segunda-feira, 7 de março de 2016

Boletim Lanterna. Ano 06. Edição 08

A pintura é um gesto criador que acompanha a humanidade desde a aurora das primeiras sociedades. Registrando o cotidiano, revelando o sagrado, transmitindo conhecimentos práticos, criticando os problemas sociais, liberando o inconsciente, a pintura não apenas representa a afirmação do homem sobre a terra mas revela uma chave plástica para agir sobre o real. Do ponto de vista político a pintura é uma intervenção sobre a vida social que não deixou de existir perante o olho mecânico da câmera. Se o retrato ficou lá pra trás, a pintura conseguiu ao longo de décadas se reinventar numa direção que abrange a revolta estética e a crítica social.
 Das primeiras vanguardas pra cá a pintura já foi virada no avesso. Já teve até gente precipitada que falou da " morte da pintura ": para alguns críticos e artistas contemporâneos a arte não caberia nos limites da representação de caráter bidimensional, sendo que a possível superação da pintura estaria na criação de objetos e situações em que o limite entre obra de arte e espectador se embaralha completamente. Sem dúvida que esta proposta ousada foi um dos aspectos criativos mais importantes da revolta contracultural que marcou as décadas de 60 e 70. Inutilizar a pintura(assim como a escultura) já significou uma atitude progressista, mas que não acabou com a necessidade expressiva da própria pintura.
 Haveria caminhos para a pintura hoje? Se o conceito de gênio, que historicamente arrancou lágrimas e suspiros da burguesia, foi por água abaixo a pintura só poderá confirmar a sua relevância social a partir do protesto político. E olha que esta é uma constatação que não brota nos espaços institucionais da arte: nas periferias e nos centros deteriorados das cidades brasileiras, artistas trabalhadores fazem da pintura tanto a representação dos seus valores culturais quanto da crítica social. Na atual crise econômica a pintura pode tornar-se uma expressão política que intervem no espaço público. Coexistindo com outras linguagens artísticas, a pintura ainda pode exercer um papel revolucionário.  

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