domingo, 21 de maio de 2017

Boletim Lanterna. Ano 07. Edição 66

Apresentamos Fatos e Guilhotinas, de Lenito.

" Uma guilhotina desceu pela floresta, passou pelo chão do sertão, cortou o vapor da chaminé de uma fábrica e chegou ao centro do poder. A lâmina decepou sorrisos, reformas políticas, finanças e arrotos de champanhe. Os Sans Quilottes falavam ameaçadoramente ao celular: O Brasil de 2017 está vendo o Antigo Regime ruir.
 Pelas redes sociais ficou claro que a Assembléia dos Estados gerais estava politicamente falida. Os sites do Primeiro e do Segundo Estado não conseguem mais esconder a instabilidade política. Não haverá espaço para monarquia constitucional. A Convenção está a caminho. Na Cinelândia, os jacobinos estão reunidos. Na avenida Paulista, tremulam as bandeiras dos trabalhadores. Enrangés abraçados com indígenas cantarolam sobre um dilúvio. Um rapper pensa sobre novas Bastilhas em queda.  A eventual derrocada do Antigo do regime poderá levar à eleições indiretas. Entre os revolucionários dos Terceiro Estado, encontramos os defensores das Diretas Já e os defensores da criação de uma Assembléia nacional constituinte. No meio do caos, um duende joga xadrez com uma operária na beira do abismo. 
As monarquias absolutistas de outros países apenas observam o que se passa no Brasil(deve-se levar em conta que tais países podem querer intervir militarmente caso o povo tome o poder). Por hora, o Antigo regime conta com drones que monitoram o explosivo ambiente político. 
 O rei está politicamente encurralado. Sua possível queda é cogitada pela mídia girondina. O calendário de uma mesa não consegue decidir qual será o dia seguinte. Até mesmo o mês, o ano e o século se confundem: maio de 2017? outubro de 1917? julho de 1789? Um historiador prudente puxa o autor destas linhas em direção à terra. Ele diz com respaldo:
 " - Meu caro poeta: basta de anacronismo! Enquanto revolucionário você já deveria ter entendido que a história não se repete. Além do mais, não estamos vivendo no Brasil uma situação revolucionária. O que existe é uma crise política. Cabe aos trabalhadores realizarem pressão popular para reverter este momento reacionário ". 
 Desperto do transe histórico e tento me desculpar com meu amigo historiador: ele está certo, a história não se repete. Porém, quando misturamos enredos históricos, juntando as imagens revolucionárias de ontem e de hoje, paralisamos o tempo dos reacionários! Peço licença para desenhar um único tempo da luta política. "


                                                                                      Lenito  

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