domingo, 15 de maio de 2016

Boletim Lanterna. Ano 06. Edição 18

A liberdade em arte é um assunto ultrapassado? Se levarmos em conta que as experiências estéticas presentes na arte moderna e na arte contemporânea viraram no avesso as possibilidades expressivas mediante as transformações técnicas, não existem propriamente entraves na criação (pelo menos no ocidente). O mesmo poderia ser dito em relação à literatura, que ultrapassou as barreiras entre o poema, a prosa e a fala coloquial/popular. Entretanto, apesar destas conquistas históricas feitas com base na ousadia e no consequente escândalo, artistas ainda sofrem repressão. Esta repressão se dá geralmente quando as manifestações artísticas varam os limites institucionais da arte e tornam-se provocação, crítica radical e protesto contra aquilo que é.
 O que fazer com as conquistas estéticas do século passado? Se qualquer objeto existente(como uma lata de sopa ou uma pedra) quando retirados do seu contexto originário torna-se obra de arte, será que tudo e nada podem ser arte? A questão é bem mais complexa do que aparenta ser:  não é a obra em si, o objeto artístico que a exemplo de tudo o que existe pode ser uma mercadoria. O eixo libertário da questão está num tipo de atitude em relação à realidade; uma atitude(irônica, de estranhamento) que se esforça para estabelecer uma relação crítica e em alguns casos de revolta contra o que é estabelecido pelo capitalismo. Seria isto um reducionismo ideológico que não dá conta da complexidade da arte contemporânea? Não, pois uma análise reducionista seria aquele que crê no fato da arte resolver por si mesma a sua crise e o seu sentido no mundo atual. A arte não pode, a custo de se tornar mais um cacareco que nos cerca, deixar de existir fora das preocupações políticas.
   Marx comprovou que o capitalismo é essencialmente hostil à criação artística. Num sistema em que tudo e todos são coisas, são mercadorias, criar é no mínimo um ato de insubordinação, de transgressão. O fato da arte estar subordinada a lei geral da produção mercantil, ameaça a sua existência enquanto trabalho superior ou enquanto esforço interessado em atender as necessidades de expressão/comunicação dos indivíduos. Portanto, o que realmente dá sentido à criação artística do nosso tempo é a revolta, é um desejo de libertação de um modo de produção embasado na alienação e na exploração. Ok, nem todos os artistas precisam ser necessariamente de esquerda: tratar de questões políticas ou posicionar-se no campo filosófico do comunismo, são questões que dependem de formação política, de um entendimento sensível acerca da necessidade de transformar politicamente a realidade. Ninguém é obrigado a fazer isso. Mas como nenhum artista está acima da história, cabe a ele entender o seu trabalho mediante uma realidade concreta, cujo papel da arte é o mesquinho horizonte  da compra e venda.

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