quinta-feira, 21 de julho de 2016

Boletim Lanterna. Ano 06. Edição 27

 Não é segredo que a atual onda reacionária atinge também a cultura. Trata-se do velho território de valores, práticas e representações que fundamentam a existência da classe dominante. As contradições do capitalismo em escala global, fazem com que a opinião pública conduzida pelas burguesias procurem trancar a arte numa redoma de vidro. Instalando um alarme de segurança na estética ou colocando tornozeleiras eletrônicas na expressão, o sistema pretende condenar a arte a uma espécie de inutilidade, existindo como uma exótica mercadoria. Hoje no Brasil, nos EUA e em alguns países europeus, a ação artística em seus aspectos mais ousados e contestadores é intimidada por um cotidiano castrado, fechado para maiores voos poéticos.
 De fato, a arte tomada como luxo espiritual é uma refugiada no reino da cultura: num mundo atravessado pela fome, pela violência urbana, por atentados, pelo fanatismo religioso e por um crescente conservadorismo político, qual seria a relevância da criação artística? Pensamos que a arte colocada numa redoma de vidro é uma resolução da cultura dominante. Diferentemente do que muitos pensam, defendemos uma concepção estética em que a arte é um elemento vivo, que participa das lutas pela emancipação humana. Não se trata de realizar obras de arte tomadas por um sentimento de bobo alegre, sonhando com a paz mundial trajando roupas de marca. Enquanto resposta ou ao menos como sintoma político, a arte deve ser uma prática de oposição aos fundamentos econômicos, políticos e morais da sociedade burguesa.
 A arte só pode restabelecer sua veracidade, sua importância, seu sentido pleno, se ela atuar por uma outra realidade: a criação artística não aceita o rotineiro, não incrementa uma ordem social na qual a opressão impede a beleza em seu caráter iminentemente libertário. Portanto, se os artistas não reconhecerem o destino político da arte do nosso tempo, estarão fadados a se autoflagelarem ou simplesmente se autodestruírem nos limites do próprio ego. Cabe salientar, mais uma vez, que a tomada de consciência sobre o problema político não faz da arte uma serva da esfera política: a arte atua politicamente enquanto arte.  Num momento em que as questões de segurança tornam-se mais importantes que  comida e  saúde,  os artistas devem revelar/denunciar a insegurança oculta dos discursos que fundamentam um sistema opressor.

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