domingo, 4 de setembro de 2016

Boletim Lanterna. Ano 06. Edição 34

Quando nos perguntam sobre as questões relacionadas à arte revolucionária, é comum encontrarmos pessoas desavisadas que consideram o conteúdo político como sendo uma meta publicitária de nossa parte.É claro que o aspecto da propaganda política se faz presente em vários produtos artísticos engajados. Porém, comunicar uma ideia revolucionária pressupõe a valorização dos meios expressivos. É preciso dizer sempre que para nós a pesquisa artística não é um luxo paradisíaco, mas uma necessidade expressiva que não se separa da intencionalidade política. Separar artificialmente numa obra de arte a forma e o conteúdo, acarreta necessariamente na deturpação da expressão artística.
 A simplificação que muitos fazem da arte que pretende ser uma intervenção crítica sobre a consciência da classe trabalhadora, consiste em achar que basta embutir artificialmente uma ideia política revolucionária para que possamos atingir nossos objetivos. Então como seria? Basta pegarmos emprestado a forma do samba com uma letra inspirada no Manifesto Comunista de Marx e Engels? Seria uma jogada tão simples em que a literatura de cordel surgiria num enredo em que os cangaceiros são bolcheviques e a volante os cossacos? Observem como é ridículo e politicamente ineficaz violar os procedimentos estéticos inerentes a estas formas artísticas populares, para propagar de qualquer jeito ideias revolucionárias.
É claro que o samba, a literatura de cordel e outras importantes expressões da cultura popular brasileira podem(e devem) passar por um processo de politização. Mas é preciso que o artista escolha a partir da sua sensibilidade as formas que possam comunicar sua crítica revolucionária. Tal escolha não é uma colcha de retalhos em que pega-se daqui e dali e cria-se uma obra engajada. O artista plasma suas inquietações políticas a partir da expressão artística que surge como participação política: o tom do poema, a estrutura sonora da canção, os traços do desenho, o enquadramento da câmera, a elaboração da cena teatral, envolvem o encontro entre a necessidade subjetiva do artista e o impacto objetivo sobre aqueles que entram em contato com a obra.
  Os artistas que sentem a necessidade de participar das lutas políticas dos trabalhadores, necessitam compreender a maneira como a esfera da estética atua sobre as formas de consciência. Se o objetivo da arte de combate é esclarecer, instruir e ao mesmo tempo escandalizar e desafiar a percepção de um público massificado, a intenção política progressista não pode se separar de uma forma revolucionária, que impulsione sem forçação de barra a ideia revolucionária. Expressão e comunicação estão no mesmo plano.

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