A crítica burguesa de arte chegou ao ápice do gozo reacionário com
a afirmação do artista Ai Weiwei no ano passado, para o qual não
existe arte na china, pois num país " totalitário a imaginação e a
paixão criadora não podem existir ". É comum que o mundo capitalista se
esforçe para desqualificar a produção cultural dos poucos paises
socialistas que restam. Tudo começou com as discussões em torno da
exposição do ano passado, Arte da Mudança: Novas direções da China. É
claro que os rumos estéticos e econômicos da China podem ser
questionados, mas há de se detectar se tal questionamento revela a
crítica de esquerda ou de direita. Apesar das contradições econômicas
e políticas que a China atual apresenta no plano do
socialismo(saudades de Mao, afinal a China mais do que antes deveria
passar por uma nova Revolução cultural...), é facil dizer que a arte
chinesa não passa de porco agridoce(que aliás é bem melhor que
hamburguer norte americano). Esta espécie de comentário se baseia numa idéia
superficial do que seria a liberdade de expressão: o discurso liberal
ataca a censura do governo chinês mas acaba por ocultar que no
capitalismo " a liberdade " pertence aos economicamente mais fortes,
aos detentores do capital; ou seja a verdade é que nos paises
capitalistas a arte é reprimida , banalizada e isolada dos
trabalhadores, enquanto
que na China busca-se em certo sentido assegurar os interesses da
coletividade perante a produção cultural(ainda que o Partido possua
contradições e erros em tais esforços). Weiwei tem lá os seus
problemas com as autoridades chinesas e evidentemente que não concordo
com a repressão aos intelectuais e artistas chineses(o comunismo não
pode proceder
deste modo em questões desta natureza). Porém, isto tudo deve ser
discutido entre os camaradas, entre o Partido, entre artistas e
críticos chineses e não dar de bandeja para os capitalistas argumentos
distorcidos e fora de contexto para se esculhambar a cultura chinesa. Eu
diria até que a ameaça á arte e as tradições do povo chinês não partem
da censura do governo mas sim das grandes corporações capitalistas que
andam estabelecendo parcerias com empresas chinesas(vejam por exemplo
a crescente parceria entre Hollywood e o cinema chinês, ou seja uma verdadeira
ameaça para a arte socialista que enfrenta uma espécie de indústria
cultural chinesa).
Existe sim uma arte chinesa, colhida a partir de experiências
nacionais específicas. Weiwei acaba generalizando a produção artística
e a confundindo com as contradições do Partido na China. Aliás o poder
da arte faz com que ela seja um espelho para as atuais contradições da
sociedade chinesa, e isto pode ajudar os camaradas a refletir sobre o
futuro do socialismo e de uma arte feita nesta perspectiva política.
Defendo aqui a legitimidade da arte revolucionária produzida entre os
poucos artistas socialistas que
resistem.
José Ferroso
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