terça-feira, 16 de abril de 2013
DO ROMANCE SOCIAL " CAPITÃES DE AREIA ", DE JORGE AMADO:
"... - O senhor não se envergonha de estar nesse meio, padre? Um
sacerdote do Senhor? Um homem de responsabilidade no meio dessa
gentalha?
- São crianças, senhora.
A velha olhou superiora e fez um gesto de deprezo com a boca. O
padre continuou:
- Cristo disse: " Deixai vir as criancinhas...- Cuspiu a velha
- " Ai quem faça mal a uma criança ", falou o Senhor - e o padre
José Pedro elevou a voz acima do desprezo da velha.
- Isso não são crianças, são ladrões. Velhacos, ladrões. Isso não
são crianças. Capazes até de ser Capitães de areia...
Ladrões - repetiu com nojo.
Os meninos a fitavam com curiosidade. Só o Sem-Pernas, que tinha
vindo do carrossel pois Nhozinho França já voltara, a olhava com
raiva. Pedro Bala se adiantou um passo, quis explicar:
- O padre só quer aju...
Mas a velha deu um repelão e se afastou
- Não se aproxime de mim, não se aproxime de mim, imundice. Se não
fosse pelo padre eu chamava o guarda ".
Jorge Amado, 1937.
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