O fato de atravessarmos uma grave crise econômica exige que expliquemos, constantemente, as preocupações em torno da arte e da literatura. Já demos provas que nossas motivações ideológicas dispensam taras por bibelôs. A exigência política para aqueles que se dedicam, quando podem, à literatura ou ao cinema, por exemplo, torna-se cristalina quando nos deparamos com o seguinte problema: a representação da realidade por meio de narrativas.
Alguém poderia afirmar que esta é uma questão artisticamente superada; ou então que num mundo com tantas histórias registradas diariamente, por meio de palavras e imagens, de que adiantaria uma narrativa politizada? Mas acontece que raramente se pergunta quem são em grande parte os autores das narrativas das histórias contadas, escritas e filmadas. O fato de muitos escritores viverem nos limites formalistas da arte, acarreta geralmente na elaboração de enredos individualistas, soltos no relativismo das impressões pessoais(e inclusive pessimistas) da realidade. Alguns poderiam achar que estamos insistindo num problema bizantino: a oposição entre objetividade e subjetividade. De jeito nenhum!
De nossa parte existem 2 questões programáticas: 1- Organizar as narrativas dos oprimidos. Estas não podem ser meras impressões do real, mas ações políticas que contrastam rigorosamente com as narrativas que expressam a ideologia da classe dominante. 2- Defender a legitimidade da dialética entre a representação do mundo objetivo e a subjetividade de quem o narra; sendo que a objetividade absoluta é um mito. Se o subjetivismo leva muitas vezes à fuga, não se pode desconsiderar no campo da criação literária a interferência das emoções, da formação intelectual, da ideologia e do temperamento sexual de quem narra. A busca por obras literárias capazes de interferir na vida política passa obrigatoriamente pela pesquisa de recursos estéticos(invenção) e pelo desejo de reconstituir e ao mesmo tempo denunciar a opressão na sociedade capitalista. Voltaremos ao assunto em breve.
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