domingo, 14 de maio de 2017

Boletim Lanterna. Ano 07. Edição 65

Rascunho de uma possível plataforma para a literatura de combate:

1-  O escritor deve compreender os níveis de desenvolvimento da realidade histórica, sabendo expor por meio da narrativa, por meio das imagens, as contradições das sociedades de classes. Ao referir-se aos problemas da sociedade capitalista, ou aos problemas de qualquer outro período histórico, o autor deve dominar o material histórico sob o ponto de vista objetivo. Obs: tais considerações dizem respeito particularmente ao campo da prosa.

2- Caso adote a perspectiva estética do realismo, o escritor deve estar atento ao perigo de reproduzir técnicas literárias ultrapassadas, que não condizem com o desenvolvimento histórico da literatura. Não podemos escrever como se estivéssemos no século XIX. Pesquisar novos modos de expressão e adotar uma postura de invenção, contribuem para que o texto tenha flexibilidade linguística, tenha agilidade expressiva, potencializando sua força comunicativa.

3- Seja no texto em prosa ou no poema, e até mesmo nas tentativas de abolir os limites entre ambos, os escritores devem ser fiéis às suas necessidades interiores: a obra de arte é fruto de tal necessidade. Partindo desta necessidade, o escritor de esquerda segue conscientemente pelo terreno histórico, refletindo ao longo do processo de composição literária, sobre a maneira como o texto intervém sobre a consciência dos  leitores contemporâneos. Obs: Existem diferentes caminhos para o texto literário de combate. Tanto uma obra de caráter realista quanto uma obra que recorre à investigação dos fenômenos do inconsciente(tal como os surrealistas e os autores beats fizeram) , são necessárias para colocar em descrédito a cultura da classe dominante.

4- Escrever sem nenhuma imposição externa, ainda que tal imposição aparente ter um caráter político progressista.

5- Passar longe do chá literário e inserir o texto na realidade cultural da classe trabalhadora.

6- Defender a politização da arte, mas ao mesmo tempo considerar que os meios da arte possuem suas próprias leis: a força subversiva de qualquer obra de arte, consiste no fato da arte apresentar um necessário distanciamento em relação aquilo " que é " , em relação aquilo que existe. O escritor pode e deve ser um ativista, mas o tecido estético exige um procedimento específico, que envolve a lógica interna da obra de arte.

7- Assimilar criticamente as heranças estéticas da literatura revolucionária dos séculos XIX e XX.

8- Situar a crítica marxista como alavanca teórica, projeto revolucionário, ferramenta que orienta a visão de mundo do escritor. Entretanto, jamais fazer do marxismo uma camisa de força que impede o voo artístico e a pesquisa literária.

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