A criação estética é um fato e não uma desculpa. A arte existe e não carece de nenhuma justificativa religiosa, política e nem mesmo moral. Sendo assim, por que insistimos aqui na necessária relação entre arte e socialismo? Originalmente existindo enquanto fruto da necessidade de expressão, de afirmação do humano, a arte seria subjugada ao longo da história das civilizações às exigências ideológicas das classes dominantes. Funcionando como tentáculo religioso, propaganda imperial e pilar do rosto dos exploradores, a arte pela sua composição ideológica é um fato que tornou-se forçosamente político, na medida em que foi aparelhada pelas culturas dominantes. Mas se a carga política da arte, a exemplo de todos os outros elementos da superestrutura, foi um terreno fértil para a alienação, é o mesmo caminho político que pode nas atuais circunstâncias históricas libertar a criação artística.
Os defensores da arte " pura " , da arte pela arte e do relativismo pós moderno que isola a esfera artística como um campo que não se relaciona dialeticamente com a totalidade histórica, adotam inevitavelmente uma posição política: dizer que a arte não possui um papel político revolucionário é uma decisão política que nega a participação consciente do artista nas questões fundamentais do seu tempo. Como crianças assustadas diante da possibilidade de terem o seu doce roubado, artistas e intelectuais de classe média defendem com unhas e dentes as formas culturais que sufocam o seu próprio povo.
O bote ideológico da jiboia pode ser nítido ou escamoteado. Pensemos na velha Hollywood dos nossos dias: nos países capitalistas pobres é possível ouvir os aplausos da entrega da estatueta do Oscar que ocorre lá pelas bandas do império. A chamada " academia " faz questão de preservar e exportar os valores da burguesia norte americana. Não importa o gênero do filme, a ideologia imperialista transparece tanto nas lágrimas da protagonista de um drama intenso quanto nos efeitos especiais que embalam o super herói que porta a bandeira dos EUA. Ninguém pode negar que as imagens de Hollywood são uma sólida base de sustentação ideológica do imperialismo. Entretanto são os mesmos artistas e intelectuais colonizados que condenam o cinema revolucionário(acusado de " panfletário ") e ao mesmo tempo possuem na ponta da língua os nomes da enfadonha lista de atores e celebridades hollywoodianas.
O caso do cinema é um exemplo que também pode ser aplicado nos campos da literatura, da música, do teatro, das artes plásticas, etc. Se a necessidade da arte não se reduz ao dado ideológico, nenhum artista que tem os olhos voltados para a realidade pode ignorar a sua responsabilidade política. Ou este artista olha para o tapete vermelho ou olha para os milhares de famintos da terra.
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