terça-feira, 18 de setembro de 2018

Boletim Lanterna. Ano 08. Edição 122

Neste convulsivo ano de 2018, acreditamos que o ciclo mensal de filmes CINE 68 , mais uma parceria entre o nosso blog e o Museu da Imagem e do Som da cidade de Campinas, tem cumprido um importante papel político e cultural ao resgatar, analisar, reler e cultivar as imagens libertárias do ano de 1968. Cabe salientar que neste ciclo de filmes procuramos listar obras que embora não tenham sido propriamente lançadas em 1968, pertencem ao mesmo caldo cinematográfico/político do período. Este foi o caso do longa A Chinesa(1967), de Jean Luc Godard, que exibimos no semestre passado. Este será o caso de Terra em Transe(1967), de Glauber Rocha, que exibiremos no próximo dia 13 de outubro. Todavia o filme de Glauber parece exercer uma presença ainda mais perturbadora em 2018.
  Terra em Transe , transformado por muitos jovens de 1968 em bandeira da luta política revolucionária, é uma obra cujas lições alegóricas e violência poética foram fundamentais para a formulação da estética do movimento tropicalista. Esses fatos são conhecidíssimos por historiadores, críticos e estudiosos do cinema brasileiro. Mas se este filme de 1967 exerceu um impacto estético devastador em 1968, em 2018 ele torna-se uma obra não menos controversa: perante a polarização ideológica no Brasil dos nossos dias, em que ocorre a hostilidade e criminalização das ideias políticas de esquerda, o longa de Glauber adquire peso. No enredo do filme, o imaginário país Eldorado metaforiza o Brasil e a América latina como um todo. Os erros políticos da esquerda brasileira, as contradições entre o intelectual de classe média e o povo, as tensões entre a poesia e a política, as convulsões políticas que levaram à queda do presidente Jango e ao Golpe de 64, evento fatídico que marca o triste período da ditadura militar no Brasil(1964-85),  são carnavalizados no filme dentro de um delírio barroco.
 O transe que a esquerda dos anos 60 experimentou com o avanço da extrema direita, é uma realidade  relativamente familiar para o militante de esquerda dos nossos dias: embora existam as obvias diferenças de contexto histórico(afinal, sabemos que a história não se repete), sentimos na pele hoje toda uma onda conservadora que visa abafar o pensamento crítico. Aliás é a própria memória das formas de arte revolucionária que encontra-se ameaçada. É preciso coragem para exibir este explosivo filme de Glauber Rocha.  

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