Dando continuidade ao que começamos a realizar na edição retrasada(Edição 50), segue abaixo mais um pequeno exercício literário de esquerda. A autora, que assina com o pseudônimo de Marta Dinamite, pertence ao grupo do nosso blog.
" Podem digitalizar o quanto quiserem as velhas chaminés das fábricas. No final do dia, fico sempre com a cabeça quebrada, os olhos afundados nas duas crateras da cara e com as mãos pesadas feito chumbo. Trampo é trampo, mais valia é mais valia. Estou sendo uma marxista dramática? Calma aí cara, preciso desabafar.
Como é que eu recarrego as minhas baterias? Dormir nem pensar: a noite é o único momento bom para ficar acordada, não concorda?. Se eu pudesse mastigava os fios dos postes ou deixava que a eletricidade da cidade entrasse toda no meu corpo, acabando com a luz dos bairros burgueses.
Minha mandíbula não é de nada para este bife duro da minha marmita... Dar uma dentada num tijolo qualquer seria mais sensato e o gosto não seria lá muito diferente. Frescura? Então pega um pedaço e sente o gosto! Na semana passada fiquei perdida num super mercado: eu não tinha grana para comprar nada e não conseguia achar a saída. Prateleiras eram mãos perfumadas que queriam quebrar o meu pescoço. Quer saber? Ando tão sem grana que se eu morresse não haveria enterro mas um despejo barato para debaixo da terra.
Você acha que estou com chororô? Então paga o meu feijão, cara! Ah, você também está sem grana? Então como é? O que nós dois, três, quatro(e vai somando até chegar na faixa dos milhões de trabalhadores ferrados) vamos fazer? Tá, podemos rezar, encher a cara, etc e tal. Calma: não estou debochando! Não tenho nada contra isso. O que você disse? Ah, agora é você quem está debochando: o fato de eu ser de esquerda, faz com que você pense que eu queira te doutrinar, que eu queira te convencer que a única saída é a política. Falou, então você não faz política? Qual é a sua classe? Não, não: não estou falando de time de futebol ou dos seus brothers lá do bairro. O que eu e você temos em comum, além da minha marmita e da sua? Toma: pega um pedaço do meu bife e vamos bater um papo sobre política ".
Marta Dinamite
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