A tentativa de fazer do objeto artístico expressão do desejo revolucionário, não é um impulso que nasce e morre nos limites deste mesmo objeto. Ao interferir na consciência que se desenvolve a partir de relações sociais determinadas, o impulso estético visa provocar estragos culturais capazes de abalar o cotidiano. O poema, a peça de teatro, o filme (e por ai vai) não podem ser entendidos como produtos carimbados, cujo efeito/função envolve aquele tempinho de 1 minuto ou 2 horas de duração, para logo em seguida fazer com que as pessoas retomem sua rotina alienada. O volume revolucionário da obra de arte é algo que precisa ser capaz de atingir em cheio a vida, provocando discussões, analises, gerando crises mentais e exigindo um posicionamento de quem toma contato com a obra.
Muita gente subestima o caráter político da arte porque o idealismo ainda come solto neste campo. Nunca se tratou do produto espiritual que transforma por milagre a consciência. A arte é geradora de alterações dos estados mentais, ocasionando não na " boa consciência " mas numa crise nervosa que estimula a desconfiança frente ao modo de vida capitalista: a miséria como consequência do capital, a hipocrisia sexual, o atrofiamento da imaginação, são todos postos a olho nu. Desta maneira, a obra de arte não é mais um objeto que integra-se a um mundo alienado; a obra de arte passa a ser um agente infiltrado na cultura estabelecida, quer dizer, uma atividade livre/criadora dentro da ordem política que procura massacrar a própria existência do trabalho artístico( e boa parte da indústria cultural está aí pra isso, ou seja, para destruir o potencial libertário da arte e sufoca-la como simples mercadoria) .
A dimensão política especifica do objetivo artístico, não é aquela que executa a ordem de um partido político. A arte na sua verdade obedece a um processo independente de criação, que age de diferentes maneiras sobre a consciência. A comunicação revolucionária é portadora de novos signos, de uma nova atitude que incrementa novas relações sociais. Não é passe de mágica, é impacto sensível que atinge a subjetividade. A tomada de consciência sobre a necessidade de uma outra cultura, de uma outra forma de organização econômica e política, passa necessariamente pelo terreno estético.
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