domingo, 12 de novembro de 2017

Boletim Lanterna. Ano 07. Edição 86

Apresentamos Tempestade subjetiva, de Geraldo Vermelhão.

" A Operária 1 tinha um belíssimo jardim na sua mente. Ela desejava muito que o Operário 2, por quem estava apaixonada, pudesse junto com ela colher rosas com cheiro de sonho e sentir o brilho do sol que acariciava a pele. Este mesmo sol, o Operário 3 tentava a todo custo manter firme na sua cabeça raspada. Mas não era fácil: os 3 trabalhadores não conseguiam impedir com que suas belezas internas fossem afetadas por pontudos cacos de vidro e máquinas mal humoradas, que machucavam as mãos e processavam informações frias. A meta dos números, a fria quantidade do lucro do patrão sobre a qualidade da poesia, levantava uma ameaça real sobre o paraíso interno dos 3 operários.
  No ponto de ônibus, após o expediente, lá estavam os 3 lanchando em pé e olhando para o nada. A Operária 1 tomava um café frio , o Operário 2 comia uma banana nanica e o Operário 3 saboreava um sanduíche recheado unicamente pela sua imaginação.Uma multidão de viciados rodeava a todos no ponto, implorando por moedas. No velho telhado de uma casa abandonada, um gato magro não tinha ânimo para tentar pegar uma pomba gorda. Foi quando os 3 trabalhadores começaram a ficar inquietos com a formação de uma tempestade: nuvens velozes mostravam os dentes enquanto relâmpagos fechavam os punhos pelo céu. Quando eles embarcaram, o céu do lado de fora de suas mentes continuava limpo, calmo e sem nuvens. A tempestade estava dentro deles ".  


                                                                                        Geraldo Vermelhão

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