Apresentamos Caminho e suor, de Lenito.
" Um trabalhador seguia a pé pela estrada de ferro. Com 82 anos de idade, ele impulsionava a cada passo lembranças que pesam como o sol do meio dia. Aquela estrada interiorana, dos cafundós do Estado de São Paulo, não era a mesma: quando o trilho treme anunciando um trem que já vem, o velho trabalhador sai da estrada, vai para dentro da mata e espera para ver apenas trens cargueiros. O homem olha para a fábrica de farinha abandonada. Fita com um riso invisível dois garotos empinando uma pipa num barranco sujo, no qual a poeira da estiagem voa preguiçosamente na paisagem seca .
As lembranças do trabalhador estão documentadas nas suas velhas mãos: são mãos de quem trabalhou a vida inteira, nos mais diversos expedientes. A mão é o registro de quem produziu muito e não ganhou nada. Aliás, suas mãos contrastam com o estômago vazio: mãos que produziram, um estômago que ao longo da vida recebeu pouca comida.
Cansado da caminhada, ele senta embaixo de um pé de jabuticaba. Ele queria era que alguém explicasse a ele por que a vida teve que ser assim. "
Lenito
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