As relações históricas entre socialismo e cultura, costumavam ser marcadas por apaixonados debates dentro da esquerda. Encontramos em algumas organizações, das mais variadas correntes políticas, a persistência nestas discussões que não são apenas um " aspecto a ser discutido " mas um elemento vital para que possamos tocar o barco do projeto socialista. Porém, tais discussões raramente são aprofundadas, e como já dissemos inúmeras vezes aqui neste periódico, as consequências são péssimas para a militância de esquerda. Talvez a consequência política mais imediata desta falta de atenção dada aos problemas do que seria uma produção artística revolucionária, seja a cretinização que a direita realiza das experiências culturais no socialismo.
É papel ideológico da burguesia fazer troça da história do socialismo e dos seus desdobramentos na cultura. E o pior de tudo, é que a esquerda deu margem para isso. As heranças desastrosas do stalinismo funcionam hoje como caricatura da arte produzida em território socialista. Se hoje Cuba e outros vestígios da guerra fria, respiram por aparelho, no campo da cultura o sentido revolucionário jaz há muito tempo. A Revolução cubana de 1959 foi acompanhada, em especial durante o início dos anos 60, de um cosmopolitismo que se fez ouvir sobretudo no cinema e na literatura. Entretanto, os defensores do realismo socialista sempre estiveram na cola dos artistas para estragar tudo. A exemplo do que rolou na União Soviética( o extraordinário brilho revolucionário das vanguardas soviéticas da década de 20 foi apagado pela escuridão jdanovista a partir dos anos 30) a cultura cubana se viu castrada.
A própria revolução cultural e comportamental da juventude dos anos 60 foi reprimida em Cuba. Cabelos compridos e rock eram no interior dos Estados operários deformados, considerados contra-revolucionários. Mas se o socialismo é a libertação da opressão econômica e política, não faz sentido reprimir o desenvolvimento da cultura. Cuba e outros países perderam a chance de produzir uma arte nova e revolucionária, liberta dos esquemas comerciais(razão esta que fez toda revolução cultural dos anos 60 nos países capitalistas, naufragar legal). Bem, qual seria o resultado disso tudo? Os jovens cubanos tiveram uma enorme curiosidade pelo rock. No mês passado os Rolling Stones tocaram na ilha. Evidentemente que os Stones são a trilha sonora para a abertura das relações capitalistas que começam a infiltrar o teto da sociedade cubana. Os Stones, que já foram uma banda perigosa para os valores burgueses, hoje dão voz ao desejo reprimido de muitos cubanos que associam indevidamente o capitalismo com liberdade.
Enquanto militantes socialistas devemos pensar a cultura numa perspectiva libertária, experimental, voltada para a luta contra a sociedade de classes. Precisamos mostrar que a cultura no socialismo não tem nada a ver com o realismo socialista.
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