Encerramos mais um ano. Enquanto o capital assaltar a cultura, promovendo a exploração, gerando fome e alienação, iremos insistir na guerra ideológica. Entendemos que a arte é um importante exercício libertário: é a ginástica da reflexão estética que contribui com os rumos históricos da arte e fortalece (de modo independente) a luta política anticapitalista.
Estaremos de volta na segunda quinzena de janeiro. No ano do centenário da Revolução russa de 1917, continuaremos com nossa modesta/subterrânea contribuição: na trincheira da cultura nunca falta munição simbólica.
domingo, 18 de dezembro de 2016
domingo, 11 de dezembro de 2016
Boletim Lanterna. Ano 06. Edição 47
Os momentos mais progressistas da cultura brasileira precisam ser constantemente revisitados, relidos, valorizados enquanto memória que age sobre o presente. Existem vários intelectuais que foram presenças seminais nos rumos da arte brasileira. Sendo assim, o atual momento exige que valorizemos a presença e o legado de Ferreira Gullar, que nos deixou na última semana. A morte do poeta leva inevitavelmente a uma retrospectiva de sua contribuição ímpar.
O maranhense Ferreira Gullar representa um modelo intelectual em extinção na nossa cultura. Ele protagonizou intensos momentos de ruptura estética, de agitação política. O autor de Rabo de Foguete esteve envolvido em projetos estéticos que constituem parte significativa da arte revolucionária feita no nosso país. Neoconcretismo, CPC e Grupo Opinião remetem a um período histórico em que a arte é essencialmente participação, experiência nova, tomada de posição diante dos impasses políticos do Brasil. Ferreira Gullar foi presença ativa neste processo cultural e político.
Ferreira Gullar tinha razão quando, no fim da vida, afirmou que a arte existe porque a vida não basta. A necessidade da beleza, do colocar-se pra fora por meio da criação são aspectos que elevam a existência humana. A biografia de Ferreira confirma esta evidência da ação criadora do homem: o poeta foi uma liderança na dissidência vanguardista denominada Neoconcretismo. Rompendo com o racionalismo do concretismo paulista, o Neoconcretismo, por volta de 1959, radicalizou os procedimentos estéticos de vanguarda; ocorre agora a valorização da subjetividade do espectador. Certamente o poema objeto, legado por Ferreira Gullar, foi um dos momentos máximos deste movimento. Mais tarde, durante o governo Jango, Gullar adere ao Centro Popular de Cultura da UNE, exercendo um importante papel como teórico e como liderança. Naquele período do pré-golpe, Gullar foi um dos nomes que contribuiu para um encontro revolucionário entre arte e política. Após o Golpe de 64, quando a cultura engajada parecia estar fadada ao fracasso, Ferreira Gullar toma parte no Grupo Opinião: tratava-se da primeira grande resposta ao golpe, na qual teatro e música popular resistem com uma impressionante vitalidade artística contra a ditadura militar.
Ferreira Gullar enfrentaria a clandestinidade e o exílio. Tais barreiras não foram impedimentos para que ele insistisse na poesia e na crítica de arte. Podemos concordar e discordar das posições políticas e estéticas que Ferreira assumiu ao longo de toda sua vida. O ponto indiscutível é o seguinte: não se pode falar em arte revolucionária no Brasil sem levar em conta o legado de Ferreira Gullar.
O maranhense Ferreira Gullar representa um modelo intelectual em extinção na nossa cultura. Ele protagonizou intensos momentos de ruptura estética, de agitação política. O autor de Rabo de Foguete esteve envolvido em projetos estéticos que constituem parte significativa da arte revolucionária feita no nosso país. Neoconcretismo, CPC e Grupo Opinião remetem a um período histórico em que a arte é essencialmente participação, experiência nova, tomada de posição diante dos impasses políticos do Brasil. Ferreira Gullar foi presença ativa neste processo cultural e político.
Ferreira Gullar tinha razão quando, no fim da vida, afirmou que a arte existe porque a vida não basta. A necessidade da beleza, do colocar-se pra fora por meio da criação são aspectos que elevam a existência humana. A biografia de Ferreira confirma esta evidência da ação criadora do homem: o poeta foi uma liderança na dissidência vanguardista denominada Neoconcretismo. Rompendo com o racionalismo do concretismo paulista, o Neoconcretismo, por volta de 1959, radicalizou os procedimentos estéticos de vanguarda; ocorre agora a valorização da subjetividade do espectador. Certamente o poema objeto, legado por Ferreira Gullar, foi um dos momentos máximos deste movimento. Mais tarde, durante o governo Jango, Gullar adere ao Centro Popular de Cultura da UNE, exercendo um importante papel como teórico e como liderança. Naquele período do pré-golpe, Gullar foi um dos nomes que contribuiu para um encontro revolucionário entre arte e política. Após o Golpe de 64, quando a cultura engajada parecia estar fadada ao fracasso, Ferreira Gullar toma parte no Grupo Opinião: tratava-se da primeira grande resposta ao golpe, na qual teatro e música popular resistem com uma impressionante vitalidade artística contra a ditadura militar.
Ferreira Gullar enfrentaria a clandestinidade e o exílio. Tais barreiras não foram impedimentos para que ele insistisse na poesia e na crítica de arte. Podemos concordar e discordar das posições políticas e estéticas que Ferreira assumiu ao longo de toda sua vida. O ponto indiscutível é o seguinte: não se pode falar em arte revolucionária no Brasil sem levar em conta o legado de Ferreira Gullar.
domingo, 4 de dezembro de 2016
Boletim Lanterna. Ano 06. Edição 46
Como as pessoas de esquerda devem proceder na hora de organizar as fontes de informação artística/literária? Sabemos bem que a burguesia enxerga a arte e a literatura a partir do mero acúmulo de dados culturais. Obras de arte são catalogadas em volumosos arquivos/livros que na maioria dos casos obedecem em sua seleção critérios superficiais. Quer dizer, períodos artísticos/literários são encarados de acordo com meras variações formais; sendo que obras são inseridas em movimentos ou escolas dentro de uma postura esteticista. Contrariando tal concepção, cujo método serve ao mercado, a dialética marxista sustenta em seu gesto destruidor uma análise em que o movimento histórico da arte não envolve a mera sucessão de estilos.
A dialética nos ensina que tudo está em processo de transformação. A história nos mostra que quando as forças produtivas entram em contradição com as relações de produção, uma nova fase de rupturas se processa dentro das sociedades humanas. Portanto a arte não é uma esfera intocável, pura e apartada dos conflitos sociais. Sendo parte integrante de uma época, a arte nunca esteve acima/imune aos processos econômicos e políticos que se traduzem inclusive no plano estético. Não existe nada de dogmático no raciocínio dialético: as contradições produzidas no interior das sociedades são concretas, reais.
A economia não pode determinar mecanicamente a cultura e a política, já que o princípio criador do homem(sua capacidade de transformar a natureza e criar um mundo humano) interfere diretamente sobre a realidade. Enquanto dimensão específica do trabalho, da atividade criadora, a arte e os demais elementos ideológicos estão enraizados na dinâmica econômica das sociedades. É possível que algum leitor tomado por um certo entendimento idealista da arte, vista como uma mera assombração do mundo interior, pense que esta exposição não passa de mais um ABC do marxismo, que não se aplicaria mais ao entendimento das questões estéticas. Será?
Situar a arte no campo da superestrutura e portanto compreender seu condicionamento a partir da base econômica, não negligencia a complexa trama interior do processo de criação artística. O caos psíquico que é transposto em formas artísticas, não nasceu do céu: mesmo a loucura possui origens materiais, origens no mundo externo. A composição da imagem, em qualquer forma de arte, possui uma lógica própria(é independente enquanto processo criador), mas não está fora da realidade, fora da produção material. Quando afirmamos que é preciso organizar obras de arte de acordo com o ponto de vista político da esquerda, estamos dizendo que é preciso reunir as mais variadas tendências artísticas entendidas na sua capacidade de libertação e educação estética do homem: mesmo as obras de arte que não falam da luta de classes, são muitas vezes necessárias para a emancipação humana, pois falam de um lugar que se choca com a alienação. Rever e organizar arquivos artísticos requer uma posição política clara e um entendimento histórico(necessariamente dialético) da arte.
A dialética nos ensina que tudo está em processo de transformação. A história nos mostra que quando as forças produtivas entram em contradição com as relações de produção, uma nova fase de rupturas se processa dentro das sociedades humanas. Portanto a arte não é uma esfera intocável, pura e apartada dos conflitos sociais. Sendo parte integrante de uma época, a arte nunca esteve acima/imune aos processos econômicos e políticos que se traduzem inclusive no plano estético. Não existe nada de dogmático no raciocínio dialético: as contradições produzidas no interior das sociedades são concretas, reais.
A economia não pode determinar mecanicamente a cultura e a política, já que o princípio criador do homem(sua capacidade de transformar a natureza e criar um mundo humano) interfere diretamente sobre a realidade. Enquanto dimensão específica do trabalho, da atividade criadora, a arte e os demais elementos ideológicos estão enraizados na dinâmica econômica das sociedades. É possível que algum leitor tomado por um certo entendimento idealista da arte, vista como uma mera assombração do mundo interior, pense que esta exposição não passa de mais um ABC do marxismo, que não se aplicaria mais ao entendimento das questões estéticas. Será?
Situar a arte no campo da superestrutura e portanto compreender seu condicionamento a partir da base econômica, não negligencia a complexa trama interior do processo de criação artística. O caos psíquico que é transposto em formas artísticas, não nasceu do céu: mesmo a loucura possui origens materiais, origens no mundo externo. A composição da imagem, em qualquer forma de arte, possui uma lógica própria(é independente enquanto processo criador), mas não está fora da realidade, fora da produção material. Quando afirmamos que é preciso organizar obras de arte de acordo com o ponto de vista político da esquerda, estamos dizendo que é preciso reunir as mais variadas tendências artísticas entendidas na sua capacidade de libertação e educação estética do homem: mesmo as obras de arte que não falam da luta de classes, são muitas vezes necessárias para a emancipação humana, pois falam de um lugar que se choca com a alienação. Rever e organizar arquivos artísticos requer uma posição política clara e um entendimento histórico(necessariamente dialético) da arte.
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