quinta-feira, 26 de abril de 2012

A BARBÁRIE ESTÉTICA NA INDÚSTRIA CULTURAL


...Em toda obra de arte, seu estilo é uma promessa. Enquanto
conteúdo, por meio do estilo, entra nas formas dominantes da
universalidade, na linguagem musical, pictórica, verbal, deve
reconciliar-se com a idéia da universalidade autêntica. Essa promessa
da obra de arte de fundar a verdade pela inserção da figura nas normas
socialmente transmitidas é ao mesmo tempo necessária e hipócrita. Ela
coloca como absolutas as formas reais do existente, pretendendo
antecipar seu cumprimento por meio dos derivativos estéticos. Nesse
sentido, a pretensão da arte é, de fato, sempre ideologia. Por outro
lado é só no confronto com a tradição depositada no estilo que a arte
pode encontrar uma expressão para o sofrimento. O momento pelo qual a
obra de arte transcende a realidade é, com efeito, inseparável do
estilo, mas não consiste na harmonia realizada, na problemática
unidade de forma e conteúdo, interno e externo, individuo e sociedade,
mas sim nos traços em que aflora a discrepância na falência necessária
da apaixonada tensão para com a identidade. Em vez de se expor a esta
falência, na qual o estilo da grande obra de arte sempre se negou, a
obra mediocre sempre se manteve á semelhança de outras pelo álibi da
identidade. A INDÚSTRIA CULTURAL FINALMENTE ABSOLUTIZA A IMITAÇÃO .
Reduzida a puro estilo, trai o seu segredo: A obediência a hierarquia
social. A barbárie estética realiza hoje a ameaça que pesa sobre as
criações espirituais desde o dia em que foram colecionadas e
neutralizadas como cultura. FALAR DE CULTURA FOI SEMPRE CONTRA A
CULTURA. O denominador " cultura " já contém, virtualmente, a tomada
de posse, o enquadramento, a classificação que a cultura assume no
reino da administração. Só a administração industrializada, radical e
consequente, é plenamente adequada a esse conceito de cultura.
Subordinando do mesmo modo os ramos da produção espiritual com o único
fito de ocupar - desde a saida da fábrica á noite até a sua chegada,
na manhã seguinte, diante do relógio de ponto - os sentidos dos homens
com os sinetes dos processos de trabalho, que eles próprios devem
alimentar durante o dia, a indústria cultural, sarcasticamente,
realiza o conceito de cultura orgânica, que os filósofos da
personalidade opunham á massificação.

Theodor Adorno, 1947.
 

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