Protestos de artistas, intelectuais e movimentos culturais marcaram a última semana. A tentativa do governo interino de reduzir o Ministério da Cultura a uma secretária subordinada ao Ministério da Educação, gerou um amplo e legitimo descontentamento entre profissionais das áreas teatral, cinematográfica, musical, etc. Ainda que o governo tenha recuado e o Ministério da Cultura tenha sido restabelecido, para nós o problema da cultura no Brasil depende de uma resolução política intimamente ligada a um outro projeto de sociedade. De fato, os recursos que o governo oferece para viabilizar importantes atividades culturais hoje, são direitos dos artistas e produtores de cultura no país. Entretanto, a realização de projetos artísticos e o pleno exercício da criação estarão sempre fadados a ficar, neste modelo de sociedade, no final da fila: a política cultural no sistema capitalista é a raiz do problema.
É fundamental que a produção artística brasileira seja plural, assuma múltiplas formas, temas e expresse um país que definitivamente não é o retrato do gosto e da identidade da burguesia nacional. Mas para que esta diversidade cultural possa definitivamente expressar-se e viver do seu trabalho artístico, se faz necessário que artistas, intelectuais e movimentos culturais indaguem-se cada vez mais sobre o tipo de organização econômica e política que determina no Brasil o espaço que a arte ocupa na produção. Basta adquirir verbas ou incentivos para que o artista siga feliz e realizado num país de famintos? O que um filme ou uma peça teatral realmente tem a dizer sobre um país com 11 milhões de desempregados e com um sistema educacional que ofende/oprime a juventude ? A resolução destes problemas depende mais das ações dos trabalhadores, artistas e estudantes do que dos ministérios da Fazenda e da Educação. Para nós o artista brasileiro, independentemente se suas escolhas estéticas, existe num país em que a obra de arte não pode ser um simples deleite de consumo.
O Estado é responsável por projetos culturais que interessam à sociedade brasileira. Devemos, é claro, pressionar este Estado para que ele ofereça suporte material para a cultura. Mas enquanto antenas que captam uma época, os artistas precisam ir mais longe... Eles precisam fazer uma opção de classe: se estes artistas se colocam ao lado da maioria da população, então a realização do seu trabalho não depende apenas de verbas, mas de uma ação militante que contribua para esclarecer, agitar e ampliar o horizonte da classe trabalhadora. Sob estas circunstancias militantes, o artista assume sua posição histórica de trabalhador da cultura(ainda que ele tenha que muitas vezes passar apertado, fazendo bicos e exercendo outros ofícios, ele cria na marra e em nome de um movimento histórico mais amplo). Sem dúvida que é preciso lutar e exigir de um governo capitalista verbas necessárias para a viabilização concreta de obras e ideias. Mas esta necessária batalha, como aquela da semana passada, precisa ser parte de uma luta maior: é a luta dos artistas que participam do processo político que deve emancipar a classe trabalhadora.
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