domingo, 4 de dezembro de 2016

Boletim Lanterna. Ano 06. Edição 46

Como as pessoas de esquerda devem proceder na hora de organizar as fontes de informação artística/literária? Sabemos bem que a burguesia enxerga a arte e a literatura a partir do mero acúmulo de dados culturais. Obras de arte são catalogadas em volumosos arquivos/livros que na maioria dos casos obedecem em sua seleção critérios superficiais. Quer dizer, períodos artísticos/literários são encarados de acordo com meras variações formais; sendo que obras são inseridas em movimentos ou escolas dentro de uma postura esteticista. Contrariando tal concepção, cujo método serve ao mercado, a dialética marxista sustenta em seu gesto destruidor uma análise em que o movimento histórico da arte não envolve a mera sucessão de estilos.
 A dialética nos ensina que tudo está em processo de transformação. A história nos mostra que quando as forças produtivas entram em contradição com as relações de produção, uma nova fase de rupturas se processa dentro das sociedades humanas. Portanto a arte não é uma esfera intocável, pura e apartada dos conflitos sociais. Sendo parte integrante de uma época, a arte nunca esteve acima/imune aos processos econômicos e políticos que se traduzem inclusive no plano estético. Não existe nada de dogmático no raciocínio dialético: as contradições produzidas no interior das sociedades são concretas, reais.
  A economia não pode determinar mecanicamente a cultura e a política, já que o princípio criador do homem(sua capacidade de transformar a natureza e criar um mundo humano) interfere diretamente sobre a realidade. Enquanto dimensão específica do trabalho, da atividade criadora, a arte e os demais elementos ideológicos estão enraizados na dinâmica econômica das sociedades. É possível que algum leitor tomado por um certo entendimento idealista da arte, vista como uma mera assombração do mundo interior, pense que esta exposição não passa de mais um ABC do marxismo, que não se aplicaria mais ao entendimento das questões estéticas. Será?
 Situar a arte no campo da superestrutura e portanto compreender seu condicionamento a partir da base econômica, não negligencia a complexa trama interior do processo de criação artística. O caos psíquico que é transposto em formas artísticas, não nasceu do céu: mesmo a loucura possui origens materiais, origens no mundo externo. A composição da imagem, em qualquer forma de arte, possui uma lógica própria(é independente enquanto processo criador), mas não está fora da realidade, fora da produção material. Quando afirmamos que é preciso organizar obras de arte de acordo com o ponto de vista político da esquerda, estamos dizendo que é preciso reunir as mais variadas tendências artísticas entendidas na sua capacidade de libertação e educação estética do homem: mesmo as obras de arte que não falam da luta de classes, são muitas vezes necessárias para a emancipação humana, pois falam de um lugar que se choca com a alienação. Rever e organizar arquivos artísticos requer uma posição política clara e um entendimento histórico(necessariamente dialético) da arte.

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