quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Revoluções estéticas:


 Num mundo tão pulverizado como o nosso, em que tem tanta coisa rolando ao mesmo, fica difícil imaginar como a pintura pode ser encarada enquanto forma de ruptura mental. A arte moderna brasileira, que conectou-se de modo autentico/original com as reviravoltas estéticas promovidas pelos movimentos de vanguarda europeus, liderou processos de alforria mental. Relembrar estes momentos de ruptura consiste não em promover nostalgia, mas sim em mostrar aos artistas o quanto é importante a pesquisa visual que gera novas possibilidades de expressão.
 Romper esteticamente implica em promover novas maneiras de sentir. Ainda que mais discreta e sem os artifícios da grande mídia, os trabalhos de artistas independentes são pequenos dispositivos visuais que causam estranhamento num mundo em que a imagem é pasteurizada e está a serviço da dominação. Na hora de ser um desbravador da imagem, o pintor dos nossos dias segue pelos seus próprios caminhos. Vale lembrar que tais caminhos desaguam  no caminho de pioneiros como Anita Malfatti.


                                                                                       Lúcia Gravas

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Na trilha do cinema descolonizado:



O processo político que culminará na emancipação do proletariado, precisa inserir no centro de suas preocupações a questão do olhar e logo da imagem que exprime as formas de consciência. Em nosso tempo o cinema é a influência mais profunda exercida no comportamento, nas atitudes e nos gostos populares. Chega a ser engraçado que os imperialistas compreendem esta questão de maneira mais aguda do que os revolucionários; o imperialismo parece entender mais de cinema do que militantes marxistas. A descolonização do cinema brasileiro é uma etapa decisiva para a elaboração de uma cultura revolucionária.
  Não será com um realismo vagabundo, com filmecos impregnados de cinismo(e de niilismo) sobre a realidade do povo brasileiro, que conseguiremos avançar no campo cinematográfico. É preciso que a lente possa agir sobre a realidade concreta, não apenas expondo nossa miséria mas encontrando nas formas precárias de vida da população uma força política transformadora.


                                                                                              José Ferroso

terça-feira, 6 de outubro de 2015

A experiência estética segundo o marxismo:

Infelizes são aqueles que sem nunca terem lido uma linha da obra de Karl Marx, julgam que suas reflexões estéticas são a redução da arte ao imperativo político panfletário. Embora o marxismo tenha em alta conta o valor político revolucionário da criação artística, seus parecer estético insere-se numa reflexão materialista, dialética e histórica da arte. Não se trata daquela deturpação mecanicista feita pelos stalinistas: a arte não seria um reflexo passivo sujeito à propaganda.
 A necessidade de expressão e de afirmação humana se faz através da arte. A dimensão estética é uma das relações fundamentais entre o homem e o mundo. A criação artística é o resultado de uma relação dialética entre homem e objeto: o objeto artístico, portanto humanizado, existe para o homem que o cria a partir do desenvolvimento  histórico dos seus sentidos. Portanto a grave questão é: perante a divisão social do trabalho verificada na História da humanidade, qual seria o valor que os trabalhadores explorados atribuem à arte? Podem estes trabalhadores contemplarem e entregarem-se à criação? É pois na reflexão sobre as transformações históricas dos sentidos humanos, que o marxismo centra suas atenções: quem tem acesso de fato  ao legado da História da arte? O que é uma obra de arte para um faminto? Tais questionamentos fazem com que o marxismo entenda a necessidade da arte em situações históricas concretas.



                                                                                        Geraldo Vermelhão

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

A poesia dos trabalhadores:


 Versos não matam a fome física, mas podem fortalecer politicamente mais do que feijão. Trotski afirmou que no socialismo não apenas o pão mas a poesia é um direito dos trabalhadores. Será que a classe operária possui a sua própria poesia? Hoje existem poetas e escritores periféricos que exprimem a realidade, a fala e o cotidiano do nosso proletariado. Estes escritores tendem a radicalizar sua escrita num contexto de acirramento da luta de classes. Porém, sem um entendimento revolucionário da luta política e da literatura esta produção arrisca-se a não desenvolver suas possibilidades expressivas.
 Aos trabalhadores cabe uma poesia que informa, amplia a sensibilidade, condensa imagens provocadoras e eleva a consciência de classe. Um escritor exercita melhor a sua técnica se ler outros poetas. Para o poeta operário interessa autores revolucionários como Maiakóvski. Se este poeta russo fica empoeirado na estante do pequeno burguês, nas mãos dos trabalhadores é uma bomba verbal.


                                                                                         Os Independentes

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

O pensamento de vanguarda no Brasil:


 Os efeitos da crise dos projetos estéticos de vanguarda podem ser sentidas ainda hoje na vida literária brasileira. Sem plataforma, sem envergadura, sem grupos e sem perspectiva política transformadora, parte da poesia atual é interessante porém insuficiente na hora de peitar a cultura dominante. O que faz falta por exemplo, é a coragem de um movimento como o concretismo. Não, nada de idealizar o passado: os concretistas erraram muito em suas generalizações sintéticas,  embarcando no papo furado do desenvolvimentismo. Porém, havia a postura de desafio, que levantava a poeira e ameaçava a caretice da chamada Geração de 45.
 Não se pode reviver movimentos revolucionários pelo simples fato da História não se repetir. Entretanto, se os poetas não optarem pela ruptura e pela aventura estética, o que prevalece é o velho chá literário que apresenta rugas no verso e deseja que a literatura seja conivente com a cultura estabelecida pela classe dominante.


                                                                                          Marta Dinamite

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Realismo hoje:


As possibilidades de crítica social por meio da arte realista, sempre norteou o trabalho de muitos artistas socialistas, seja na literatura, na pintura, no cinema, etc. Entretanto, hoje, não se sabe muito bem quais seriam os caminhos progressistas para uma estética realista. O escritor e ensaísta Mário Vargas LLosa declarou recentemente que o realismo hoje apresenta apenas a realidade no que ela tem de " feia ". De fato o realismo empobreceu-se numa cultura em que a banalidade da violência, torna tudo gratuito. Talvez a questão seja como a objetividade da forma pode encaminhar-se para a revelação das contradições do real. Se este aspecto interessa aos artistas de esquerda, então é preciso que marxistas busquem defender o realismo contra manifestações que em sua aparência realista, nada mais fazem do que produzir um parecer cínico e amargo sobre a realidade, bloqueando o aspecto da ação que emerge da crítica realista à sociedade burguesa.


                                                                         Geraldo Vermelhão

A possibilidade de uma arte socialista:

Até hoje a opinião pública refere-se ao conjunto das manifestações artísticas ocorridas em países "socialistas" como sendo sinônimos de " arte socialista ". Trata-se de um engano calculado pela burguesia: ao afirmar que o realismo socialista, enquanto expressão cultural de burocracias autoritárias, seria a arte socialista, intelectuais reacionários conduzem a população a julgar o socialismo como algo que tende a reprimir e sufocar a criação artística. Esta visão precisa ser rebatida, ainda mais pelo fato do capitalismo e suas contradições alimentarem nos trabalhadores a necessidade do próprio socialismo(e logo de uma nova cultura).
 A arte socialista até agora não existiu: o que observam-se são elementos estéticos que podem auxiliar na criação futura desta arte(e para tal os movimentos de vanguarda foram muito importantes, como comprovam as escolas artísticas dos primeiros anos da União Soviética).  A busca por uma possível arte socialista dependerá de liberdade, pesquisas e experimentações(o que rigorosamente são o oposto do realismo socialista).


                                                                                                   Lenito