Em tempos de conservadorismo político as perdas também são culturais. Existe no Brasil um clima de intimidação, uma atmosfera de hostilidade frente às atividades de muitos artistas. Neste contexto o próprio entendimento da arte é prejudicado: poucos se perguntam sobre o sentido da criação, sobre o significado da atividade estética. O pensamento marxista ainda fornece uma sólida explicação que não se propõe a ser um carimbo colocado sobre obras de arte; trata-se na realidade de compreender corretamente uma forma superior de trabalho que podemos designar por arte.
Como já frisamos aqui em outras edições, a arte é fruto de uma necessidade: a necessidade de expressão/afirmação humana. Tal necessidade desenvolveu-se historicamente a partir do trabalho, ou seja, a capacidade do homem de transformar a natureza de acordo com suas necessidades e interesses. É portanto no processo de humanização da natureza, na criação de objetos humanos/e humanizados, que a dimensão estética coloca-se como uma existência sensual, um estado de liberdade. Porém, com a divisão social do trabalho a arte alienou-se do próprio homem: a arte torna-se um instrumento ideológico nas mãos das classes dominantes em vários momentos da história das civilizações. Especificamente na era capitalista, quando o recurso ideológico da religião perde espaço no condicionamento da obra de arte(o papel preponderante da religião na criação artística, encontra-se em grande parte na Antiguidade e no período medieval) , a arte modifica seu sentido social. Se por um lado a arte torna-se uma mercadoria, por outro, ela integra-se ao mundo laico: a política é o destino da arte no mundo contemporâneo. O próprio ato de criar e reconhecer-se na arte choca-se com o trabalho do operário na indústria: a arte pode, portanto, agir sobre a consciência do trabalhador e ser um elemento vital na luta contra a alienação.
Estas evidências históricas( que revelam a necessidade de politização da arte a partir da ótica do proletariado, ou seja, a classe que deve herdar a história da cultura e devolver o sentido social/coletivo da produção artística) foram explicadas por autores como Walter Benjamin e Mário Pedrosa, quer dizer, autores que se inserem naquilo que de mais avançado a crítica marxista apresentou no campo da Estética. No entanto, quando afirmamos e defendemos que a arte possui um papel político revolucionário hoje, não estamos reduzindo a arte ao tema político mais imediato: a arte, fenômeno que enriquece a sensibilidade e o pensamento, precisa tratar de uma infinidade de temas e assuntos. O que fazemos questão de frisar é que sendo a arte a negação do trabalho alienado, ela precisa colocar-se como aliada dos trabalhadores. Enquanto que a indústria cultural procura integrar a arte ao sistema capitalista(o capitalismo produz a falsa consciência), a esquerda deve fazer da arte uma força dissidente, uma forma de oposição.
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