Ao longo de sua história, o pensamento marxista desconsiderou em boa parte os problemas da subjetividade. Minimizando a vida interior, a imaginação, as emoções, muitos pensadores marxistas desconsideraram um terreno que é fundamental para a revolução política. Tirando alguns poucos exemplos (como Walter Benjamin, Trotski e Marcuse) , o grosso do pensamento marxista reduziu os problemas da consciência no campo da consciência de classe. Logicamente que o cerne do problema político passa pela questão da consciência de classe: o que está em jogo para abolir a exploração econômica, é a organização das forças políticas capazes de transformar a realidade material. Porém, o universo subjetivo, de onde a arte extrai suas energias, não é menos importante.
A missão revolucionária da arte não está na mera instrumentalização política. Ao interferir na percepção e consequentemente nas relações sociais, a arte pode ser pensada como trincheira espiritual que luta pela reconquista da sensibilidade. O que aparenta ser uma questão menor diante das relações de produção, é na verdade um espaço necessário para a tomada de consciência sobre as contradições do sistema capitalista. O empobrecimento da linguagem condicionada pelo capital, é um obstáculo para a luta política: se todas as conversas, todos os impulsos, estão aprisionados nas celas do dinheiro, nos calabouços dos interesses comerciais, não é descabido para a esquerda acionar a arte como uma aliada revolucionária que rompe com os jogos mentais do sistema.
O modo de vida capitalista castra os instintos vitais, massacra a personalidade, sufoca outras formas sentir e estar no mundo. As burguesias possuem meios altamente sofisticados para reproduzir artificialmente uma cultura morta: os sentidos humanos vivem assim atolados num horizonte menor, carentes de movimentos espontâneos e de experiências poéticas. Assumindo uma posição em prol do socialismo, os artistas precisam preocupar-se inclusive em tratar, pelos meios da arte, destas questões enraizadas na subjetividade. Buscar o enriquecimento do mundo subjetivo é um sopro de energia que possui resultados políticos. A arte aponta para a possibilidade de uma outra existência social.
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