domingo, 15 de outubro de 2017

Boletim Lanterna. Ano 07. Edição 82

Em tempos de conservadorismo político as perdas também são culturais. Existe no Brasil um clima de intimidação, uma atmosfera de hostilidade frente às atividades de muitos artistas. Neste contexto o próprio entendimento da arte é prejudicado: poucos se perguntam sobre o sentido da criação, sobre o significado da atividade estética. O pensamento marxista ainda fornece uma sólida explicação que não se propõe a ser um carimbo colocado sobre obras de arte; trata-se na realidade de compreender corretamente uma forma superior de trabalho que podemos designar por arte.
 Como já frisamos aqui em outras edições, a arte é fruto de uma necessidade: a necessidade de expressão/afirmação humana. Tal necessidade desenvolveu-se historicamente a partir do trabalho, ou seja, a capacidade do homem de transformar a natureza de acordo com suas necessidades e interesses. É portanto no processo de humanização da natureza, na criação de objetos humanos/e humanizados, que a dimensão estética coloca-se como uma existência sensual, um estado de liberdade. Porém, com a divisão social do trabalho a arte alienou-se do próprio homem: a arte torna-se um instrumento ideológico nas mãos das classes dominantes em vários momentos da história das civilizações. Especificamente na era capitalista, quando o recurso ideológico da religião perde espaço no condicionamento da obra de arte(o papel preponderante da religião na criação artística, encontra-se em grande parte na Antiguidade e no período medieval) , a arte  modifica seu sentido social. Se por um lado a arte torna-se uma mercadoria, por outro, ela integra-se ao mundo laico: a política é o destino da arte no mundo contemporâneo. O próprio ato de criar e reconhecer-se na arte choca-se com o trabalho do operário na indústria: a arte pode, portanto, agir sobre a consciência do trabalhador e ser um elemento vital na luta contra a alienação.
 Estas evidências históricas( que revelam a necessidade de politização da arte a partir da ótica do proletariado, ou seja, a classe que deve herdar a história da cultura  e devolver o sentido social/coletivo da produção artística) foram explicadas por autores como Walter Benjamin e Mário Pedrosa, quer dizer, autores que se inserem naquilo que de mais avançado a crítica marxista apresentou no campo da Estética. No entanto, quando afirmamos e defendemos que a arte possui um papel político revolucionário hoje, não estamos reduzindo a arte ao tema político mais imediato: a arte, fenômeno que enriquece a sensibilidade e o pensamento, precisa tratar de uma infinidade de temas e assuntos. O que fazemos questão de frisar é que sendo a arte a negação do trabalho alienado, ela precisa colocar-se como aliada dos trabalhadores. Enquanto que a indústria cultural procura integrar a arte ao sistema capitalista(o capitalismo produz a falsa consciência), a esquerda deve fazer da arte uma força dissidente, uma forma de oposição. 

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