terça-feira, 20 de dezembro de 2011

DISCURSO AO CONGRESSO DOS ESCRITORES:


Do nosso lugar, sustentamos que a atividade de interpretação do mundo deve continuar a estar ligada á atividade de transformação do mundo. Que pertence ao poeta, ao artista, aprofundar o problema humano sob todas as suas formas, que é precisamente o caminho ilimitado do seu espírito neste sentido que tem um valor potencial de mudança do mundo, que tal caminho - enquanto produto evoluido da superstrutura - não pode deixar de vir reforçar a necessidade de mudança econômica deste mundo. Levantamo-nos em arte contra qualquer concepção regressiva que tenda contrapor o conteúdo á forma, para sacrificar esta áquele. A passagem dos poetas autênticos de hoje para a poesia de propaganda, definida totalmente como exterior, siginificaria para eles a negação das determinações históricas da própria poesia. Defender a cultura é antes de mais nada assumir os interesses do que resiste intelectualmente a uma análise materialista séria, do que é viável, do que continuará a produzir os seus frutos. Não é com declarações esteriotipadas contra o fascismo e contra a guerra que conseguiremos libertar para sempre o espírito, nem o homem, das antigas cadeias que o ameaçam. É, sim, pela afirmação da nossa inabalável fidelidade ás capacidades de emancipação do espírito e do homem, que fomos reconhecendo sucessivamente e que lutaremos por fazer reconhecer como tais.
" Transformar o mundo ", disse Marx, "Mudar a vida ", disse Rimbaud: estas duas palavras de ordem são, para nós, uma só.
André Breton, 1935.

Nenhum comentário:

Postar um comentário