domingo, 19 de junho de 2016

Boletim Lanterna. Ano 06. Edição 23

Escrever é agir, é interferir sobre a consciência do leitor. Este fato não apenas aproxima a literatura da política, mas exige uma reflexão estética sobre a maneira como o texto literário participa da realidade social. A compreensão de que a literatura não é um exercício inocente, alavancou durante o século passado inúmeros debates entre escritores de esquerda. O escritor não seria aquele recreador do mundo das letras, um mero detalhe na cultura, uma celebridade que atrai em sua órbita paparicos, ovos babados e um mar de mãos que puxam o saco. Enquanto intelectual, o escritor assumia-se muitas vezes como militante político: é a luta pela libertação que estava em jogo. Acreditamos que este papel revolucionário do escritor, precisa ser pensado e debatido hoje; afinal o sistema capitalista continua massacrando a vida da classe trabalhadora.
 Sabemos bem que o imperativo político em literatura pode resultar em verdadeiros desastres. Por mais nobre, por mais necessário que possa ser o assunto político, a literatura não é uma serva da política. A obra literária é por si mesma uma chama política, um fermento verbal, uma experiencia que contribui com a maneira como o leitor compreende o contexto histórico no qual ele está inserido. Ou seja, a tomada de consciência sobre os problemas sociais, é um percurso no qual a literatura traz uma contribuição específica. Não é tanto o poema ou o romance que " despertam " a consciência crítica. Ambos são forças culturais que não podem estar isoladas, mas integradas aos movimentos que lutam pela emancipação do homem numa sociedade atravessada pela exploração e pela alienação.
 A maneira como a literatura participa da vida social, só pode ser pensada a partir da própria obra literária: o estilo, os recursos de linguagem, o temperamento do autor e outros elementos que nutrem a composição do texto, não são detalhes encerrados na técnica literária. Enquanto esforço estético interessado, a literatura abarca o caráter político de acordo com as suas especificidades artísticas. O impacto estético da obra literária conta e muito: ainda que um poema não fale sobre miséria social, a violência verbal e as imagens arrebatadoras do poeta, podem não rimar com a ideologia da classe dominante. Um romancista pode não falar diretamente sobre socialismo, mas sua prosa é capaz de revelar de modo explosivo a tensão máxima da luta de classes.
  Outro aspecto a ser considerado pelos escritores de esquerda, é a necessidade da obra literária estar inserida na realidade cultural do proletariado. Criadas a partir dos meios de produção culturais apropriados pelos trabalhadores(de uma gráfica popular até uma publicação digital em que escritores e militantes agem diretamente sobre), as obras literárias deixam se ser objetos de luxo e passam a ser parte do cotidiano da classe trabalhadora.  É por estas e outras que o escritor é tão necessário quanto o militante político clássico.

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