quinta-feira, 13 de setembro de 2012
DO TEXTO " O SURREALISMO E A PINTURA "
O olho existe em estado selvagem. As maravilhas da terra a trinta
metros de altura, as maravilhas do mar a trinta metros de profundidade
têm apenas por testemunho o olho indomesticável que, quanto ás cores,
conduz ao arco-íris. O olho que preside ás trocas convencionais dos
sinais que exige, parece, a navegação do espírito. Mas, quem tabulará
a escala da visão? Há o que já vi inúmeras vezes, e o que os outros
disseram igualmente ver , aquilo que creio poder reconhecer, tanto faz
que me importe ou não, por exemplo, a fachada da Ópera de Paris ou bem
um cavalo, ou mesmo o horizonte; há o que só vi muito raramente e nem
sempre o escolhi esquecer, ou não o esquecer, conforme o caso; há o
que lindo ao ver nunca ouso olhar, que é tudo que amo(além do que em
sua presença não vejo mais o resto); há o que os outros viram, dizem
ter visto, e que por sugestionamento conseguem ou não me fazer ver; há
também o que vejo diferentemente do que os outros vêem, e ainda o que
começo a ver que não é visível. E não é tudo(...)Desta maneira me é
impossível considerar um quadro de outro modo que como sendo uma
janela, na qual, meu primeiro cuidado é saber sobre o que ela dá, ou,
dito de outra forma, se, donde estou, " a vista é linda " pois, o que
mais amo é o que se estende diante de mim a perder de vista.
André Breton, 1928.
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