Vivemos numa época de fragmentações, de puro e descarado relativismo ideológico. Neste contexto a própria palavra arte é questionada, esvaziada e em muitos casos pretexto para mera recreação. Mas por outro lado, deveríamos sentir saudades da solenidade em torno das obras de arte? Enquanto expressão da divisão social do trabalho, o sentido tradicional da palavra arte carrega historicamente as marcas do elitismo. Mas como já nos referimos na edição 36,Walter Benjamin mostrou que no mundo contemporâneo a obra de arte aproximou-se das massas. Entretanto, este abalo da tradição, da aura das obras de arte, não garante prontamente um longo alcance para a arte revolucionária. Atualmente, artistas e militantes precisam lidar com novos problemas históricos.
Um problema maior ganha vulto: num momento em que todo e qualquer objeto torna-se uma obra de arte( e as pesquisas da arte contemporânea abriram alas para esta conclusão) , qual seria o seu diferencial na realidade política? Quais são os verdadeiros desafios da percepção num mundo povoado por pequenos suportes digitais? Como atingir com uma arte politizada subjetividades isoladas, que vivem experiências virtuais coletivas e ignoram a realidade circundante com seus pequenos aparelhos digitais?
Enquanto que respostas pessimistas implicam em cruzar os braços diante da história, tentativas progressistas procuram atuar concretamente sobre este mundo. Um pressuposto necessário para quem lida com questões artísticas, é entender que a arte envolve um distanciamento da realidade ordinária, do cotidiano alienado: a mentira real da imagem, já é em si um mecanismo de grande força política: a realidade da arte choca-se com o mundo real. Na imagem, na ficção, o desejo revolucionário pode prevalecer diante da sociedade conservadora. Talvez o que esteja em crise não é a possibilidade histórica da arte revolucionária(o que por sua vez pressupõe um projeto político socialista, do qual esta arte é expressão independente) mas as estratégias políticas para que ela tenha um papel relevante. Devemos nos perguntar sempre por que as massas não possuem uma atitude de receptividade diante de pinturas, filmes, romances, poemas, peças de teatro e canções que atacam o sistema estabelecido.
Sabemos que a arte combativa desafia a percepção, retira os sentidos de uma situação confortável; logo as massas educadas no conformismo político da cultura de massa, ficam desconfiadas. Mas será que a arte realiza um milagre político isoladamente? A arte não é uma salvadora, única responsável pela tomada de consciência sobre os conflitos sociais. Ela insere-se num conjunto histórico de agitação política. Se a lógica interna da obra de arte pode exercer um efeito anestésico sobre a consciência, ela também pode invalidar a ordem capitalista. O potencial comunicativo da arte é medido pela luta de classes.
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