O diretor teatral José Celso Martinez Côrrea, a quem o teatro brasileiro deve muito em matéria de revolta e invenção, foi intimado pela polícia de São Paulo. As autoridades exigem que Zé Celso reconheça os atores do Teatro Oficina que teriam tomado parte numa performance em que o Papa teria sido degolado. Esta intervenção do grupo ocorreu na Puc da cidade de São Paulo, num momento em que tanto a citada universidade quanto a própria cidade estão sendo sacudidos por uma onda de protestos: enquanto que na Puc os estudantes não aceitam o processo antidemocrático da escolha da reitoria, nas ruas outros militantes se rebelam contra o aumento no valor da passagem de ônibus. Diante desta atmosfera opressora e autoritária, a arte só pode responder com a sua violência simbólica, com a sua natureza transgressora cujo o significado maior é a busca pela liberdade total. A turma do teatro Oficina sabe disso... Além da inquestionável competência cênica, o Oficina desde os anos sessenta cumpre o papel de colocar em cheque todos os tabus(sejam eles sexuais, religiosos, químicos, econômicos, estéticos e políticos).
É natural que os guardiães da ordem estabelecida procurem reprimir estudantes, artistas e trabalhadores que não se sujeitam aos ditames da sociedade burguesa. A opressão política nas universidades, a violência econômica contra os trabalhadores e a tentativa policialesca de intimidar a arte rebelada, participam de um mesmo momento conservador do Brasil. Mas é preciso lutar, é preciso cantar, é preciso arrancar a grande cabeça que pensa a castração, promove a culpa e aliena as massas. Nós nos solidarizamos integralmente com os companheiros antropófagos do Teatro Oficina, para quem a liberdade do artista é um fato que enriquece a cultura revolucionária. A tomada de consciência dos problemas políticos deve estar acompanhada da criatividade libertária do artista. O que os estudantes e os militantes da cultura exigem é toda a liberdade para o artista que participa dos problemas do seu tempo.
CONSELHO EDITORIAL LANTERNA
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