segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Pausa para o café(mais um ano de militância cultural)


 2015 foi um ano de intensa militância cultural. Esperamos que nossos textos funcionem como pílulas progressistas. Diante de nossas limitações/contradições(pressupostos que flagram o nosso próprio movimento dialético) procuramos sustentar que perante a necessária pluralidade da cultura devemos combater, de diferentes maneiras, a ideologia dominante. Aliás, é esta mesma pluralidade da cultura que se coloca como desafio intelectual: o processo de luta política da classe operária que almeja abolir o capital, depende de uma atuação cultural independente que respeita a diversidade e revela que a arte deve estar mobilizada(através de inúmeros caminhos estéticos e ideológicos) no combate à sociedade da alienação.
 Contribuir para romper com o bloqueio mental que sufoca nossas vidas, seria o sentido histórico do nosso blog. Agora é hora de respirar: pretendemos relaxar mas ao mesmo tempo sem estar nessa de colocar o cérebro para secar no varal. Mesmo deitados na rede estamos em guarda. Voltaremos na segunda quinzena de janeiro como nossas reflexões estéticas.


                                                                          Conselho Editorial Lanterna

socialismo e cultura:

Muita gente confunde a disputa pelo poder com as especificidades da luta cultural. Claro, a meta consiste em combater de diferentes maneiras a verdadeira câmera de gás que é o sistema capitalista. Porém, se cabe ao proletariado organizar-se para destruir o capital, no campo da cultura esta postura revolucionária envolve uma dinâmica própria. A pluralidade cultural não é inimiga dos militantes revolucionários da cultura: se existe algo que é definitivamente perigoso é o pensamento único que tende a uniformizar a cultura. Portanto a estratégia revolucionária no plano da cultura não envolve a subordinação dos indivíduos a uma suposta " cultura de partido ". Devemos antes saber lidar com as diferentes subjetividades; e diante disso propagar que o projeto socialista precisa garantir as condições materiais para tal diversidade.


                                                                                   Os Independentes

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Definição de uma literatura combativa:

 1- Nunca submeter a arquitetura do texto ao apelo político externo

2- No campo da prosa a questão política não é uma extensão publicitária, mas um esforço expressivo para representar pela forma literária a luta de classes

3- O ritmo da escrita deve fazer o coração do leitor alcançar o seu próprio cérebro e o próprio cérebro deve enriquecer-se com o coração

4- Não temer a inovação mas não se deixar tragar pelo formalismo

5- Superar pela palavra os abismos entre o regional e o universal: fazer do texto literário a língua da classe explorada



                                                                                      Lúcia Gravas

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

A liberdade é o pressuposto revolucionário da arte:


O discurso liberal procura aprisionar a criação artística no terreno hostil do capitalismo. Sob a confusão intencional entre liberalismo e liberdade, a crítica burguesa de arte insiste em afirmar que o socialismo tende a reprimir o campo da cultura. Balela! O socialismo não apenas pressupõe liberdade como é o modelo político que pode apontar o caminho libertário que a arte precisa seguir. De acordo com o que  poucos críticos e estetas militantes afirmam, devemos separar as formas degeneradas/deformadas do chamado " socialismo real " daquilo que o socialismo revolucionário pode realmente significar para a cultura. É o socialismo que gera as condições econômicas e políticas para uma cultura sem alienação. Para que a estética se liberte das algemas mercadológicas que alienam a arte, os comunistas de hoje devem propagar a ideia de que somente uma arte livre pode aspirar o socialismo.


                                                                                 Marta Dinamite

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Marxismo e romantismo:


 A análise marxista caracteriza-se por uma metodologia científica: o materialismo dialético constitui-se a partir de uma reflexão objetiva que apresenta " as leis " da história. Porém, este caráter rigoroso não subtrai a necessidade do marxismo debruçar-se também sobre o sonho, a imaginação e as formas culturais que atacam o racionalismo burguês. É o romantismo a raiz deste estado de espírito crítico que ataca a civilização capitalista. Michael Lowy e outros importantes autores marxistas apontam para a necessidade de uma pré-disposição romântica revolucionária(isto é, não de fuga ao passado mas de pensar o passado como força política para superar o presente dominado pelo capitalismo). A reflexão estética neste " marxismo romântico " é uma dimensão privilegiada: a arte e a reflexão artística são atos que esboçam através da revolta criadora as energias utópicas do socialismo. André Breton, Walter Benjamin, Herbert Marcuse e Guy Debord são alguns dos expoentes desta veia romântica que marca presença na história do pensamento marxista.


                                                                                               Os Independentes

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Crítica, invenção e os limites do rockstar:


 As " excentricidades " das estrelas do rock não deixam de ser um reflexo luxuoso da sociedade alienada. Porém, em alguns momentos históricos rockeiros poderiam ter optado por um caminho comportado, convencional, não colocando azeitona na empada dos movimentos sociais de contestação. O rock, sobretudo nos anos sessenta, trazia na sua ambiguidade com a indústria cultural elementos politicamente progressistas. Pensemos por exemplo nos Beatles: se hoje em dia um CD ou DVD do quarteto de Liverpool é o presente de natal capaz de agradar gregos e troianos, devemos insistir que suas ligações históricas com a contracultura colocam a banda como símbolo de uma era de ruptura.
 Por volta de 1965/66 os Beatles poderiam ter seguido num rumo conformista: enquanto fenômeno pop digno de Elvis Presley e Frank Sinatra, os Beatles poderiam(como já enfatizei neste blog em outras ocasiões) ter entrado na onda de gravar discos com o som " mais do mesmo " e fazer filmes vagabundos. Porém, o fab four optou pelo experimentalismo musical, pela pesquisa estética e pela aproximação com os movimentos sociais marcados pela rebeldia. A prova disso é que John Lennon passou a ser durante a segunda metade dos anos sessenta uma figura cada vez mais incômoda para o status quo. Mas até onde a rebeldia de uma banda de rock pode ir? Os limites políticos são claros: compactuando com esquemas comerciais, bandas de rock não ultrapassam o plano da crítica. Mas apesar disso, estes artistas cumprem um papel fundamental na contestação dos valores burgueses. É no mínimo uma contradição interessante/rica que atualmente está quase desaparecendo.


                                                                                                   Tupinik

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Cinema e realidade proletária:



 É fato que a percepção das massas é em boa parte do tempo condicionada pela mídia capitalista. Entretanto, as contradições da realidade material, que inclusive agravam-se na atual crise econômica pela qual o Brasil atravessa, mancham com descontentamento as imagens do capital. Para um cinema que se quer combativo, capaz de interferir de modo progressista na percepção dos trabalhadores, não interessa competir com todo sofisticado aparato da indústria. O cinema militante acompanha de dentro as lutas, as dificuldades e a própria construção da consciência da classe operária. Não se disputa espectadores mas procura-se construir, a partir das necessidades e do cotidiano,o espaço específico que o cinema militante ocupa na luta proletária.
 Devemos estimular a produção audiovisual dos trabalhadores enquanto diferencial ideológico que corresponde ao mundo concreto. A diversidade de olhares sobre as mais variadas realidades humanas não pode ocultar o principal eixo da luta cultural: apresentar uma visão anticapitalista no interior da sociedade alienada.

                                                                                            Lenito

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

A experiência surrealista é necessária:


 Para ser subversiva a criação artística não pode falar  a língua do sistema estabelecido. Isto parece óbvio, mas é frequentemente esquecido nas práticas da militância cultural. A ordem burguesa não domina apenas a partir de um discurso racional(o qual garante a exploração) mas da internalização dos seus valores: a mercadoria no capitalismo avançado entra na pele dos trabalhadores, ainda que a economia esteja em crise. Diante da possibilidade do problema econômico dar margem para um trabalho político, que contribui com a consciência de classe, se faz necessário também revolucionar a subjetividade. Em nossa história recente ninguém foi mais longe neste campo do que o surrealismo.
 As ideias surrealistas, em boa parte diluídas pela mercantilização da própria arte surrealista, oferecem um campo de possibilidades poéticas que recuperam as nossas forças psíquicas. A subversão do cotidiano pelo maravilhoso,a descoberta da beleza convulsiva, profanam um mundo em que o dinheiro e as aparências são a regra da penitenciária mental. Evidentemente que a arte também deve denunciar e falar de ideias políticas, mas a experiência surrealista ataca a classe dominante em suas certezas racionalistas e amesquinhadoras da existência humana.


                                                                                   Os Independentes

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

As massas e as obras de arte:

As sofisticadas formas de alienação levam alguns críticos a se precipitarem: as massas não estariam mentalmente " prontas " para recepcionar as " verdadeiras " obras de arte. Esta é uma velha questão, que pelo fator da generalização faz um diagnóstico cultural que revela um posicionamento elitista. Em primeiro lugar é preciso observar que do ponto de vista histórico nunca a circulação das informações culturais foi tão intensa: imagens, sons e palavras tomam os nossos sentidos através de diferentes tecnologias. A internet, apesar de sustentar em 90% interesses capitalistas, deu um chega pra lá no velho museu empoeirado. Tal circulação seria um fator determinante para a apreensão e reflexão de experiências artísticas?
 O fator ideológico, e portanto o caráter educacional, pesa enormemente sobre os hábitos culturais das massas no Brasil. Ao mesmo tempo, a postura isolada daqueles que consomem e analisam obras de arte que fogem dos esquemas de massificação, é a outra face da cultura da alienação. O pulo do gato para superarmos esta questão passa por um projeto político no qual a formação cultural dos trabalhadores realiza-se mediante as novas formas de circulação das obras de arte. Como bem observou Walter Benjamin durante os anos 30, a questão é perceber que nas formas de distração das massas está a base para compreendermos as tarefas históricas da percepção.


                                                                                           Lenito

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Aprendendo com Brecht:



 Muitos militantes de esquerda possuem uma análise política correta, mas, por outro lado, não conseguem se comunicar com grande parte dos trabalhadores. Sendo assim não basta ter a teoria marxista na ponta da língua. É preciso meditar sobre a práxis e logo sobre estratégias de comunicação. O teatro ainda é um campo de inúmeras possibilidades políticas para que as formas comunicativas  revolucionárias sejam cultivadas; o que por sua vez torna as concepções estéticas de Bertolt Brecht mais do que necessárias.
 Brecht nos ensina, dentre outras coisas, que é preciso partir do contexto cultural do proletariado para se criar uma linguagem revolucionária. Este é o princípio dialético que vale não apenas para o teatro político mas para as práticas políticas da esquerda em geral.


                                                                                       Geraldo Vermelhão

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Walter Benjamin: alegoria e rebelião



 Walter Benjamin não é apenas um dos pensadores mais importantes da primeira metade do século XX. Ele é o portador da chave que permite compreender como a palavra/imagem podem ser forças essenciais no confronto contra a sociedade burguesa. Benjamin, um romântico revolucionário, sabia que numa realidade fragmentada pela mercantilização da vida, a alegoria é um recurso fundamental: se para Goethe o poeta parte do particular para o universal, Benjamin ia no sentido contrário e via que o alegórico contribui com o entendimento crítico do capitalismo.
  Benjamin enriquece o pensamento marxista com conceitos que iluminam a reflexão sobre a cultura: aura, mônada, reprodutibilidade técnica são alguns destes conceitos. O leque de interesses deste filósofo-artista(de Baudelaire a Kafka, de Brecht aos surrealistas) geraram escritos seminais. Uma escrita poética que não perde em nada da necessária objetividade histórica na reflexão estética. A esquerda ainda tem muito o que aprender com Walter Benjamin.


                                                                                               Tupinik

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Lançamento do Zine CRIMIDEIA:


 Quando Platão perseguiu os poetas na Grécia Antiga, o filósofo sabia que a ação poética revela um " conhecimento criminoso ". A ameaça que a arte e a poesia traz historicamente para as sociedades de classes é compreendida(e praticada) por marginais iluminados. Um leitor faminto deve se perguntar: " Mas aonde é que eu encontro este conhecimento transgressor hoje ?". Adiantamos que este mesmo leitor deve se dirigir para a cidade de Campinas: nesta terra de barões em que poucas andorinhas sabem voar, está sendo lançado o zine Crimideia , um bombardeio poético contra a cultura dominante.
  Crimideia é a primeira iniciativa editoral da Encruzilhada Edições. Bruno Zambelli, ator e poeta que faria Platão se borrar todo, é um dos cabeças deste zine que promete dar uma lição contracultural no território campineiro. Em sua primeira edição Crimideia incendeia a nossa imaginação com ilustrações autorais e clássicas, além de textos bombásticos. Gente amaldiçoada como Rimbaud e Batallie ajudam a temperar esta publicação que conta com o trabalho de poetas e jornalistas.
  Se Oswald de Andrade compreendia que tinta e papel são mais eficazes do que metralhadoras, o pessoal do Crimideia interpreta ao pé da letra esta afirmação revolucionária.


                                                                                    Os independentes

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

A música e a juventude:


 Sempre é tempo de cantar, exteriorizar as palavras caladas/esquecidas, jogar os sons pra fora do " eu-reprimido ".  Trabalhadores, estudantes e as mais variadas minorias sabem que a música é uma marcha sonora que ocupa de modo sensual nossa consciência. Seja em 1968 ou em 2015 jovens cantam novas ou velhas canções em suas lutas políticas. O Estado capitalista, é claro, responde com pancadas ou com maquiagem quando os sons que acompanham a luta subvertem o cotidiano alienado. Mas o importante é que este braço de ferro entre liberdade e opressão possui historicidade. Portanto, quando os estudantes secundaristas do Estado de São Paulo marcam ponto na luta por um outro projeto de Educação, podem acreditar que as canções do passado e do presente se misturam numa sinfonia elétrica da liberdade. Juventude e música andam juntos porque cantar, saltar, protestar e resistir são aspectos vitais da luta política/cultural.


                                                                                     Os Independentes

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

O escritor, o militante e o escritor-militante:


 Tem escritor que não sabe mas escrever é inevitavelmente um ato político. Evidentemente que isto não significa dizer que poetas, romancistas, contistas e outros escritores sejam porta vozes de ideologias políticas que violam os procedimentos de criação artística. O fato é que para muitos existe uma falsa divisão intelectual entre o escritor e o militante. Enquanto que o militante de esquerda está orientado para uma atividade política que requer resultados objetivos na realidade social, o escritor seria uma espécie de ser flutuante. A alternativa para esta falsa divisão está na figura do escritor militante.
 O escritor militante é aquele que, engajando-se nas grandes questões políticas do seu tempo, empenha-se na elaboração estética que atua sobre a consciência dos leitores. Não se trata da utilização da literatura como simples pretexto para realizar propaganda política. O escritor militante mostra que o texto literário, em sua especificidade, é uma força ideológica que invalida a existência da sociedade capitalista.


                                                                                               Lúcia Gravas

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

A criação artística é revolta:


O que a criação de um objeto artístico acrescenta na realidade? A lógica capitalista responde brutalmente através da conversão da obra de arte em mercadoria. Porém, qual é a origem criadora do ato? Num mundo de cacarecos e objetos alienantes, a arte enquanto processo expressivo não se contenta em apenas aumentar a pilha de lixo. A obra artística abre uma perspectiva existencial que se choca com a organização econômica adestrada do capitalismo. Ainda que muitos artistas não saquem muito bem este fato, a verdade da arte implica na criação de uma outra realidade dentro do real: é aí que mora todo o seu poder político de subversão.
 Chocando-se com o cotidiano, com a previsibilidade de uma realidade social na qual os homens não passam de ferramentas que alimentam o capital, o artista consciente faz pouco caso da organização mental dominante e instaura uma verdadeira ruptura em nossa percepção. A arte ocupa o lugar de um mar de objetos alienados e limpa a nossa visão na direção de uma consciência política transformadora.

                                           
                                                                                            Marta Dinamite

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

A necessidade revolucionária da Estética:


 Contrariando o que esquerdistas e sectários em geral sempre sugeriram, a dimensão estética não é parte de um reino reacionário. Se historicamente a categoria da Estética, elaborada em meio às convulsões políticas e sociais do século XVIII europeu, foi expressão cultural da ascensão revolucionária da burguesia, não podemos perder de vista que ela também é vital para a classe trabalhadora. Muito mais do uma "ciência sensual " empenhada no estudo da arte, a Estética enquanto categoria filosófica entra em conflito com a organização social do trabalho.
 É fato que a Estética é um conceito contraditório, sendo que ela converteu-se em parte essencial da hegemonia burguesa, fortalecendo as qualidades sensíveis da mercadoria e por consequência legitimando a sociedade da alienação. Porém, o que a Estética também revela é que o conjunto das experiências sensíveis do ser humano desafia o princípio de realidade estabelecido: a criação de uma cultura sensual, no dizer de Marcuse, envolve a contribuição revolucionária da Estética. A criação e o jogo desinteressado de nossas potencialidades  enquanto aspectos presentes na ação/reflexão estética, chocam-se com o trabalho alienado e com toda organização política que visa administrar os desejos de homens e mulheres. A Estética é parte essencial do processo político revolucionário de libertação.


                                                                                            Os Independentes