O longa O GRANDE MOMENTO, de 1958, elevou o realismo no cinema
brasileiro a um patamar raramente visto anteriormente. Sem incorrer
sobre os perigos da demagogia e do paternalismo, Roberto Santos
realizou uma pelicula que apressou o preparo do caldo estético que deu
no movimento do cinema novo. É um filme precurssor, original e
tragicamente bem humorado. Um jovem que está numa aflita busca por
dinheiro para pagar os últimos preparativos do seu casamento, ilustra
a incompatibilidade entre a felicidade e a realidade do proletariado
paulista.
Numa atuação magistral, o então jovem Gianfrancesco Guarnieri,
apresenta um personagem cujo o significado social era praticamente
inédito no cinema brasileiro: o operário prestes á casar, ás voltas
com a familia e a precariedade econômica, passa com uma velocidade
poética na sua bicicleta; instrumento de trabalho que terá que vender
para conseguir dinheiro. A influência do neo-realismo italiano é total
e veio bem a calhar com a realidade cultural em questão: imigrantes
italianos do Brás, buscando a felicidade impossibilitada pelo capital.
É extremamente significativo que este passo decisivo no cinema
político brasileiro seja ambientado no Brás: este bairro
historicamente operário, no qual os anarquistas já militavam
culturalmente com o seu teatro de agitação durante o início do século
passado, encaixou-se perfeitamente com este primeiro momento de
inquietação nas temáticas cinematográficas. Sem temer o lado pastelão,
presente por exemplo na briga durante o casório(as frustrações e
insatisfações dos trabalhadores quando não são esclarecidas pela
denúncia da exploração capitalista, geram brigas e desentendimentos
entre a própria classe), este filme serviu para arar o terreno.
Roberto Santos junto a outros nomes como Alex Viany e principalmente
Nelson Pereira do Santos, abriram picada para que Glauber Rocha e a
sua turma botassem pra quebrar na década seguinte.
Pode-se dizer que este filme aborda os dramas sociais com mais
precisão que o chamado realismo carióca da época, justamente porque
Roberto era vacinado em relação ao perigo declamatório e panfletário
que a opção realista pode invocar. Humilde e com um bela visão
totalizante, O GRANDE MOMENTO deve ser revisto pelo seu mérito
estético e pela atualidade do seu tema. Infelizmente mal distribuido
no período do seu lançamento, este filme deve constar entre aqueles
que orientam um realismo de qualidade na História do cinema
brasileiro.
Lúcia Gravas
FILME: O Grande Momento
DIREÇÃO: Roberto Santos
ANO: 1958
DIA: 4/05
LOCAL: Museu da Imagem e do Som de Campinas
HORÁRIO: 19:30
brasileiro a um patamar raramente visto anteriormente. Sem incorrer
sobre os perigos da demagogia e do paternalismo, Roberto Santos
realizou uma pelicula que apressou o preparo do caldo estético que deu
no movimento do cinema novo. É um filme precurssor, original e
tragicamente bem humorado. Um jovem que está numa aflita busca por
dinheiro para pagar os últimos preparativos do seu casamento, ilustra
a incompatibilidade entre a felicidade e a realidade do proletariado
paulista.
Numa atuação magistral, o então jovem Gianfrancesco Guarnieri,
apresenta um personagem cujo o significado social era praticamente
inédito no cinema brasileiro: o operário prestes á casar, ás voltas
com a familia e a precariedade econômica, passa com uma velocidade
poética na sua bicicleta; instrumento de trabalho que terá que vender
para conseguir dinheiro. A influência do neo-realismo italiano é total
e veio bem a calhar com a realidade cultural em questão: imigrantes
italianos do Brás, buscando a felicidade impossibilitada pelo capital.
É extremamente significativo que este passo decisivo no cinema
político brasileiro seja ambientado no Brás: este bairro
historicamente operário, no qual os anarquistas já militavam
culturalmente com o seu teatro de agitação durante o início do século
passado, encaixou-se perfeitamente com este primeiro momento de
inquietação nas temáticas cinematográficas. Sem temer o lado pastelão,
presente por exemplo na briga durante o casório(as frustrações e
insatisfações dos trabalhadores quando não são esclarecidas pela
denúncia da exploração capitalista, geram brigas e desentendimentos
entre a própria classe), este filme serviu para arar o terreno.
Roberto Santos junto a outros nomes como Alex Viany e principalmente
Nelson Pereira do Santos, abriram picada para que Glauber Rocha e a
sua turma botassem pra quebrar na década seguinte.
Pode-se dizer que este filme aborda os dramas sociais com mais
precisão que o chamado realismo carióca da época, justamente porque
Roberto era vacinado em relação ao perigo declamatório e panfletário
que a opção realista pode invocar. Humilde e com um bela visão
totalizante, O GRANDE MOMENTO deve ser revisto pelo seu mérito
estético e pela atualidade do seu tema. Infelizmente mal distribuido
no período do seu lançamento, este filme deve constar entre aqueles
que orientam um realismo de qualidade na História do cinema
brasileiro.
Lúcia Gravas
FILME: O Grande Momento
DIREÇÃO: Roberto Santos
ANO: 1958
DIA: 4/05
LOCAL: Museu da Imagem e do Som de Campinas
HORÁRIO: 19:30
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