Marx comprovou em sua análise como o capitalismo é um sistema hostil à arte e à literatura. Para quem conhece um pouquinho da história do século passado, sabe que tal hostilidade não se restringe à mercantilização das expressões artísticas, mas atinge em cheio a liberdade dos artistas de esquerda. Isto pode ser facilmente comprovado a partir de inúmeros documentos que integram tanto arquivos dos órgãos de repressão dos regimes militares(algo muito conhecido no Brasil, que só no século XX viveu 2 ditaduras) quanto os arquivos da Inteligência norte americana. O jornal Folha de São Paulo, na edição de 11/02/17, trouxe num artigo assinado por Paula Sperb, trechos de documentos da CIA que tratam do monitoramento que o escritor brasileiro Jorge Amado foi alvo durante os primeiros anos da guerra fria. Pode parecer um exemplo distante no tempo e no espaço. Porém, num momento em que a extrema direita sai do armário nos EUA, na Europa e até no Brasil, relembrar as práticas repressivas contra escritores e artistas é, no mínimo, um aviso político para a juventude e os trabalhadores.
Chamado pela de CIA de " garoto de recado " dos comunistas, Jorge Amado é o mais célebre escritor militante nacional cujos romances eram expressões do seu engajamento intelectual orientado pela estética do Realismo Socialista. Mesmo com o fim da União Soviética, tudo indica que na América de Donald Trump, este tipo de literatura ainda deve ser motivo de ultraje para conservadores. É fato que os mais avançados debates estéticos da esquerda, demonstram claramente as limitações técnicas, as distorções da narrativa e a fragilidade do teto de vidro da literatura jdanovista. Mas a crítica ao modelo de romance que Jorge Amado apresenta entre os anos 30 e início de 50(crítica esta empreendida pelos setores mais culturalmente esclarecidos da esquerda, sobretudo pelos trotskistas: o trotskismo é a escola política mais consistente para a realização das reflexões estéticas de ordem marxista), não retira o caráter revolucionário e inovador da literatura de Jorge Amado: em seus primeiros romances (tais como Cacau, Suor e Jubiabá) Jorge Amado apresenta de modo original e envolvente a cultura popular baiana sob o prisma da luta de classes. Ainda que sob o ponto de vista estético, a literatura revolucionária no Brasil possua nomes mais ousados/radicais(tais como Patrícia Galvão e Oswald de Andrade) a obra de Jorge Amado é de grande importância.
O controle ideológico que a classe dominante realiza sobre a cultura, não dispensa a repressão policial: vigilância e censura caracterizam o aparato burguês. Termos em mãos os exemplos de repressão e controle do passado, permite realizar hoje a crítica contra o conservadorismo reinante.
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