As necessidades expressivas condicionadas pelo desenvolvimento técnico, estiveram irremediavelmente no século XX ligadas às revoltas estéticas da arte moderna. Ao revelar a crise e as contradições da cultura burguesa, o artista moderno abria um campo sensorial que muitas vezes sugeria a Revolução política enquanto saída concreta para os impasses históricos do capitalismo. Mas num belo dia ensolarado do final do século passado, quando reacionários saíram para passear e impedir a marcha da história, alguns pensadores anunciaram o enterro da modernidade artística. Nesta tentativa de sepultamento, não apenas os programas de vanguarda mas a energia utópica e o papel revolucionário do proletariado foram atirados na mesma vala. Se não vivemos mais uma época de rupturas estéticas, a arte ainda está longe de superar sua crise. Se o capitalismo tenta cooptar a classe trabalhadora, ilusoriamente integrando-a aos bens de consumo, a miséria e a exploração ainda são fatos sociais. Portanto, arte e proletariado ainda representam possibilidades concretas de luta pela emancipação humana.
Sabemos que historicamente existiu uma afinidade entre arte de vanguarda e socialismo revolucionário. Isto foi visível, por exemplo, na Revolução russa de 1917 e na tentativa frustrada da Revolução alemã de 1918. O totalitarismo político encarnado no fascismo e no stalinismo conseguiu duramente muito tempo destruir estes laços progressistas: a barbárie estética dos nazistas e o Realismo Socialista conseguiram reprimir os impulsos libertários da modernidade artística. O século XX deixou heranças reacionários e heranças revolucionárias, tanto no campo político quanto no cultural. Quais heranças andam falando mais alto? Atualmente, observamos no Brasil e no mundo um surto direitista que pretende varrer de nossa subjetividade qualquer projeto ou possibilidade para se pensar/sentir uma outra realidade. Bloqueando as forças políticas e culturais que realmente podem transformar a realidade, um amplo movimento conservador ameaça no mundo as principais conquistas da modernidade: liberdade expressiva, liberdade sexual, direitos das minorias e principalmente a existência de uma agenda socialista no movimento dos trabalhadores.
Para se responder a este processo conservador, representado pelo que há de mais atrasado nos campos partidário, religioso e também artístico(neste último campo, nos referimos particularmente aos atuais fenômenos da indústria cultural), precisamos trabalhar. Artistas e intelectuais que enxergam na liberdade não apenas um valor mas um motor fundamental do humano, precisam ocupar os espaços da cultura com realizações. Reler as conquistas vanguardistas e desmascarar a ideologia liberal, são passos importantes para mostrarmos que a história não é um túmulo mas uma possibilidade de libertação total. Criar/falar em arte revolucionária, por exemplo, está longe de ser nostalgia: é uma necessidade histórica.
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