domingo, 12 de junho de 2016

Boletim Lanterna. Ano 06. Edição 22

Fruto direto das inquietações políticas de Junho de 2013, a criação de cartazes acentua uma importante perspectiva estética/política nos dias que correm. Se os desdobramentos de 2013 foram em boa parte canalizados pela direita, é dentro das iniciativas da esquerda que encontramos elementos visuais definidores de uma nova arte de combate. Os cartazes em questão, possuem uma tremenda capacidade expressiva que atinge em cheio o espaço público.
 Na cidade de São Paulo, por exemplo, são visíveis cartazes cujo humor e perspicácia política temperam interessantíssimas experiências gráficas. A crítica mordaz envolve a conjugação entre figura e palavra: o governo interino, a grande mídia, o imperialismo norte americano, a intolerância da classe média, são ora parodiados, ora atacados. Nenhum setor reacionário da sociedade contemporânea, parece escapar das críticas visuais de uma produção engajada e ao mesmo tempo desencanada de glorias e paparicos próprios das grandes instituições artísticas.
 Nas artes gráficas praticadas por artistas militantes, não está a ilustração da realidade mas a ilustração que nasce no plano do cartaz para agir politicamente sobre a realidade. O grande barato do cartaz é seu efeito comunicativo direto sobre as massas: a exemplo de um anúncio publicitário ou de uma revista em quadrinhos,o cartaz exprime diretamente situações que são comunicadas na mesma velocidade com que o sinal de trânsito se abre. É uma experiência estética essencialmente urbana, ligada à vida da pólis: é portanto uma avançada forma de participação artística na vida política.
 Estes cartazes capturam o olhar alienado de um transeunte: diferentemente do apelo comercial que impera nas imagens que infestam os grandes centros urbanos da atualidade, o cartaz militante é um convite poético para a reflexão social. É importante que se diga: esta produção militante possui raízes visuais nas criações gráficas do século passado. Como já frisamos anteriormente neste mesmo periódico, artistas e coletivos culturais de esquerda dos nossos dias, inspiram-se esteticamente na produção gráfica do Construtivismo russo, na arte de agitação e propaganda dos revolucionários durante a Guerra civil espanhola(1936-1939) e principalmente no teor libertário dos cartazes do Maio de 68. Não por acaso, este último evento histórico parece ser decisivo enquanto influência:  existe uma notável sensibilidade Pop, própria dos anos 60, nos atuais cartazes. É do solo Pop que nasce a parodia e o tratamento visual dado aos principais impasses políticos do Brasil de 2016. Esperamos que esta produção tenha uma longa duração militante.

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