sexta-feira, 30 de outubro de 2015
A pintura de Ismael Nery:
Uma exposição muito bacana está rolando na Galeria Almeida e Dale, na cidade de São Paulo. Trata-se de uma retrospectiva sobre a pintura de ninguém menos que Ismael Nery. Este importante pintor brasileiro é um dos nomes mais radicais do nosso modernismo. Não compactuando com a catapora nacionalista que se espalhou pelos círculos do modernismo brasileiro da década de 20, Nery foi uma exceção dentro da arte de vanguarda realizada no país. O internacionalismo de Nery possibilitava um trânsito legal com movimentos cosmopolitas, tais como o surrealismo. Se aparentemente pode parecer estranha a afinidade do pintor católico com o temperamento anticlerical dos surrealistas, o fato é que Nery apresenta uma arte que explora as dimensões do inconsciente(é uma verdadeira aula de psicanálise).
Ismael Nery foi um artista que morreu muito jovem. Pintor de vanguarda e brother do poeta Murilo Mendes , sua obra se mantém firme e forte no século XXI.
Os Independentes
quinta-feira, 29 de outubro de 2015
Na selva com Brecht:
Em tempos de crise econômica, a obra do teatrólogo alemão Bertolt Brecht aumenta seu peso revolucionário. Esta é uma evidência que vira e meche fazemos questão de frisar, de tempos em tempos, no nosso blog. O pessoal da Mundana Companhia, por exemplo, montou a explosiva peça Na Selva das Cidades. Este texto que já teve aqui no Brasil uma célebre montagem dirigida por Zé Celso em 1969, chega em 2015 mais atual do que nunca.
Através de um processo criativo que envolve diferentes espaços da cidade de São Paulo, a Mundana Companhia atualiza o teatro de Brecht revelando as contradições urbanas e sociais, num processo que compreende o espaço empresarial, a favela, o bordel, etc. Brecht é simplesmente inesgotável.
Geraldo Vermelhão
quarta-feira, 28 de outubro de 2015
Romance social e realidade histórica:
A grande arte do romance permite pela ficção um conhecimento histórico profundo. A narrativa literária que fixa os dois pés na realidade, e não no delírio massificador, é um esforço artístico para o entendimento das relações humanas na sociedade de classes. A crítica social que surge no romance politicamente comprometido, atende a uma necessária mudança na percepção da realidade histórica. Entretanto, é preciso estar atento quanto ao descompasso entre representação e o contexto histórico concreto.
Não se pode representar, por exemplo, a exploração operária com uma narrativa que desconsidere as mudanças e o próprio percurso histórico das lutas operárias. Foi exatamente esse o foco da crítica literária apresentada por Engels. Seus diálogos com a escritora inglesa Margaret Harkness, ilustram a preocupação de retratar o proletariado a partir dos níveis concretos de desenvolvimento da sua consciência política e dos seus combates.
Lúcia Gravas
terça-feira, 27 de outubro de 2015
A reflexão estética:
Muitos filósofos e críticos preocupam-se em observar a arte contemporânea a partir do estranhamento das obras. Tomando como eixo a desconstrução da ideia de arte realizada por correntes estéticas contemporâneas, tais como a Pop e a " arte ambiental ", o foco da análise parece ainda boiar no seguinte fato: objetos que em sua origem e função não são " artísticos "(um pneu ou uma lata de refrigerante, por exemplo) tornam-se obras de arte. Este seria o eixo de um debate estético que já encheu a paciência.
Até quando artistas e teóricos irão insistir na ausência de limites do que seja ou não " arte " ? Mais frutífero talvez seja compreender que a arte não pode salvar-se sozinha. Seu destino é encontrar-se com o movimento político que pode libertar o homem de uma cultura alienada. A arte precisa encontrar-se, a partir dos seus próprios meios, com a política revolucionária.
Os Independentes
Até quando artistas e teóricos irão insistir na ausência de limites do que seja ou não " arte " ? Mais frutífero talvez seja compreender que a arte não pode salvar-se sozinha. Seu destino é encontrar-se com o movimento político que pode libertar o homem de uma cultura alienada. A arte precisa encontrar-se, a partir dos seus próprios meios, com a política revolucionária.
Os Independentes
segunda-feira, 26 de outubro de 2015
Os Stones em Cuba:
Mick Jagger esteve em Cuba para acertar com as autoridades a possibilidade dos Rolling Stones tocarem na ilha. A notícia vem se espalhando ao mesmo tempo em que os Stones acabam por simbolizar, no quadro das relações capitalistas, uma atração que surge em consequência da "abertura" do regime cubano. Mas o que realmente pode significar a presença da banda inglesa na ilha? Será que este possível encontro possui alguma relação com aquilo que tanto a Revolução cubana quanto os Stones já representaram algum dia?
Durante a década de sessenta, Cuba enquanto parte integrante do bloco de países liderados pela então URSS, desafiava o imperialismo norte americano: da condição de quintal explorado Cuba afirmou-se como expressão política de libertação dos povos latino americanos. Mas internamente o regime tido como " socialista " delineava uma atmosfera autoritária: nos campos cultural e político não apenas as forças reacionárias eram abafadas, mas tendências socialistas revolucionárias que destoavam do stalinismo de Fidel Castro(as lideranças operárias cubanas estavam submetidas ao controle político da burocracia); para artistas e intelectuais a coisa toda ficaria insuportável a partir dos anos setenta. Paralelamente, na Inglaterra, os Rolling Stones integravam um caldo contracultural que apesar de estar imerso em relações comerciais, desafiava a moral burguesa; o rock era o carro chefe musical da rebelião da juventude no interior dos países capitalistas. Porém, o rock era na ótica das burocracias do Segundo mundo um péssimo exemplo para a juventude; os Stones representariam a " decadência burguesa " , sendo que seus discos e influência comportamental eram nocivos em Cuba.
Mas, em 2015, o que seria a Revolução cubana e quem seriam os Stones? Cuba hoje prova dos seus próprios erros históricos, configurados no nacionalismo e no isolamento político que só fortaleceram o cerco capitalista. Já os Stones fazem parte do status quo e suas músicas interessam apenas como clássicos do rock. Triste, não acham?
Tupinik
sexta-feira, 23 de outubro de 2015
Lênin e o cinema:
Lênin frisou em suas declarações a importância revolucionária do cinema. Num momento histórico em que o proletariado russo deveria fortalecer o regime socialista na União Soviética, o cinema era um forte aliado: Lênin sabia que a educação política da classe operária e do campesinato passava necessariamente pelo peso ideológico que os filmes possuem. O líder e pensador marxista estava mais do que certo. Diante de uma população em grande parte analfabeta, o cinema era um instrumento político valioso que contava didaticamente(e de modo altamente criativo) a história do movimento operário russo. Mas, e hoje em dia? O cinema possui algum significado político progressista para o proletariado?
Atualmente o cinema se mantém enquanto forte aliado político na construção de uma consciência revolucionária. Embora a esmagadora maioria da produção audiovisual não expresse a crítica ao mundo burguês, o cinema é uma arte estratégica numa realidade em que a imagem é um dado determinante nas formas de consciência. O conselho de Lênin ainda está na ordem do dia.
Geraldo Vermelhão
quinta-feira, 22 de outubro de 2015
A importância do naturalismo:
Enquanto escola artística do século XIX o naturalismo está ultrapassado sob vários aspectos. Todo aquele determinismo cientificista que compreendia, por exemplo, o homem enquanto refém do meio social, foi ultrapassado pelas transformações estéticas libertárias da arte de vanguarda. Porém, a estética naturalista ainda pode apresentar aspectos expressivos úteis para o artista militante. A busca por um retrato crú, objetivo das mais variadas realidades sociais, rompe radicalmente com o idealismo e toda carga sentimentaloide burguesa.
O fato das manifestações artísticas, ideologicamente comprometidas com a classe dominante, produzirem miragens(inclusive no contexto da cultura de massa) faz do naturalismo um contraponto radical. Não se trata do puro retorno ao naturalismo, o que evidentemente acarretaria em anacronismo. Mas deve-se ao menos aproveitar sua " objetividade estética " para retratar os problemas do mundo atual; não é portanto o retorno mas um atalho histórico.
Lúcia Gravas
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