domingo, 11 de setembro de 2016

Boletim Lanterna. Ano 06. Edição 35

Ossip Brick, nome iminente das vanguardas soviéticas, afirmou que: " Um sapateiro produz sapatos. E um artista? Nada ". Esta extraordinária provocação, leva-nos a perguntar por que gastar fosfato com problemas estéticos diante do aparente papel insignificante da arte para o proletariado. Insignificante? Não teria a música(samba, funk, rap, forró, etc) um importante papel no cotidiano dos trabalhadores? Não haveria arte popular? Pensando nas tradições culturais do ocidente, não poderia um operário emocionar-se com uma composição de Mozart? Sua imaginação não seria atingida pela poesia de Homero? Na realidade existe um duplo problema histórico: a) A necessidade das tradições culturais, negadas ao proletariado pela divisão social do trabalho, serem democratizadas. b) A criação e teorização de propostas estéticas, que não sejam contemplações mas expressões ativas que contribuem com a vida prática, cotidiana, dos trabalhadores; funcionando também como ingredientes ideológicos revolucionários que orientam a realidade da classe trabalhadora.
 A sacralização das obras de arte é historicamente uma atitude das classes dominantes. Mas quem disse que estetizar a vida, confundir os limites entre arte e " objetos profanos " é algo necessariamente de esquerda? Vivemos um momento em que a publicidade possui seus " clássicos ", suas obras de arte: propagandas de chocolate, automóveis, hambúrguer e sabão em pó estão, na era da mercantilização da cultura, pau a pau com a pintura de um gênio renascentista. Sim, as leis da arte não são as mesmas da propaganda: uma atividade criadora, que não pode tolerar interferências externas e portanto obedece à necessidade de expressão/afirmação do humano, não pode se confundir com os imperativos do consumismo. Mas infelizmente, na época do capitalismo avançado, se confundem. O que poderia ser e o que a arte revolucionária tem a oferecer neste contexto que aprofunda a alienação?
 Se tanto a história da arte quanto as aberrações mercadológicas realizadas com zelo estético, estão nas mãos da classe dominante, cumpre aos militantes de esquerda reorganizarem o legado revolucionário da arte. Um artista de esquerda precisa se preocupar em realizar obras que se comuniquem com os trabalhadores. Isto está longe de restringir a obra no campo do conteúdo ideológico: denúncia e agitação são elementos indispensáveis; mas a exemplo dos construtivistas russos, devemos pensar em obras que se integrem ao cotidiano das massas, que tenham uma função ativa e portanto operem pela forma livre/libertária transformações na consciência. A busca por um novo psiquismo, que corresponde às necessidades de organização política do proletariado, ainda se impõe como desafio progressista. É preciso pesquisar caminhos.

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