domingo, 6 de novembro de 2016

Boletim Lanterna. Ano 06. Edição 42

Existem comentários feitos por certos intelectuais que massacram as possibilidades libertadoras da arte.  Relegada à condição de esforço inútil, detalhe cultural ou ainda como assunto ideologicamente irrelevante, a arte em sua substância política é condenada. Aos olhos de reacionários, declarados ou não, a arte pode existir para " distrair ", entreter, mas jamais pode ser encarada seriamente do ponto de vista político.
 Qual seria a real implicação deste tratamento decorativo que a obra de arte recebe na sociedade burguesa? Mesmo que " tolerada " enquanto direito , enquanto atividade reconhecida dentro da liberdade de expressão, a linguagem artística é vista com desconfiança porque não é elaborada a partir do mesmo material que fundamenta o mundo racionalizante. A esfera da estética escancara a possibilidade de uma outra ordem: a realização do humano, uma forma avançada de trabalho que se choca com as estruturas ideológicas que asseguram o trabalho alienado.
 Até mesmo muitas pessoas de esquerda, tendem a menosprezar o potencial político contido na comunicação artística. Isto é uma clara consequência da mentalidade racionalista, que só admite a arte enquanto complemento/ilustração de conceitos filosóficos/científicos. Evidentemente que o conhecimento sensível, a percepção dos objetos por meio dos órgãos sensoriais,  necessita de uma segunda etapa para que os fenômenos sejam compreendidos: a abstração, que encontra seu instrumento na teoria, se faz necessária. Entretanto, não basta ao humano racionalizar, ou melhor dizendo: o ato de racionalizar depende também de aprofundadas experiências sensíveis.
 Se conduzimos a questão para o encontro entre arte e política, então é evidente que a tomada de consciência para transformar as relações sociais num determinado modo de produção, exige que os homens sintam profundamente a necessidade da própria transformação política. Do outro lado do ringue, os representantes da classe dominante sabem muito bem como utilizar o fator estético a serviço dos seus interesses: da estetização política realizada pelo fascismo até a martelação ideológica exercida pela indústria cultural e seus paladinos liberais, a arte é um tentáculo essencial. Por que para muitos da esquerda a arte não seria fundamental? Seria o medo da irracionalidade? Logicamente que o comunismo não utiliza a arte da mesma maneira que fascistas e liberais. Para o comunismo, a arte não manipula, distorce ou estetiza.A criação artística deforma e denuncia a realidade estabelecida para fins de libertação: eis o encontro histórico necessário entre arte e revolução. Para que a imaginação não atrofie no reino do capital, precisamos insistir na força política da arte. Não está claro?

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