terça-feira, 23 de abril de 2013

TEATRO DE AGITAÇÃO E PROPAGANDA



Subordinação de qualquer objetivo artístico á meta revolucionária:
acentuação e propagação conscientes da doutrina da luta de classes.


Piscator, 1920(?)

terça-feira, 16 de abril de 2013

DO ALMANAQUE DADÁ:



O dadaísmo é uma estratégia, através da qual o artista busca
transmitir ao cidadão algo de sua agitação interior, que nunca permite
ao artista aquietar-se no hábito, é uma estratégia que se propõe a
sacudir o homem estagnado por meio de uma inquietação exterior, e
conduzi-lo a uma nova vida, afim de substituir nele a falta de
sofrimento interior e de emoções.


Udo Rukser, 1920.

DO ROMANCE SOCIAL " CAPITÃES DE AREIA ", DE JORGE AMADO:




"... - O senhor não se envergonha de estar nesse meio, padre? Um
sacerdote do Senhor? Um homem de responsabilidade no meio dessa
gentalha?
- São crianças, senhora.
A velha olhou superiora e fez um gesto de deprezo com a boca. O
padre continuou:
- Cristo disse: " Deixai vir as criancinhas...- Cuspiu a velha
- " Ai quem faça mal a uma criança ", falou o Senhor - e o padre
José Pedro elevou a voz acima do desprezo da velha.
- Isso não são crianças, são ladrões. Velhacos, ladrões. Isso não
são crianças. Capazes até de ser Capitães de areia...
Ladrões - repetiu com nojo.
Os meninos a fitavam com curiosidade. Só o Sem-Pernas, que tinha
vindo do carrossel pois Nhozinho França já voltara, a olhava com
raiva. Pedro Bala se adiantou um passo, quis explicar:
- O padre só quer aju...
Mas a velha deu um repelão e se afastou
- Não se aproxime de mim, não se aproxime de mim, imundice. Se não
fosse pelo padre eu chamava o guarda ".


Jorge Amado, 1937.

domingo, 7 de abril de 2013

ABSTRACIONISMO, ARTE AMBIENTAL E REVOLUÇÃO SOCIALISTA





Quem disse que uma arte ligada á luta pelo socialismo internacional
precisa ser figurativa? A caricatura realista, muito em voga entre
alguns companheiros do LANTERNA, revela um engajamento primário que
não corresponde ás exigências revolucionárias da forma, não explica o
desenvolvimento histórico da arte que no nosso tempo deve estar
liberta das representações religiosas, comerciais e das implicações de
classe. Se existe algo que em termos estéticos possa representar os
interesses da Revolução proletária (esta expressão é um tabu no
vocabulário político de hoje em dia, mas ela está na agenda social do
século XXI), é a arte que procura nas formas uma alteração da
percepção, uma modificação sensorial.
 A arte deve revolucionar a sensibilidade dos trabalhadores que não
podem ficar presos ás imagens sentimentais e piegas do realismo.O
importante mesmo é uma reeducação da sensibilidade a partir da
dinâmica imprevisível das formas, livres de qualquer conteúdo
pré-estabelecido.  O abstracionismo de um Calder ou a arte ambiental
de Hélio Oiticica, seriam exemplos desta direção emancipadora dos
sentidos. No segundo caso em especial, trata-se de mostrar ao
proletariado que ele pode modificar o ambiente. O conceito de arte
ambiental ficou nos últimos tempos muito preso ao ambiente da classe
média. Em sua formulação original a arte ambiental é coletivista,
sendo capaz de subverter pelas diferentes proposições a condição
passiva de uma população presa á ideia de consumidor, como quer o
sistema capitalista.
  Diante do abestalhamento generalizado resultante das imagens que
procuram doutrinar as massas(mesmo na esquerda tem gente que não quer
libertar o operário mas apenas doutriná-lo), defendemos uma retomada
da livre pesquisa em arte. Este direito á pesquisa em arte deve chegar
aos trabalhadores já! As formas geométricas por exemplo, são
fundamentos das correntes construtivistas que nos mostraram durante o
século passado, a libertação da forma no espaço. Esta lição de
liberdade que possui suas raizes em Malevich, pode não ser nova mas
está ameaçada por uma mentalidade que da esquerda á extrema direita
procura manipular as massas pelo recurso da imagem.
 É claro que não somos bestas anacrônicas que pretendem restaurar as
experiências da arte abstrata, ou as experiências do
neoconcretismo(aliás muito mais humanas, muito mais vivas do que
aquela frieza do concretismo paulista dos anos cinquenta).  Nada
disso, o que queremos dizer é que o sentido histórico das experiências
vanguardistas não chegaram ás massas, mas podem chegar se forem
devidamente reelidas no atual contexto. Imaginem se os trabalhadores
sacarem o seu potencial criativo através do abstracionismo, por
exemplo. Que operação mental revolucionária pode ocorrer entre a
juventude operária! Afinal de contas o abstracionismo em arte envolve
primeiramente a sensação; o intelecto com toda a carga de
conhecimentos objetivamente acumulados(que o proletariado pela sua
condição histórica não teve acesso), aparece em segundo plano:
trocando em miúdos, para o abstracionismo não importam as barreiras
econômicas e culturais, pois a universalidade das formas
geométricas(no plano estético isto nada mais é do que o
internacionalismo revolucionário!) quebram as barreiras e impedem que
os operários sejam administrados, que sejam manipulados enquanto
ovelhas que não reconhecerão, graças ao gesto criativo, a autoridade
da imagem do pastoril. Ou seja, são possbilidades libertadoras que a
arte apresenta em si mesma(não é
propaganda! não é doutrina! não é rebanho!).
 A libertação da forma está em sintonia com os objetivos políticos do
socialismo.

                               Os Independentes
.

sábado, 6 de abril de 2013

AS SEMENTES DO CINEMA REVOLUCIONÁRIO BRASILEIRO



Foi na década de cinquenta que a temperatura do cinema brasileiro
subiu, fazendo assim com que a sétima arte arrancasse o traje
europeu/norte-americano e mostrasse com a nudez realista os dramas
nacionais.O filme RIO, 40 GRAUS de 1955, é um divisor de águas na
História do cinema brasileiro exatamente por enfrentar com a corajem
dos pioneiros, a mediocridade nas salas de exibição. Não é de hoje que
comédias-cosméticas e cinemão xerox-hollywood são os males do cinema
brasileiro. Entretanto, as imagens da realidade e as possibilidades
políticas para transforma-la, não podem se calar atrás do semblante da
classe média boba alegre. Tanto isto é fato que Nelson Pereira dos
Santos, um cineasta isolado nos anos cinquenta mas convicto do poder
de intervenção social do cinema, revelou a miséria de um Rio de
Janeiro em preto e branco. Tudo bem que as comédias da Atlântida e o
cinema colonizado da Vera Cruz também eram em preto e branco(não era
opção estética, era também uma realidade tecnológica). No entanto, as
cores do descompromisso(musicais contendo a caricatura do povo) e da
artificialidade das imagens limpinhas(técnicos europeus filmavam com
um olhar alienígena), impediam com que o cinema fosse um meio de
compreensão dos problemas sociais do nosso país. Nelson nos ofereceu
com generosidade e crueza um Brasil que a burguesia procura esconder
até hoje.
Nelson Pereira dos Santos e outros como o crítico e também
cineasta Alex Viany(atenção companheiros do LANTERNA: é preciso
escrever sobre este homem! um revolucionário que não pode ser
esquecido!) captaram os elementos revolucionários do Neo-realismo
italiano: rompendo com os grandes estúdios, a italianada descobriu a
rua, o povo...Nomes como Rossellini retomam o ideário do cinema
político para tratar de uma Itália devastada pelo fascismo e pela
guerra. O movimento do Neo-realismo forneceu o pano de fundo estético
para que Nelson e outros poucos, decifrassem os dramas da sociedade
carioca. Devemos disernir aqui o realismo canalha do realismo
engajado. O primeiro tem por tema a realidade em sua espessura brutal
e anti-romântica, mas acaba pelo cinismo(e até pelo sadismo) sendo
conivente com o real. Já o realismo engajado ataca e expõe as
contradições do real não para promove-lo e sim para exigir sua
transformação. Este realismo engajado encontramos em Nelson Pereira
dos Santos: com Rio, 40 Graus, Nelson fez um filme popular, engajado e
ao mesmo tempo distante do perigo do realismo canalha e da tara
populista simplificadora do drama. Ele mostra que o cinema político de
qualidade tem um endereço certo: O Brasil.
Rio, 40 Graus, é um filme de autor porque não tem compromisso com a
indústria. É um filme revolucionário porque ao recusar estúdios
faraônicos busca em cenários " naturais " uma cidade em que garotos
miseraveis se viram vendendo amendoim. A pobreza do Rio de
Janeiro(então capital da República) surge através do movimento
dialético da câmera, da crueza que faz do povo pobre na tela um grito
contra a complacência da classe dominante e ao mesmo tempo a antítese
visual do discurso econômico otimista no Brasil do pós-guerra.
Podemos afirmar inclusive que este filme lança sementes realistas para
o moderno cinema político no Brasil. Ou seja, um verdadeiro
contraponto ás chanchadas e ao cinemão.
Sendo assim encontramos os motivos para a perseguição que o filme
sofreu pela censura(isto em plena democracia burguesa!). A censura se
explica não pelo fato do filme mostrar crianças pobres, afinal filmes
piedosos que apelam para sentimentos como caridade, são estimulados
pela burguesia. O problema é que o filme não atende a ótica da classe
dominante: ele devolve ao povo brasileiro a sua própria miséria, o que
pode estimular(graças aos recursos do realismo) o descontentamento, a
crítica e a discussão política sobre os mecanismos econômicos e
sociais geradores da miséria.
É preciso rever RIO, 40 GRAUS para se recuperar não o realismo
enquanto proposta conivente e que apela para a violência vazia. Este
filme deve ser revisto para encorajar as novas gerações de cineastas a
não terem medo de ficarem isoladas diante do cinema comercial. Nelson,
aquele que lançou as bases do movimento do Cinema Novo, é um cineasta
atual, preciso e engajado.

Geraldo Vermelhão

FILME: Rio, 40 Graus
DIREÇÃO: Nelson Pereira dos Santos
ANO: 1955.
LOCAL DE EXIBIÇÃO: Mis-Campinas
DIA: 6/04
HORÁRIO: 19:30

POESIA E COLETIVIDADE

´
...Assim, como os mitos e lendas são produtos coletivos de sociedades
em que as desigualdades de condição, ainda pouco marcadas, não haviam
ainda conseguido sucitar uma opressão sensivel, a prática da poesia só
é concebivel coletivamente em um mundo liberado de toda opressão, onde
o pensamento poético volte a ser tão natural ao homem quanto a visão
ou o sono.

Benjamin Péret, 1956(?).

terça-feira, 2 de abril de 2013

REVISÃO CRÍTICA DO CINEMA NOVO



As novas condições técnicas de produção do audiovisual já apresentam
em si mesmas a possibilidade histórica de se romper tanto com a dominação
econômica e ideológica do cinema imperialista hollywoodiano, quanto com
o atual cinema comercial brasileiro e todo o seu rastro alienante. Com
uma enorme quantidade de telas funcionando através dos mais diferentes
suportes, o audiovisual apresenta hoje condições objetivas para a
criação de videos, de filmes que tornam-se contextos para o
experimentalismo estético e consequentemente para a busca de um cinema
revolucionário.
Entretanto as novas condições técnicas descortinadas pelo digital
não bastam: é preciso um mergulho substancial na História do cinema
brasileiro para que assim seja possivel a reunião de cinematografias
que contribuam para a formação estética e política do cineasta
disposto a fazer do seu trabalho um meio de luta contra a cultura
dominante. Enquanto publicação de Arte Revolucionária, nós do LANTERNA
promovemos no Museu da Imagem e do Som da cidade de Campinas-SP, uma
retrospectiva dos filmes mais significativos do movimento do Cinema
Novo brasileiro. A opção pelo Cinema Novo é clara: não existe
possibilidade para o cinema político fora do cinema de autor. Ou seja,
a postura autoral defendida pelo Cinema Novo ainda deve ser encarada
sobre o atual contexto das novas mídias digitais enquanto escolha
política no enfrentamento á indústria cultural. Nosso objetivo é
estabelecer um balanço crítico de tal movimento que além de ter sido
brutalmente interrompido pelo autoritarismo do regime
militar(1964-1985), encontra-se praticamente ausente nas discussões
cinematográficas entre realizadores e pesquisadores.
Este ciclo de filmes será mensal e durante a época de exibição
cada filme será discutido tanto em artigos redigidos pelos nossos
colaboradores quanto nos debates realizados junto ao público após o
término de cada sessão. As datas e os horários dos filmes serão
divulgados durante a semana em que ocorre a exibição. Mais do que um
convite é uma convocação para que cinéfilos e militantes venham
debater conosco os erros e as
contribuições do Cinema Novo.

1- OS PIONEIROS DO CINEMA NOVO NO BRASIL:

- Rio 40 Graus, de Nelson Pereira dos Santos

- O Grande Momento, de Roberto Santos

- Tocaia no Asfalto, de Roberto Pires

2- O CINEMA NOVO ANTES DO GOLPE MILITAR:

- Cinco Vezes Favela. Vários. Feito em pareceria com o CPC da UNE

- Barravento, de Glauber Rocha

- Os Cafajestes, de Ruy Guerra

- Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos

- Os Fúzis, de Ruy Guerra

- Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha

3- O CINEMA NOVO DIANTE DA DITADURA MILITAR:

- O Desafio, de Paulo César Sarraceni

- Opinião Pública, de Arnaldo Jabor

- O Bravo Guerreiro, de Gustavo Dhal

- Terra em Transe, de Glauber Rocha


4- RESISTÊNCIA Á CORES:

- Os Herdeiros, de Carlos Diegues

- O Dragão da Maldade contra do Santo Guerreiro, de Glauber Rocha

- Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade

- Pindorama, de Arnaldo Jabor


Obs: Todo mês, antes de cada filme, será exibido também um video
produzido por companheiros vinculados ou não ao LANTERNA. O objetivo
disso é debater também a produção audiovisual dos militantes de
esquerda dos nossos dias.