sábado, 10 de dezembro de 2011

ARTE E REVOLUÇÃO


A Partisan Review amavelmente propôs-me dar minha opinião sobre o estado atual da arte. Não faço sem hesitação. Desde meu livro LITERATURA E REVOLUÇÃO(1923), nunca voltei ás questões da criação artística e só pude acompanhar sem continuidade as manifestações recentes neste domínio. Longe de mim a pretensão de dar uma resposta exaustiva. O objetivo desta carta é colocar corretamente o problema.

De um modo geral o homem expressa na arte a sua exigência da harmonia e plenitude da existência- quer dizer do bem supremos do qual é justamente a sociedade de classes que o priva. Por isso a criação artística é sempre um ato de protesto contra a realidade, consciente ou inconsciente, ativo ou passivo, otimista ou pessimista.

Toda nova corrente em arte começa pela revolta. A força da sociedade burguesa foi durante longos períodos históricos, mostrar-se capaz de disciplinar e assimilar todo movimento subversivo em arte e leva-lo até o reconhecimento oficial, combinando pressões e exortações. Boicotes e adulações. Mas, tal reconhecimento significava no fim das contas a chegada da agonia. Então, da ala esquerda da escola legalizada ou da base, das fileiras da nova geração da boêmia artística, levantavam-se novas correntes subversivas que, após algum tempo, subiam por sua vez os degraus da academia.

Por tais etapas passaram o classicismo, o romantismo, o realismo, o simbolismo, o expressionismo, o movimento decadente... . Mas o casamento entre arte e burguesia permaneceu, senão feliz, pelo menos estável, somente enquanto durou a ascensão da sociedade burguesa, somente enquanto se mostrou capaz de manter política e moralmente o regime da “ democracia”, não só soltando as rédeas aos artistas, mimando-os de todos os modos possíveis, mas também, dando algumas esmolas ás camadas superiores da classe operária, domesticando os sindicatos e os partidos operários. Todos estes fenômenos devem ser colocados no mesmo plano.

O declínio atual da sociedade burguesa provoca uma exacerbação insuportável das contradições sociais que se traduzem inevitavelmente em contradições individuais, dando origem a uma exigência ainda mais exaltada de uma arte libertadora. Mas o capitalismo decadente já é incapaz de oferecer condições mínimas de desenvolvimento ás correntes artísticas que respondam, por menos que seja, á exigência de nossa época. Há um medo supersticioso de toda novidade, pois, não se trata para ele de corrigir-se e reformar-se, mas é uma questão de vida ou morte. As massas oprimidas vivem sua própria vida e a boêmia é uma base demasiado estreita. Donde o caráter mais ou menos convulsivo das novas correntes, indo sem cessar da esperança ao desespero.

As escolas artísticas das últimas décadas, o cubismo, o futurismo, o dadaísmo, o surrealismo, sucedem-se sem atingir seu pleno desenvolvimento. A arte, elemento mais complexo, mais sensível e ao mesmo tempo mais vulnerável da cultura, é a primeira a sofrer pela decadência e degradação da sociedade burguesa.

É impossível achar uma saída para esse impasse com os meios próprios da arte. Trata-se da crise do conjunto da cultura, dos seus fundamentos econômicos até as mais altas esferas da ideologia. A arte não pode escapar á crise, nem evoluir á parte. Não pode assegurar por si mesma a sua própria salvação. Perecerá inevitavelmente, assim como a arte grega pereceu sob as ruínas da sociedade escravagista, se a sociedade contemporânea não chegar a reconstituir-se. Esta tarefa reveste-se de um caráter totalmente revolucionário. Por isso a função da arte em nossa época define-se por sua relação com a revolução.

Leon Trotski, 1938.

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