sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
REQUEBRA MENINA, REQUEBRA:
Dança que não quebra as couraças é movimento sem tesão. Reich teria
se esbaldado se tivesse a oportunidade de dançar numa roda de samba,
num baile de forró, num chanchado da pesada. O psicanalista
revolucionário seria até capaz de dizer que a libertação sexual passa
pelos estilos de danças brasileiras, que carregam o molejo libertário.
Durante séculos as elites abestalhadas deste país procuraram engessar
o quadril, cortar as pernas para ninguém se lembrar de que os
movimentos da dança recuperam a dignidade e tornam-se mais expressivos
que o pensamento racional. O povo vem resistindo: após o trabalho na
fábrica, na firma, na construção civil, os trabalhadores espantam com
ritmo a exploração. Não que isto seja o suficiente, pois todos sabemos
que a luta é política(é lógico que o Estado capitalista precisa ser
derrubado...), mas de que política estamos falando? Apenas dos
mesmos instrumentos institucionais? Na minha opinião os sindicatos
também deveriam ensinar os trabalhadores a dançar: a consciência
política não pode deixar de também ser corpórea. A diversidade de
ritmos regionais desenha um outro mapa do Brasil, diferente da
geografia clássica com a Europa e os EUA lá no alto, olhando os
latinos lá embaixo. A geografia do corpo brasileiro é dançante!
Rebolar é rebelar-se e não fazer apelação para ganhar grana.
Enquanto o capitalismo adestra os movimentos da dança, o pessoal
da esquerda fica sentado nas cadeiras do baile, sem serem puxados pra
dança, incapazes de seduzir o operário. Quem souber da importância da
dança na luta pela liberdade precisa ter claro que a emancipação do
corpo é inimiga tanto da política púdica de esquerda quanto do
comércio que vende a carne. A situação da dança dentro das
manifestações da cultura popular é diversificada, mas é necessário que
a dança não seja expressão de sexismo, racismo, machismo disfarçado de
liberdade sexual. Música e dança em sua fusão orgânica(tô falando de
batuque do bão!) não tem nada a ver com o rock cheirosinho de hoje,
com frevo em função de turismo, samba pasteurizado na avenida ou
ainda com o luxo e o consumismo perigoso do chamado funk
ostentação(este último fenômeno musical presente em São Paulo traz em
algumas manifestações elementos opressores mais danosos do que a
associação da mulher com cachorra, como já foi feito no contexto
carioca).
Dançar é lutar, é resistir nos diferentes espaços em que a
alegria de viver enfrenta a violência da labuta e as imposições do
Estado. Dancem companheiros! Dancem!
Marta Dinamite
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