domingo, 9 de outubro de 2016

Boletim Lanterna. Ano 06. Edição 39

Certamente os artistas e escritores mais corajosos dos nossos dias não se esquivam das questões políticas. Enquanto que muitos condicionam suas necessidades expressivas de acordo com o jogo do relativismo, criando obras que apesar do eventual valor artístico fazem coro com a ordem capitalista, alguns poucos apostam na provocação. Tratando-se das artes visuais, os exemplos mais interessantes encontram-se entre aqueles que pesquisando variados suportes do mundo urbano, questionam os limites entre mercadoria e obra de arte, entre representação e realidade, entre imagem e ação. Na literatura, como já insistimos aqui em outras ocasiões, a bola da vez está entre os escritores das periferias do Brasil: expressões literárias originais, se fazem presentes em saraus populares que contrastam com as crises existenciais do escritor pequeno burguês exilado em seu apartamento.
   Apesar de minoritárias, as formas artísticas que exprimem o inconformismo político, se fazem presentes no mundo de hoje. Muitas destas manifestações artísticas não são revolucionárias. Isto é motivo para a esquerda não leva-las a sério? Não, existem variados caminhos ideológicos para a arte. Um artista não é obrigado a seguir nenhuma voz de comando exterior para realizar sua obra: a arte é fruto de uma necessidade específica, que não pode se sujeitar a um molde ideológico. A contribuição política de uma obra de arte precisa ser encarada a partir da sua vigência estética. Porém, se a arte é inevitavelmente ligada à política, seu caráter revolucionário não é uma questão estilística mas uma necessidade histórica: ao optar pela classe trabalhadora, o artista torna-se um aliado na luta política. Preservando sua relativa autonomia, a arte que pretende cumprir um papel revolucionário, deve ir além da crítica pontual para tornar-se expressão que condena a sociedade de classes.
 Há pelo menos 150 anos, o que existe de realmente relevante na arte e na literatura se caracteriza pelo confronto com a sociedade burguesa. Obras de arte que vivem numa redoma de vidro, isoladas dos problemas do mundo real, cumprem um papel de enfeite da civilização capitalista; e hoje não é diferente. Quando afirmamos que a arte possui um papel revolucionário, não estamos impondo uma norma mas apresentando uma evidência do nosso tempo: se o artista deve ser inteiramente livre para solucionar esteticamente suas inquietações interiores, ao mesmo tempo ele não poderá realmente faze-lo se consentir com os valores do capitalismo. Portanto o caminho que defendemos para a arte é o mesmo caminho político que deve libertar politicamente a classe trabalhadora: o socialismo. Se faz necessário que os artistas e escritores mais ousados dos nossos dias, compreendam a fundo a necessidade da arte ser uma força revolucionária:o desejo de libertar o homem exige que a arte volte-se violentamente, no plano da expressão, contra a realidade capitalista.
 A formação política do artista de esquerda é uma questão da maior urgência. Não se trata de estudar o marxismo para aplicar mecanicamente conceitos filosóficos na representação artística; afinal é exatamente o contrário que o marxismo ensina:  são as representações e intuições que, ao apreenderem o mundo concreto, tornam-se o ponto de partida para o surgimento dos conceitos. Conhecer profundamente o pensamento marxista, livre das deformações stalinistas, é um ganho intelectual para os artistas que não querem enfeitar a realidade, mas sim transforma-la.  

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