os poetas contestadores. Isto vem se confirmando sobretudo nos últimos quinze anos, quando os espíritos literários mais antenados e inquietos, percorrem os botecos da vida com livros de bolso de autores como Ginsberg e Kerouac, declamando poemas ou trechos de romances; ou ainda discutindo calorosamente as correspondências diretas entre arte e vida através de uma escrita libertária. Para este pessoal que contribui com a literatura anti establishment muito mais do que os chamados " clássicos engajados " do romance social,  aqui vai uma boa notícia: o poeta, tradutor e ensaísta Cláudio Willer acaba de lançar pela L&PM Os Rebeldes: Geração Beat e Anarquismo Místico. Trata-se de um estudo porreta, no qual Willer expõe enquanto um dos principais pesquisadores do assunto no Brasil, que os beats trouxeram importantes valores de emancipação para o texto literário e para as demais formas de contestação social. Willer, ao lado de outros poetas como o falecido Roberto Piva, revelou o valor internacionalista da beat, produzindo um legado poético original em clara conexão com a contracultura norte americana.  
A conexão da jovem poesia brasileira com a geração beat não cessa de crescer, sendo portanto bem vindo mais este livro de Cláudio Willer, um amigo valioso dos jovens poetas iluminados deste país.


                                                                                Os Independentes  

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Um teatro que arranque o espectador da cadeira:

Fico particularmente horrorizada com as tentativas de subordinar a arte teatral ao texto com mensagens políticas mastigadas. Ué, se a experiência cênica não se diferencia da pura propaganda, seria mais fácil largar mão do teatro e dirigir políticos e figurantes nas atuais campanhas partidárias. Enquanto acontecimento, o teatro pode combater a ordem capitalista de diferentes maneiras. Acho moderníssima a atitude de gente como Meyerhold e Piscator, baseada no conflito entre classes sociais que é posto numa apreensão que reformula a linguagem teatral. Mas ainda assim, acho que fica faltando algo mais, algo que possa chegar até o fundo da cabeça do espectador, no fundo do seu eu, lá na camada mais antiga da mente, denominada por Freud de id.
 Longe de mim querer reduzir as coisas no plano do irracionalismo, mas o racionalismo também não ajuda em nada. Creio que o teatro possa ajudar a arrancar não apenas as máscaras da burguesia, mas o figurino que ela impõe para todos nós; e não falo somente de roupa mas de um tipo de corpo, de um corpo resultante de uma educação repressiva que leva a uma experiência corpórea que dissocia espírito e matéria. Portanto mergulhar no inconsciente do espectador também deve ser entendido enquanto ato militante libertário. Mas falar objetivamente dos problemas políticos também não significa automaticamente caretice. Entre o cuecão stalinista que prega o proselitismo e o artista de classe média que só quer amalucar a linguagem teatral porque não assume uma clara posição política, existem alternativas.
 Não estamos mais nos anos setenta, quando optava-se ou por Brecht ou por Artaud. Quem realmente leu estes autores sabe que ambos são fundamentais para a criação teatral. Chega de polarizações: o fato é que o espectador passivo aumenta na sociedade contemporânea; sobretudo quando o teatro está infestado pelo que de pior pode existir em termos de indústria cultural. Temos que chegar no fundo do espectador, liberar o seu inconsciente, mas não para adapta-lo ao mundo estabelecido ou faze-lo sair pela tangente pós-moderna. Ou seja, a imaginação livre e a análise dialética trabalham, em suas diferenças estéticas,  no mesmo palco para um objetivo comum:  nocautear a cultura da classe dominante.   


                                                                                Marta Dinamite


quinta-feira, 21 de agosto de 2014

O combate contra retrocesso estético no cinema brasileiro:

Se a proliferação de novas tecnologias digitais é algo que faz aflorar a produção audiovisual, temos que observar ao mesmo tempo qual é a formação ideológica de quem filma. Tratando-se especificamente do cinema brasileiro, aquele que projeta bilheteria e deixa o mercado sorridente, devemos nos perguntar o que pensa e o que pretende expressar o cineasta. Alguns irão falar que é preciso filmar aquilo que " o público " quer. Portanto, a exemplo da teledramaturgia cada vez mais mutilada e redundante, não cabe invenção e reflexão sobre a raiz dos problemas econômicos e sociais, pois a fórmula do sucesso é o que importa. Outros dirão que no cinema brasileiro de hoje existe uma " diversidade de olhares ", maneiras muito pessoais de olhar a vida no Brasil. Não haveria assim problemas objetivos da realidade brasileira, mas apenas impressões pessoais. Diante de tudo isso eu digo que é preciso pensar em uma formação intelectual progressista entre os cineastas brasileiros.
 Quando falo em formação, não é só esse negócio de escola de cinema, de universidade. Tudo isto é importante, mas um cineasta disposto a olhar com coragem intelectual os problemas do nosso país, precisa ser bicho solto: ele precisa dominar técnicas de filmagem, edição, produção, distribuição, etc e tal; mas ao mesmo tempo ele precisa conhecer uma dramaturgia revolucionária como a de Brecht, Piscator e Meyerhold. Fundamental também é a sua formação literária, cabendo a ele conhecer autores que produzem imagens críticas sobre o país, tais como aquelas que aparecem em gente como Graciliano Ramos e José Lins do Rego. Filosofia, História, sociologia e psicologia, oferecem importantes instrumentos de análise, especialmente se estas se relacionam com o Materialismo Dialético. E por fim, o cineasta que precisamos é aquele cinéfilo que concebe uma História cinematográfica feita de filmes desafiadores, politicamente engajados.  É isso ou perfumaria na tela.

                                                                                           José Ferroso

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

A poesia surrealista não é evasão: é ação transformadora!

O ato da poesia, assim como o do amor, não implica nem em regras e nem em modismo. A palavra tem um valor de sonda, que ao englobar as profundezas mais intimas do ser, só pode ressurgir na rotina vagabunda dos homens alienados com a violência de uma imagem livre. É disso que se trata o programa do surrealismo. A poesia surrealista não apresenta rugas porque ela ainda responde ás restrições que a civilização burguesa impõem ao humano. Sem dúvida que enquanto movimento o surrealismo possui historicidade, a ponto dos surrealistas nunca terem fugido do seu compromisso político de minar com o escândalo, a revolta e a militância anticapitalista as bases mentais da sociedade estabelecida.
 Somente alguém que sofre de miopia intelectual pode achar que as ideias surrealistas são um fenômeno francês do período entre guerras. A poesia é algo que se praticado para além da literatura, pode nos dias de hoje contribuir com a ruína dos valores capitalistas. Diante das eleições por exemplo, creio que o debate estético sugerido pela nossa publicação, não deva se limitar na análise da produção cultural/artística ao aspecto político mais imediato. Transcendendo a própria preocupação estética, o surrealismo pode ser acionado pela convocação do impulso poético enquanto oposição á submissão da linguagem aos baixos interesses do poder político eleitoreiro. E podem apostar: a poesia surrealista pode ter um alcance muito maior do que o panfletão. 


                                                                                            Os Independentes  
 

terça-feira, 19 de agosto de 2014

A música que desafia o racismo:

O quebra pau na região do Missouri nos EUA, mostra que o racismo ainda é um grave problema. Se a discriminação contra afro descendentes naquele país é realidade, lembremo-nos de que a cultura negra norte americana possui implicações inconformistas, de rebeldia contra todo um sistema que produz dentre outras coisas guerra e racismo. Impossível olhar estes conflitos e não deixar de relembrar os Black Panthers, que nos anos sessenta fundiam política e cultura, ritmo e ideologia, ameaçando o establishment. É pois a música uma energia pulsante que acompanha a História do movimento negro norte americano. Um clássico disso seria a banda Sly And The Family Stone, cujas canções embalaram a luta pela afirmação desafiadora da cultura negra.
 Misturando funk e rock, a banda encarnou toda potência política do soul. Ouvida pelo Partido dos Black Panthers(embora este em um determinado momento exigiu que a banda fizesse canções com conteúdo mais " militante "), a banda Sly And The Family Stone marcou época, participando inclusive do louquíssimo festival de Woodstock. Ouçam por exemplo ao álbum Stand!., de 1969. Discão...


                                                                                              Tupinik 

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

A batalha cultural será sempre contra a burguesia:

O anseio de separar as relações progressistas entre cultura e política, resume em boa parte os esforços da direita no âmbito da política cultural. Historicamente, não faz tanto tempo que a burguesia brasileira contava com o Serviço Nacional de Informações da ditadura militar, para fichar e perseguir artistas contestadores. Uma boa prova disso surgiu no último sábado com a divulgação, pela Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro, de relatórios da ditadura sobre o cineasta militante Glauber Rocha(os documentos datam de 1971). Como todos sabemos, Glauber e vários outros artistas e intelectuais de sua geração lutavam contra o regime militar e consequentemente contra os valores, os privilégios e os interesses da burguesia. Isto tudo custou prisão, tortura, exílio e outros problemas. Mas se há quarenta e poucos anos atrás a classe dominante controlava a cultura através da repressão militar, hoje ela joga com armas que visam desmobilizar a produção cultural ligada ao ambiente da esquerda.
 Enquanto que a mídia concebe o trabalho artístico enquanto terreno recreativo e não enquanto atividade que age politicamente sobre a realidade do país, uma educação reacionária colhe os frutos do artista que muitas vezes tem medo(ou simplesmente falta de interesse) em assumir uma posição política claramente anticapitalista. No atual cenário político a esquerda de um modo geral, vem perdendo espaços diante dos avanços da direita. Se esta última tenta apropriar-se de muitos esforços realizados por militantes de esquerda(a tentativa de canalizar as jornadas de junho do ano passado, por exemplo), então uma produção cultural centralizada precisa se impor antes que as coisas piorem ainda mais. Perante as soluções estéticas de manipulação política que devem surgir com tudo a partir de amanhã com o Horário Eleitoral, é dever promover o debate estético e opor-se artisticamente/politicamente.

                                                                                  Lúcia Gravas

domingo, 17 de agosto de 2014

Quem fará o debate estético durante as eleições?

Tendo em vista que a partir da próxima terça feira(dia 19) inicia-se a propaganda política eleitoral, a questão estética deverá exprimir sem dó quem é quem na política brasileira. Falando sem trava línguas: no campo da esquerda (ou pelo menos entre os partidos políticos que podem adequar-se a esta classificação ideológica), o fator estético de suas propagandas(assim como ás menções ás políticas culturais e educacionais a serem feitas) revelam o caráter político dos programas de governo.  Para os militantes da cultura, é o momento de defender que a coerência política exige no mínimo uma relação consequente entre ética e estética.
 Sim, publicidade não é arte no sentido rigoroso do termo, mas entendemos que o artista de esquerda deve assumir posições diante das ferramentas expressivas da publicidade. Nestas eleições o Sr Goebbels deverá baixar em várias propagandas partidárias: tentar criar falsos sentimentos de coletividade, é uma herança fascista que a direita gosta mais que picolé. Mas e a esquerda? Pois é, encontramos um outro fantasma totalitário que assombra a linguagem publicitária: Zhdânov. Toda aquela conversa mole do realismo socialista, com operários, crianças, professores e donas de casa sorrindo com as bochechas coradas diante de líderes " carismáticos ", tem sido marca também entre aqueles que se julgam de esquerda. Sendo assim, fazemos questão de tocar na questão do debate estético, colocando em questão tudo aquilo que pode ser reacionário ou progressista na propaganda política e nas discussões em torno da política cultural. Do ponto de vista socialista, a propaganda deve potencializar um discurso político transformador que adequa-se a um tipo de imagem. A classe trabalhadora, em seu suor e luta, não deve ser exposta de forma heroica ou paternal, mas sim enquanto sujeito que precisa produzir dentro de suas organizações políticas as imagens de suas lideranças: é nisto que deve consistir a estética publicitária num sentido socialista.
 Já no que tange a política cultural, é preciso compreender a própria cultura enquanto parte do território político da esquerda: não adianta de vez em nunca fazer um evento de hip hop, um show de rock ou promover manifestações artísticas folclóricas. Os partidos que realmente estão interessados em propagar as ideias socialistas, precisam de uma identidade estética que contemple os inúmeros aspectos da cultura. O urbanismo e o planejamento arquitetônico confluindo na criação de espaços públicos democráticos. A projeção da produção cultural das comunidades populares.A importância da escola enquanto espaço de humanização através da literatura, do teatro, da pintura, etc. Além do mais, é papel da esquerda conscientizar e não alienar, distinguir a linguagem audiovisual do esclarecimento/da instrução daquela da alienação, própria da publicidade capitalista.
 Nestas eleições, o dado estético revelará o caráter ideológico para saber quem realmente pode falar em nome dos trabalhadores.

                                                                                             Geraldo Vermelhão

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

E Lukács está por fora...

A coisa mais comum do mundo, é quando algum desavisado, toma as reflexões estéticas de Lukács como  sendo  a Estética " oficial " do pensamento marxista. O filósofo húngaro pode até ter feito críticas consistentes ás baboseiras do stalinismo(ainda que usasse os cinco dedos, sendo um tanto diplomático) mas sua Estética baseada numa acepção clássica do realismo não compreende as necessidades expressivas da arte do nosso tempo. A s observações do cara dizem respeito no máximo ás questões literárias e artísticas do século XIX.
 Ignorando as vanguardas e seus desdobramentos culturais, e tentando adequar a crítica da Economia Política aos preceitos de uma concepção artística que abarca uma pretensa " totalidade ", Lukács não percebeu o quanto de burguês existe no realismo crítico. Combater a alienação por meio da arte não pode significar a ausência de pesquisas formais, nem a constatação histórica de que a única maneira de conscientizar o público seja pela hierarquização de elementos que compõem uma estrutura realista invariável. Quando os trabalhadores se rebelam contra o capital e a arte recusa a moral burguesa pela renovação da linguagem, existem relações históricas entre ambas as dimensões. Portanto uma arte livre, porque contrária ao status quo, possui um sentido revolucionário muito maior do que a reprodução historicista da realidade.


                                                                                                  Os Independentes

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Modelo de romancista social:

Se alguém se aventura pela palavra escrita precisa no mínimo ter algo a dizer. Este " algo " não são experiências individualistas insignificantes, que no máximo podem interessar ao analista. Tratando-se de Literatura, e muito especialmente da prosa, é preciso contar ao leitor algo relevante sobre o seu povo, sobre as transformações do mundo em que estamos inseridos. Neste sacerdócio pagão de contar histórias, a literatura brasileira serve-se de nomes realmente importantes. José Lins do Rego é sem sombra de dúvida uma chave preciosa para compreendermos quais são as possibilidades críticas do romance social.
 Ninguém descreveu melhor que Zé Lins as profundas transformações na vida social do nordeste entre os anos trinta e quarenta. Em obras como o seu romance de estreia Menino de Engenho(1932) assim como em outros como Banguê(1934), é a crise dos engenhos na região da zona da mata que adquire vulto dramático junto aos problemas sociais: é a miséria propriamente dita. Em outras obras como Pedra Bonita (1938) a revolta popular do cangaço, exemplifica que o autor constrói a imagem de um Brasil que até hoje incomoda. Se a vida dos senhores de engenho e a dos cangaceiros  são produtos históricos que dizem respeito somente ao século passado, outros aspectos sociais marcados pela desolação, são material humano que na narrativa de Zé Lins incomoda. Trata-se do representante de uma geração de romancistas que desafia as falsas interpretações sociais do Brasil. Estes legam romances que não são úteis no ambiente elitista(embora este procure sistematicamente apropriar-se destas obras), mas sim no ambiente popular. É produção literária cujo realismo brutal desafia não apenas o gosto mas as convicções da burguesia brasileira.

                                                                                     Lúcia Gravas 
 

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

O único texto de Glauber Rocha para o teatro chega ao palco:

Num momento em que se comemora os cinquenta anos do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, Glauber Rocha tem montado o seu único( e inédito) texto para o teatro. Jango: Uma Tragedya, foi escrito por Glauber em fins de 1976, pouco tempo antes de João Goulart, presidente deposto pelo golpe de 64, morrer. O cineasta baiano entregou a peça para o jornalista e filósofo Luiz Carlos Maciel, em 1980. Graças á iniciativa do diretor Márcio Meireles, o texto de Glauber Rocha ganha vida em 2014 no palco do Teatro Vila Velha, em Salvador. 
 A peça de Glauber exprime todo um processo de notável radicalidade estética, não se prendendo a uma história linear mas concretizando todo um pensamento poeticamente livre acerca da vida política brasileira. Glauber, que naquele período estava influenciado pelas ideias de Jango,  acreditava que o processo de redemocratização do país deveria contar com a participação dos militares. Se esta opinião fez com que o principal ideólogo do Cinema Novo, se tornasse alvo de inúmeras pancadas da esquerda, a incompreensão só cresceria nesta fase final de sua carreira: era o momento em que uma arte libertária jorrada diretamente do inconsciente de Glauber, fundia-se  com polêmicas visões sobre a política do Brasil. Ao lado de obras como o romance Riverão Sussuarana e o filme A Idade da Terra, a peça Jango: uma tragedya, exprime o auge da ousadia, do delírio e do experimentalismo de um artistas que faz falta.

                                                                                          Geraldo Vermelhão 

terça-feira, 12 de agosto de 2014

China contemporânea: erros políticos, erros estéticos

A mostra de filmes do cineasta chinês Jia Zhangke, 44, no Cine Belas Artes, em São Paulo, é uma grande oportunidade para observarmos o cinema chinês dos nossos dias. A obra do diretor, a exemplo dos trabalhos literários e plásticos de vários artistas chineses de sua geração, revelam a grande diversidade de olhares e a enorme distância em relação aos parâmetros estéticos da China maoista. Se entre a Revolução de 1949 e a Revolução cultural das décadas de sessenta e setenta, o realismo socialista impregnou na arte daquele país, expondo todas as patetices estéticas do culto á personalidade de Mao Tsé Tung (além de imagens terrivelmente convencionais), atualmente uma crescente liberdade expressiva coexiste com a censura do governo. Porém, este sopro de criatividade serve hoje aos interesses do mercado ou possuem relações com o projeto socialista?
  A História da Revolução chinesa por mais significativa que possa ser do ponto de vista do avanço político da classe trabalhadora, não deixa de legar uma série de erros. Problemas estruturais enquanto heranças que passam pela guerra civil e pelo imperialismo japonês, fizeram Mao construir uma China com base no autoritarismo de uma burocracia barra pesada, separada da base trabalhadora. Já demonstramos aqui em outras oportunidades, que desde a abertura da China para a economia de mercado, o governo pós-Mao ergue uma potência estruturada sob uma situação politicamente esquizofrênica entre a centralização do Partido Comunista chinês e a economia de mercado. Sob estas circunstâncias, é natural que os artistas chineses exponham conscientemente no seus trabalhos as contradições, as confusões e os problemas com a censura. Ao retratar a China sem recorrer ao realismo socialista, vários artistas encontram-se sobre uma encruzilhada histórica: como cultivar os valores socialistas diante da introdução de relações capitalistas? Esperamos sinceramente que os artistas chineses cheguem a uma resposta revolucionária.

                                                                                      Lenito  
  

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Caminhos para o teatro político:

A diminuição do público nas casas de espetáculo e o papel reacionário das peças comerciais no Brasil, são fatos atuais que já comentamos aqui. Se de um lado pequenas, porém aguerridas, companhias teatrais fazem de modo exemplar o seu dever político de resistir contra a mediocridade, do outro a grande classe média(sobretudo na região sudeste do país) forma o público que não abre mão do velho pato com laranja. Ou seja, a questão do público merece ser vista sob um duplo aspecto: a necessidade de formar um público popular ainda não totalmente familiarizado com o teatro(mas aberto á sua dimensão lúdica) e o imperativo de  agir eticamente diante da pequena burguesia que frequenta, de modo minoritário, as casas de espetáculo.
  Perante a classe média, narcisista e mentalmente colonizada pela cultura norte americana, o teatro brasileiro pode partir tanto para o consentimento com o gosto medíocre quanto para a agressão aos valores morais que constituem esta classe. Se por uma questão econômica são feitas concessões de linguagem, fazendo peças teatrais se confundirem com telenovelas ou importação na linha Broadway, alguns poucos partem para outras formas de incentivo e também para outras estratégias cênicas. A performance, que atualmente vem sendo um espaço de síntese entre o ator e o artista plástico, torna favorável o contexto para uma arte de agressão ou pelo menos de estranhamento. Entretanto, esta atitude que geralmente é avançada sob o ponto de vista estético, não pode se afastar do público popular: são os trabalhadores que passam de um lado para o outro na rua, que devem formar o público desejado por todo ator progressista; que não aguenta mais os gostos ditatoriais da pequena burguesia.
 Seja procurando inventivo governamental ou partindo para a autogestão, os grupos teatrais que realmente tem algo a dizer, devem encaminhar-se em direção ao povo.


                                                                                    Geraldo Vermelhão  

sábado, 9 de agosto de 2014

Cinema popular não é necessariamente de esquerda:

Estão dizendo por aí, nos jornais e em vários espaços consagrados ás questões cinematográficas, que o Brasil vive atualmente a sua " era de ouro do cinema ". Na verdade devemos nos perguntar se este ouro não é de tolo. Encher a boca pra falar da pluralidade do nosso audiovisual, pode ser uma maneira de retirar do cinema brasileiro suas responsabilidades políticas. O fato do público corresponder ás expectativas de mercado, não basta para que o cinema se abstenha do seu papel de experiência cultural que exprime um olhar libertador sobre o seu povo. 
 É pura demagogia achar que o retorno de um grande público signifique missão cumprida para os cineastas. Na Alemanha hitlerista por exemplo, filmes racistas eram sucesso de público. Para inserirmos a discussão cinematográfica nas suas potencialidades formuladoras e instrutivas acerca da nossa realidade( para assim comunicar ao público um olhar crítico sobre as contradições nacionais) devemos nos voltar para a economia e para a estética enquanto campos que precisam, no plano do cinema, dialogar com projetos políticos que levem á emancipação da classe trabalhadora. Portanto os cineastas não devem simplesmente adotar resoluções comerciais que na atual conjuntura dialogam com o gosto popular. O cinema tem como uma de suas tarefas desafiar as linguagens estabelecidas e frutificar num diálogo provocador com as massas. É claro que os capitalistas não vão investir nisso. Portanto é preciso buscar apoio entre as forças políticas que acenam para a construção do socialismo. Esteticamente falando, creio que é preciso afastar-se da linguagem publicitária e hollywoodiana e contemplar a Literatura de esquerda e a Economia Política. 


                                                                                             José Ferroso

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Uma escrita sem camisa de força

Ando absolutamente de saco cheio das convenções da escrita. Mais de um século se passou após as vanguardas racharem no meio as regras da literatura, e as pessoas que escrevem, sejam elas teóricas ou propriamente produtoras de textos literários, vivem com cadeados na língua. As regras gramaticais ficam apenas aporrinhando, cortando o fluxo da autentica linguagem, intimidando as imagens livres que o escritor evoca sobre o mundo.
 Esta queixa tem sido feita não apenas por críticos e escritores malditos, mas também por linguistas e estudiosos da língua portuguesa em geral. Quanto a mim estou com Oswald de Andrade e Glauber Rocha: é preciso buscar uma língua nova, livre e sem arcaísmos, para que ela possa de fato revelar o caldeirão muito louco que é a cultura brasileira. Não adianta falar em ideias revolucionárias no campo literário e ficar como um cordeirinho diante das imposições que a classe dominante coloca sobre a escrita. É BEM MIÓ, NÓIS SER ESCRITORES LIBERTÁRIO, do que ficar de chamego com regras. E que se dane a norma culta!


                                                                                             Marta Dinamite 

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

A música relevante para os trabalhadores:

Se dermos uma geral em boa parte da produção musical ouvida pelas massas no Brasil e no mundo, fica difícil levar a serio a canção sob o ponto de vista político. Individualismo, apropriação banal de símbolos (religiosos, por exemplo), conservadorismo, musiquinha dor de cotovelo e noitadas vazias.  Entre os jovens mais contestadores, é natural que eles se voltem para a produção underground e para o trabalho de músicos que já passaram da casa dos setenta anos. Diante da brutalidade militar de Israel, das epidemias e da crescente miséria econômica no planeta, a música enquanto antena precisa estar altura do que os novos tempos exigem em matéria de som e protesto.
 Antes de se querer doutrinar jovens proletários e de classe média dentro de filosofias políticas como o comunismo e o anarquismo, seria estratégico para as organizações de esquerda  fazerem com que os garotos cheguem á estas formas de pensamento através da sensibilidade rebelada, presente nas canções de protesto. Este é um percurso importante, pois como Marx já dizia, é preciso ganhar não apenas a cabeça mas o coração das pessoas. Chegar ao coração pelo ouvido, pela música que anuncia mudanças sociais e exprimem o avanço na consciência política, é um dever que todo militante político deve valorizar em sua atuação. Os primeiros álbuns de Bob Dylan, por exemplo, são no mínimo inspiradores.

                                                                                          Tupinik

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Possibilidades para a política cultural de esquerda:

Se as eleições de outubro empurram boa parte da agenda política para as disputas partidárias, todos sabemos que existem diferentes maneiras para as organizações de esquerda encararem este momento. No que tange a política cultural, os debates eleitoreiros levam também á diferentes formas de entendimento. Se dentro dos partidos burgueses, ou em processo de aburguesamento, é de praxe colocarem " a cultura " enquanto sendo a caçulinha diante dos dilemas da saúde, da educação, do transporte, etc(como se a cultura estivesse fora destas questões...), as organizações de esquerda devem apresentar necessariamente uma visão da cultura que de alguma maneira contribua para a perspectiva política do socialismo.A questão cultural, e especificamente artística, pode ser resumida dentro de duas atitudes fundamentais por parte das organizações da esquerda:  aqueles que travam disputas por verbas governamentais, ocupando espaços em secretárias de cultura e propondo projetos para a captação de recursos. Num segundo grupo encontramos aqueles que não abrindo mão de sua independência perante o aparelho administrativo capitalista, produzem arte(e outras iniciativas culturais) na marra(recorre-se á vaquinhas, ao apoio sindical e quando não tem jeito arranca-se do próprio bolso).
 Na primeira posição, encontramos tanto o militante honesto (que deseja utilizar a verba pública para projetar trabalhos artísticos, conseguindo viver da arte, ao mesmo tempo  que sua obra é um esforço concreto para colaborar com a hegemonia da classe trabalhadora) quanto aquele que sem apresentar qualquer tipo de compromisso político, exatamente por não ter ideologia definida, interessa-se apenas pela verba para concretizar seus projetos artísticos narcisistas(sendo inclusive comum entre estes " artistas " o conformismo estético e a submissão ás exigências do mercado). Já dentro da segunda posição militante, aonde geralmente está a esquerda independente e libertária, opta-se pela atitude guerrilheira. Bem, qual seria a posição que corresponde as exigências socialistas? Creio que não avançaremos no debate caso as questões culturais não forem trabalhadas em suas profundas particularidades políticas. Enquanto as organizações de esquerda não fizerem um trabalho sistemático em torno da produção artística, abrindo espaço para as discussões estéticas na mobilização política, a arte irá permanecer refém de uma ótica economicista e politiqueira.
A arte só poderá ajudar á responder ás embromações dos partidos burgueses e aos limites reacionários da mídia capitalista, quando for suficientemente levada a sério. Deixando de ser encarada enquanto questão supérflua, a política cultural poderá ajudar na própria melhora da política da esquerda.


                                                                                         Lenito

terça-feira, 5 de agosto de 2014

O escritor enquanto opositor da América burguesa:

Não basta a classe dominante norte americana, educar a nação dentro das mentiras do sonho americano. Exportando sua ideologia calcada na noção de uma " terra de eleitos " ou simplesmente de heróis de guerra, o imperialismo norte americano faz muita gente da classe média brasileira adotar pateticamente este mesmo sonho de glórias e " prosperidade econômica "(rs). Pois bem, para desmanchar estas baboseiras de um país belicoso e promotor do capital, é extremamente importante que o público(inclusive brasileiro) tome contato com o outro lado da América: uma América de proletários, de marginais, de grupos e etnias discriminados pela elite branca. No panteão dos artistas rebeldes, que detonam o sonho americano, podemos encontrar o dramaturgo e escritor Eugene O´Neill. 
  Eugene teve uma vida barra pesada, marcada por dificuldades e problemas com álcool.Superando estas dificuldades, ele ajuda a estruturar uma importante dramaturgia durante as primeiras décadas do século passado. Convivendo com a boemia do mítico Greenwich Village, em New York, ele era parte de um importante circulo de intelectuais e artistas anticapitalistas, cabendo destacar o jornalista comunista John Reed e a militante anarquista Emma Goldman . Socialista libertário, Eugene O´Neill apesar de amarguras e contradições, nos lega uma dramaturgia feita de personagens oprimidos e completamente desajustados. Com uma impressionante desenvoltura para se chegar a um realismo brutal, que não poupa nenhuma instituição e atento aos problemas econômicos, este autor norte americano é fundamental para que olhemos para a cultura dos EUA não como sendo apenas aquela que promove o imperialismo. Na sombra da Estátua da Liberdade, existem artistas rebeldes e escritores revolucionários.

                                                                                           Lúcia Gravas  

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

A imagem que participa:

Num cercadinho de ovelhas, o importante é aceitar as imagens voltadas para o consumo. É exatamente isso que os capitalistas querem. No entanto, já que o homem não é uma ovelha, a maneira encontrada para se opor culturalmente/politicamente a este cenário  é a criação, em especial a criação de imagens que escapam á lógica/controle da compra e venda que escraviza um mundo feito de mercadorias. Mas criar exatamente o que? O que pode a criação? Para nietzscheanos em geral, seria um ato voltado para o indivíduo(e não uma ação que luta contra a sociedade de classes), como se fosse possível romper com toda uma estrutura produtiva apenas a partir de um isolado esforço mental, uma abstrata/individualista " vontade de potência ". Em nossa opinião criar, sobretudo em suas implicações estéticas, envolve a necessidade de um psiquismo que interfere diretamente sobre a realidade política. É portanto para a coletividade que se deve voltar a imagem que não adequa-se ao consumo alienante. É a " obra de arte " uma expressão que toma de assalto os sentidos humanos perante a organização capitalista do espaço.  É a expressão artística uma ação sobre a matéria e contra um tipo de organização material, e não um espectro que não consegue atuar politicamente sobre as estruturas mentais(que estão historicamente condicionadas por um tipo de educação voltada para o mercado).
 A luta do artista é pois a mesma do militante político, com a diferença de que o primeiro possui um terreno específico, composto com elementos sensíveis e no qual o resultado não pode ser medido matematicamente. Não fiquemos na intervenção pela intervenção, mas na atuação que visa desestabilizar as certezas ilusórias de um sistema predatório. É a criação artística uma forma de participação política que contradiz os interesses da classe dominante.


                                                                             Os Independentes

O negócio é ser um artista anônimo da Revolução:

Arte e vaidade, segundo aqueles que lutam pela construção de valores socialistas, são noções distintas entre si. O artista que plasma as imagens de uma realidade futura, denunciando o mundo estabelecido e violentando seus valores, não pode estar nem um pouco preocupado com seu reconhecimento e muito menos com a posteridade. Oswald de Andrade e Patrícia Galvão por exemplo, não estavam nem aí para a classe dominante: o que os dois queriam mesmo era (utilizando a expressão usada pelo próprio Oswald) ser " artistas anônimos da Revolução ".
   Logicamente que as instituições capitalistas não poupam esforços em elogiar, fazer cafuné e até masturbar os jovens artistas. A burguesia não é besta: ela precisa ter ao seu lado aqueles que fornecem uma imagem positiva do capital. Já do outro lado da moeda, principalmente entre aqueles que arriscam a vida e a reputação em nome de uma batalha cultural transformadora, o que interessa mesmo é a mais aguerrida das oposições. Neste sentido é muito inspirador olharmos para a atuação de Oswald de Andrade e Patrícia Galvão ao longo dos anos trinta. Mencionamos estes dois artistas porque eles ainda contrastam totalmente com as aspirações de muita gente do mundo " da letras e das artes ".
 Sem grana, difamados pela classe dominante, enfrentando estudantes reacionários, integralistas e também as limitações mentais dos stalinistas, Oswald e Pagu mergulharam de cabeça no projeto revolucionário, no qual criar é fundamental: romances, peças teatrais, artigos, manifestos, desenhos e desaforos são o grande legado destes dois modernistas que após darem dentadas no burguês assustado com a antropofagia, partiram de vez para a briga com a adesão ao comunismo. Para qualquer artista militante  de hoje é impossível não tomar isto tudo como base. Deixem os canalhas narcisistas " aparecerem ". Para nós o negócio é ser o artista que no anonimato constrói um outro mundo.

                                                                                    Geraldo Vermelhão

sábado, 2 de agosto de 2014

No cinema de Eisenstein o herói é coletivo:

Abrindo o ciclo de filmes O que é Cinema Político? ,no Museu da Imagem e do Som de Campinas, exibiremos nesta noite de sábado(ás 19:30) A Greve, primeiro longa do cineasta Serguei Eisenstein. Não se trata apenas de uma das peças constituintes do cinema soviético, pois esta é uma obra que flagra os primórdios da construção da linguagem cinematográfica em conexão com o projeto político do socialismo. Cinema e classe operária são assim contextualizados na mesma dimensão revolucionária, sendo o elemento fílmico uma poderosa ferramenta para os trabalhadores organizarem o seu olhar sobre a sua própria identidade política de classe.   
  Este filme de 1924, contempla uma breve conjugação histórica entre arte de vanguarda e Revolução proletária. Produto direito do esforço cultural da primeira geração de artistas soviéticos, da qual Eisenstein é o cineasta exponencial, este filme pertence a um momento em que a construção da União Soviética coexistia com inovadoras pesquisas estéticas. Aqui o experimentalismo de vanguarda de proveniência construtivista associado ás formas populares de diversão como o circo, formam um todo poético cuja significação reside na solidificação da consciência política revolucionária do proletariado russo. Muito antes das cretinices policialescas de Zhdânov dissociar criatividade e liberdade na arte soviética, Eisenstein pautado na tese da Montagem de Atrações, nos lega uma importante linhagem do cinema político: o choque pela justaposição de imagens entre operários e burgueses, além da associação de situações e sensações com outros objetivos e situações(uma laranja exprimida é associada com a repressão policial contra trabalhadores ou um boi no matadouro associado ao massacre cometido contra a população) fazem da dialética o fio condutor para que o espectador participe mentalmente da montagem cinematográfica. Trata-se de uma clara demonstração de que o esforço didático não se subtraí diante da forma revolucionária da obra de arte.
  A Greve aborda um acontecimento marcante na História da classe operária russa: em 1912 trabalhadores realizam uma greve em plena Rússia czarista, sendo o seu desfecho um dos maiores exemplos de brutalidade cometidos pela classe dominante russa(esta seria varrida diante dos futuros acontecimentos de outubro de 1917). Tomar este acontecimento para que o cinema contribua com a educação política do proletariado a partir de sua própria História, levou Eisenstein a criar o herói coletivo, completamente diferente do herói burguês do cinema hollywoodiano e também do herói do trabalho promovido pelo stalinismo a partir dos anos trinta. Para o cinema soviético contemporâneo do Construtivismo e do Proletkult os dilemas, as dificuldades e os problemas seriam resolvidos coletivamente pelo proletariado, o novo protagonista do cinema e da História. Situação distinta é a do herói do trabalho enquanto figura central do realismo socialista: nesta doutrina estética que colocaria fim á arte revolucionária soviética das décadas de dez e vinte, o verdadeiro herói seria o próprio Stálin, estabelecendo-se a propaganda política dos planos quinquenais e criando uma imagem do trabalhador russo digna do mais medíocre dos folhetins. Mas se o realismo socialista representa no plano estético a contra-revolução stalinista, o super herói capitalista de Hollywood se perpetuou numa intensidade muito maior: enquanto que nos dias de hoje a presença nefasta do realismo socialista é em grande parte coisa do passado, o herói capitalista reproduzido ás dúzias com Batman, Capitão América, Homem Aranha e outras expressões culturais do imperialismo norte americano, ainda envolve um adversário atual. 
  Para repensarmos o cinema político não podemos cair nas ciladas burguesas do cinemão, do pior convencionalismo artístico do qual muitos cineastas brasileiros de hoje caem constantemente. Nesta sentido Eisenstein ainda é uma referência indispensável para o cineasta militante do século XXI.

                                                                     
                                                                                    Afonso Machado 

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

A literatura depende de uma crítica marxista:

Literatura que é muito badalada, tem que desconfiar. Muitos elogios, muita puxação de saco, fazem do escritor alguém politicamente palatável. Já no caso da crítica literária o mesmo se aplica. Hoje em dia muitos críticos interpretam romances, contos, poemas e outros gêneros a partir de caminhos duvidosos para uma apreensão correta da obra literária.
 Enquanto que muito ficam fuçando na vida pessoal do autor para buscar paralelos com o que ele escreve, outros limitam-se a entender a descrição de personagens e situações apenas enquanto elementos soltos no tempo e no espaço. Estou pronto em admitir que dados biográficos de um escritor são importantes para se refletir sobre os aspectos formais e temáticos da sua escrita. No entanto, o bom e velho marxismo ainda nos ensina a olharmos para a literatura enquanto produto histórico, enquanto resultado social de uma época específica. Portanto a realidade econômica por onde o enredo de uma história se constrói é o micro-universo da História da qual o autor, o crítico e todos nós somos parte atuante. Os conflitos mentais dos personagens e a maneira como as tramas são costuradas, são explicadas criticamente pela análise dialética e pela reflexão ideológica que decifram as particularidades mentais(e políticas) de quem escreve. É isto ou impressões pessoais(para não dizer individualista) de quem apenas lê e não se esforça para interpretar.


                                                                                      Lenito