Apresentamos A Poeira na beira da estrada, de José Ferroso
" Um sol ardido, daqueles que faz passarinho nunca mais piar, queimava sem dó o asfalto. Um pequeno grupo de trabalhadores aguardava por um caminhão na beira da estrada: tiveram que ir para outra cidade, já que a fábrica fechou. Alguns tinham esperança de conseguir arranjar emprego numa fazenda qualquer. Mas era inútil. O velho Jeremias dizia:
- Larga a mão de ser esperançoso abestalhado. Num tem serviço! As máquina nas fazenda faz melhor que nois tudo junto!
O moço Waldemar, completa as palavras do velho:
- E inda tem mais: máquina num tem filho pequeno, num tem direitos... Quando quebra é só jogá fora.
A viúva Marcelina acrescenta:
- Só que nois também somo jogado fora: nas fabrica, nas fazenda, nas loja, nas cozinha. Coração de rico bate só por dinheiro.
As pessoas ali paradas estavam cansadas: as pernas doíam de tanto esperar. Jeremias descascava uma laranja com seu canivete enferrujado. Duas crianças olhavam assustadas para o cadáver de um cachorro que um carro pegou na pista. E o sol, e o sol... As pessoas sentiam que estavam secando. A poeira da estrada atingia os olhos, entrava pelo nariz, trazia pedrinhas minúsculas para dentro das bocas famintas. Será que esta poeira toda impedirá com que eles consigam olhar para o futuro? Waldemar olha para o céu e torce por uma tempestade. "
José Ferroso
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