terça-feira, 20 de dezembro de 2011

DISCURSO AO CONGRESSO DOS ESCRITORES:


Do nosso lugar, sustentamos que a atividade de interpretação do mundo deve continuar a estar ligada á atividade de transformação do mundo. Que pertence ao poeta, ao artista, aprofundar o problema humano sob todas as suas formas, que é precisamente o caminho ilimitado do seu espírito neste sentido que tem um valor potencial de mudança do mundo, que tal caminho - enquanto produto evoluido da superstrutura - não pode deixar de vir reforçar a necessidade de mudança econômica deste mundo. Levantamo-nos em arte contra qualquer concepção regressiva que tenda contrapor o conteúdo á forma, para sacrificar esta áquele. A passagem dos poetas autênticos de hoje para a poesia de propaganda, definida totalmente como exterior, siginificaria para eles a negação das determinações históricas da própria poesia. Defender a cultura é antes de mais nada assumir os interesses do que resiste intelectualmente a uma análise materialista séria, do que é viável, do que continuará a produzir os seus frutos. Não é com declarações esteriotipadas contra o fascismo e contra a guerra que conseguiremos libertar para sempre o espírito, nem o homem, das antigas cadeias que o ameaçam. É, sim, pela afirmação da nossa inabalável fidelidade ás capacidades de emancipação do espírito e do homem, que fomos reconhecendo sucessivamente e que lutaremos por fazer reconhecer como tais.
" Transformar o mundo ", disse Marx, "Mudar a vida ", disse Rimbaud: estas duas palavras de ordem são, para nós, uma só.
André Breton, 1935.

CRÍTICA AO REALISMO SOCIALISTA:


... A idéia geral é dada; o tipo geral é dado; a finalidade é dada: Seguindo ele recebe a ordem de Lênin. Tudo é dado antecipadamente, dai o resultado desastroso. Vossos heróis podem ser maus maridos? Crentes? Alcoólatras? Não. É preciso que ele seja " o herói do trabalho ", da raíz dos cabelos ás plantas dos pés.
Victor Serge, 1932.

A FUNÇÃO DAS ARTES NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA










(...)A arte é eternamente importuna, permanentemente revolucionária. Assim é porque o artista, na medida da sua grandeza, sempre confronta o desconhecido, e o que traz de volta desta confrontação é uma novidade, um novo simbolo, uma nova visão da vida, a imagem exterior de coisas interiores. Sua importância para a sociedade não é o fato de que ele exprime opiniões recebidas ou dá expressão clara aos sentimentos confusos das massas: esta é a função do político, do jornalista, do demagogo. O artista é o que os alemães chamam de ein Ruttler, um perturbador da ordem vigente. O maior inimigo da arte é a mente coletiva em qualquer das inúmeras manifestações. A mente coletiva é como a água que sempre procura o nível mais baixo da gravidade: O artista luta para sair desse pântano, para buscar um nível mais elevado de sensibilidade e percepção individuais. Os sinais que manda de volta muitas vezes são incompreensiveis para a multidão, mas em seguida vem os filósofos e os críticos para interpretar a mensagem(...). Acredito que só haja um modo de salvar a nossa civilização e este é reformar de tal maneira as sociedades que a compõm que, no sentido das frases já definidas, os fenômenos sensoriais concretos da arte sejam novamente manifestados em nossa vida quotidiana. Dei a esta reforma o nome de EDUCAÇÃO PELA ARTE e que agora tem defensores em todo o mundo. Mas o que não salientei suficientemente, e o que muitos dos meus companheiros de trabalho neste campo não compreendem o bastante, é a natureza revolucionária do remédio(...). Uma educação pela arte não prepara os seres humanos para os atos irracionais e mecânicos da indústria moderna, não os concilia com um lazer destituido de propósito construtivo, não os deixa satisfeitos com o entretenimento passivo. Ela visa criar agitação e crescimento em toda parte, substituir a conformidade e imitação em cada cidadão por um dote de poder imaginativo "num tipo que não se tomou por empréstimo e que é todo seu".
Herbert Read, 1967.

POR QUE ESCREVER?


A liberdade de escrever implica na liberdade do cidadão. Não se escreve para escravos. A arte da prosa é solidária com o único regime onde a prosa conserva um sentido: A democracia. Quando uma é ameaçada, a outra também é. E não basta defende-las com a pena. Chega um dia em que a pena é obrigada a deter-se, e então é preciso que o escritor pegue em armas. Assim, qualquer que seja o caminho que você tenha seguido para chegar a ela, quaisquer que sejam as opiniões que tenha professado, a literatura o lança na batalha ; escrever é uma certa maneira de desejar a liberdade; tendo começado, de bom grado ou á força você estará
ENGAJADO. Engajado em quê? Perguntarão. Defender a liberdade, afirmação precipitada. Trata-se de tornar-se o guardião dos valores ideais, como o "intelectual" de Benda antes da traição, ou será que é a liberdade concreta e cotidiana que é preciso proteger, tomando partido nas lutas políticas e sociais? A questão se liga a outra, simples na aparência, mas que nunca é levantada: "Para quem se escreve?".
Jean Paul Sartre, 1947.

sábado, 10 de dezembro de 2011

ARTE E REVOLUÇÃO


A Partisan Review amavelmente propôs-me dar minha opinião sobre o estado atual da arte. Não faço sem hesitação. Desde meu livro LITERATURA E REVOLUÇÃO(1923), nunca voltei ás questões da criação artística e só pude acompanhar sem continuidade as manifestações recentes neste domínio. Longe de mim a pretensão de dar uma resposta exaustiva. O objetivo desta carta é colocar corretamente o problema.

De um modo geral o homem expressa na arte a sua exigência da harmonia e plenitude da existência- quer dizer do bem supremos do qual é justamente a sociedade de classes que o priva. Por isso a criação artística é sempre um ato de protesto contra a realidade, consciente ou inconsciente, ativo ou passivo, otimista ou pessimista.

Toda nova corrente em arte começa pela revolta. A força da sociedade burguesa foi durante longos períodos históricos, mostrar-se capaz de disciplinar e assimilar todo movimento subversivo em arte e leva-lo até o reconhecimento oficial, combinando pressões e exortações. Boicotes e adulações. Mas, tal reconhecimento significava no fim das contas a chegada da agonia. Então, da ala esquerda da escola legalizada ou da base, das fileiras da nova geração da boêmia artística, levantavam-se novas correntes subversivas que, após algum tempo, subiam por sua vez os degraus da academia.

Por tais etapas passaram o classicismo, o romantismo, o realismo, o simbolismo, o expressionismo, o movimento decadente... . Mas o casamento entre arte e burguesia permaneceu, senão feliz, pelo menos estável, somente enquanto durou a ascensão da sociedade burguesa, somente enquanto se mostrou capaz de manter política e moralmente o regime da “ democracia”, não só soltando as rédeas aos artistas, mimando-os de todos os modos possíveis, mas também, dando algumas esmolas ás camadas superiores da classe operária, domesticando os sindicatos e os partidos operários. Todos estes fenômenos devem ser colocados no mesmo plano.

O declínio atual da sociedade burguesa provoca uma exacerbação insuportável das contradições sociais que se traduzem inevitavelmente em contradições individuais, dando origem a uma exigência ainda mais exaltada de uma arte libertadora. Mas o capitalismo decadente já é incapaz de oferecer condições mínimas de desenvolvimento ás correntes artísticas que respondam, por menos que seja, á exigência de nossa época. Há um medo supersticioso de toda novidade, pois, não se trata para ele de corrigir-se e reformar-se, mas é uma questão de vida ou morte. As massas oprimidas vivem sua própria vida e a boêmia é uma base demasiado estreita. Donde o caráter mais ou menos convulsivo das novas correntes, indo sem cessar da esperança ao desespero.

As escolas artísticas das últimas décadas, o cubismo, o futurismo, o dadaísmo, o surrealismo, sucedem-se sem atingir seu pleno desenvolvimento. A arte, elemento mais complexo, mais sensível e ao mesmo tempo mais vulnerável da cultura, é a primeira a sofrer pela decadência e degradação da sociedade burguesa.

É impossível achar uma saída para esse impasse com os meios próprios da arte. Trata-se da crise do conjunto da cultura, dos seus fundamentos econômicos até as mais altas esferas da ideologia. A arte não pode escapar á crise, nem evoluir á parte. Não pode assegurar por si mesma a sua própria salvação. Perecerá inevitavelmente, assim como a arte grega pereceu sob as ruínas da sociedade escravagista, se a sociedade contemporânea não chegar a reconstituir-se. Esta tarefa reveste-se de um caráter totalmente revolucionário. Por isso a função da arte em nossa época define-se por sua relação com a revolução.

Leon Trotski, 1938.

ARTE E REVOLUÇÃO


Revolução cultural também sugere que a oposição radical envolve hoje, em um novo sentido, todo o domínio situado além do das necessidades materiais - melhor ainda, que visa a transformação total da cultura tradicional.
A forte ênfase sobre o potencial político das artes, que constitui uma caracteristica desse radicalismo, expressa, sobretudo, a necessidade de uma comunicação efetiva da denúncia da realidade estabelecida e dos objetivos da libertação. É o esforço para encontrar formas de comunicação que possam romper o domínio opressivo da linguagem e imagens que há muito se converteram num meio de dominação, doutrinação e impostura. A comunicação dos novos objetivos históricos, radicalmente não conformistas, da Revolução exige uma linguagem igualmente não conformista(na mais lata acepção), uma linguagem que atinja uma população que introjetou as necessidades e valores dos seus amos e gerentes e os tornou seus, assim reproduzindo o sistema estabelecido em seus espíritos, suas consciências, seus sentidos e instintos.
Semelhante linguagem, para ser política, não tem possibilidade de ser "inventada";dependerá, necessariamente do uso subversivo do material tradicional; e as possibilidades dessa subversão são procuradas, naturalmente, onde a tradição permitiu, sancionou e preservou uma outra linguagem e outras imagens(...) Aqui, a outra linguagem, as outras imagens, continuam sendo comunicadas, para ser ouvidas e vistas, e é essa arte que, numa forma subvertida, está sendo hoje usada como arma na luta política contra a sociedade estabelecida.
Herbert Marcuse, 1972.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

CARTA AOS ARTISTAS REVOLUCIONÁRIOS E AOS MILITANTES DA CULTURA

Os companheiros sensíveis ao necessário combate artístico contra o sistema capitalista, devem estar questionando a aparente" confusão editorial" que vem caracterizando o boletim LANTERNA. De nossa parte,este foi um passo calculado, sendo previsivel o estranhamento(e até mesmo o julgamento equivocado) que alguns companheiros vem apresentando nos últimos meses. Nada mais comum dentro de um cenário politicamente plural, traduzido nas inúmeras organizações revolucionárias comprometidas com a derrocada da sociedade burguesa. Entretanto, cabe a nós mais uma vez esclarecer a natureza do nosso blog. Para o LANTERNA não se trata de confusão ideológica e tão pouco de ecletismo.A presente publicação não se caracteriza por uma linha política específica. Não estando acima da luta de classes o LANTERNA expressa no próprio seio dos seus idealizadores o não acordo frente a uma única tendência que em arte corresponda a idéia de Revolução( diferentes linhas de pensamento referentes ao papel da Arte se fazem presentes por exemplo tanto nas concepções do Surrealismo quanto da "Arte engajada") .Intencionalmente as diferentes concepções acerca da missão histórica da Arte do nosso tempo aparecem em conflito. Sendo assim, o que passa a estar em questão é uma imperiosa necessidade de se debater com os companheiros de diferentes correntes políticas o tema da Arte Revolucionária.No fim das contas o LANTERNA é uma pequena iniciativa editorial que está buscando um diálogo independente. Tanto os videos quanto os diversos documentos aqui publicados(os quais procuram pelas determinações históricas manifestar diferentes concepções estéticas e ideológicas) , traçam um retrato calculadamente contraditório. Inquestionavelmente as preocupações culturais não se restringem a um parênteses na luta revolucionária, embora seja exatamente este o papel que estas ocupam nas principais organizações de esquerda(entre uma greve ou outra, uma festa ou outra, restam alguns minutos de poesia, algumas migalhas de pintura, um pouco de cinema, um debate superficial sobre música ou teatro, etc).Apesar disso existem militantes revolucionários que reconhecem na Arte uma forte aliada na luta pela emancipação humana. São a estes companheiros que nos dirigimos nesta carta: Enquanto militantes revolucionários da cultura propomos um urgente balanço histórico das diversas experiências artísticas, bem como a práxis da Arte Revolucionária. Evidentemente que não nos colocamos enquanto os únicos a reivindicar a legitimidade e a particularidade deste território da Revolução. Trata-se tão somente de um apelo direcionado aos profissionais revolucionários da cultura situados nos diferentes contextos da luta de classes(sejam eles trotskistas, anarquistas, maoistas, independentes, etc). Não se restringindo a coletivização da economia ou a tomada do poder, a Revolução exige uma dedicação específica no plano da cultura: Nesta esfera a Arte possui pelas suas particularidades meios para se transformar a sensibilidade dos individuos. Mais do que nunca é preciso que o economicismo, o sectarismo e o imediatismo da luta política não reprimam a atividade revolucionária no campo da emancipação do espírito. Afirmamos que as resoluções no campo da Arte são vitais para acompleta libertação do proletariado.

CONSELHO EDITORIAL DO LANTERNA