domingo, 3 de abril de 2016

Boletim Lanterna. Ano 06. Edição 12

As formas de polarização ideológica presentes na sociedade brasileira atual, atingem com toda certeza o território da arte. No campo progressista, temos tanto grupos e artistas que defendem a chamada arte popular(enraizada inclusive nas estéticas de teor regionalista), quanto aqueles outros(enraizados na cultura urbana) que defendem intervenções artísticas críticas e contrárias à moral burguesa(em tais manifestações encontramos a luta pela diversidade étnica e sexual, além do protesto contra as desigualdades econômicas). Toda esta face cultural avançada, encontra-se num quadro plural(e politicamente amplo), e contrasta rigorosamente com aquelas manifestações reacionárias, tipicamente de classe média, em que a estética massificada expressa uma aversão por aquilo que já foi chamado de " politicamente correto ".
 É também no interior desta polaridade que clássicos da arte contestadora realizada no Brasil, voltam a causar impacto, estando sujeitos à releituras. Este é o caso, por exemplo, do filme  Terra em Transe(1967), de Glauber Rocha. Terra em Transe pertence ao furacão cultural revolucionário do fim dos anos 60. Entretanto, quando o conservadorismo político atiça no cotidiano o anticomunismo e revela uma direita violentíssima, o filme de Glauber ajuda no aumento da temperatura. Este filme teve recentemente uma montagem teatral realizada na cidade de São Paulo pelo pessoal do Cia. Bará. Cabe mencionar também os debates cineclubistas que este longa ainda anima: no Museu da Imagem e do Som da cidade de Campinas, no último dia 26/03, exibimos o filme que rendeu uma bela discussão política(e estética).
 Mas por que Terra em Transe, um filme que guarda distância com várias manifestações artísticas de hoje em dia, ainda dá pano pra manga? Ao que parece as alegorias carnavalescas em torno de um país chamado Eldorado, que colocam no centro o intelectual de esquerda dilacerado pelos próprios erros políticos da esquerda e às voltas com o avanço da direita, ainda causa eco. É claro que a estrutura metafórica que remete à queda de Jango, é bem diferente do Brasil em que o governo Dilma atravessa uma grave crise.
 O filme de Glauber Rocha significou a ruptura com um modelo de arte calcada no CPC e nos erros políticos/culturais da era Jango. Glauber abriu alas para uma nova orientação estética marcada pela violência e pelo experimentalismo, o que iria desaguar no tropicalismo. Será que hoje em dia as forças artísticas progressistas(plurais e muitas vezes distintas entre si) poderiam proceder na mesma direção? É preciso ir além das respostas estéticas que pertencem unicamente aos anos 60. Os artistas revolucionários de hoje, precisam agir junto ao movimento operário para buscar uma alternativa política revolucionária(verdadeiramente socialista). Uma nova orientação cultural, capaz de fazer frente ao atual conservadorismo, poderá nascer deste processo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário